A empresa Atlânticoline poderá fazer greve este mês. O sindicato que representa os trabalhadores que dirigem os navios da Atlânticoline apresentou um pré-aviso de greve que vai começar no dia 20 de julho, caso não haja um consenso com a administração da Atlânticoline.
Nesta sequência, o Núcleo Empresarial da Ilha de São Jorge manifestou “profunda preocupação e revolta” face aos potenciais impactos económicos que a greve da Atlânticoline, anunciada no passado dia 2 de julho, poderá causar ao sector turístico dos Açores, nomeadamente na ilha de São Jorge, numa nota de imprensa.
O núcleo explica que a paralisação quase total do transporte marítimo de passageiros comprometerá gravemente a experiência dos nossos visitantes e a sustentabilidade de centenas de empresas locais.
Os empresários dizem que vai haver quatro impactos “previsíveis”, entre os quais a dificuldade de acesso às outras ilhas, o prejuízo na economia local que “ultrapassarão certamente o milhão de euros por semana, os danos em termos de imagem e promoção e os cancelamentos e os reembolsos que “sobrecarregará as agências de viagens e operadores turísticos, criando um ambiente de incerteza e frustração em relação ao destino”.
O Núcleo Empresarial da Ilha de São Jorge reconhece o direito à greve, mas afirma que é “fundamental que tal direito não prejudique centenas de empresários que aguardam a época alta para assegurar a sustentabilidade das suas empresas e a manutenção de postos de trabalho”. E explica ainda que a continuidade desta situação poderá causar “danos irreversíveis que levarão anos a ser superados”.
Os empresários afirmam ainda que “a liberdade de uns termina quando começa a liberdade dos outros” e que é preciso haver equilíbrio entre “liberdade pessoal e responsabilidade social”.
“O sector turístico é vital para a economia dos Açores e para o bem-estar das comunidades locais, com particular destaque para o Triângulo, onde a sazonalidade é um elemento altamente penalizador do crescimento económico. Uma greve desta magnitude é de um nível de irresponsabilidade inqualificável”, avisa o núcleo.
O núcleo aconselha o Governo Regional a ponderar alternativas como a “requisição civil” ou “futuramente, a privatização da empresa”, como se pode ler na nota emitida.
Presidente da Autarquia das Velas
afirma que esta greve em época alta
prejudica a economia local
O Presidente da Câmara Municipal das Velas, da Ilha de São Jorge, Luís Silveira, afirma que esta greve vai prejudicar as pessoas do triângulo e também as pessoas com ligação à Graciosa ou à Terceira, explicando que a “época alta movimenta valores muito consideráveis na economia local”.
“É óbvio que a greve, especialmente nesta altura alta, vai prejudicar muito as pessoas do triângulo e também às pessoas com ligação à Graciosa e à Terceira. Nessa altura, além do número elevado de turistas, há os festivais de Verão. Este fim-de-semana foi em Velas, no próximo será na Calheta (São Jorge), depois na Madalena (Pico), de seguida o São Roque do Pico e depois a Horta (Faial). Portanto, há aqui os festivais de Verão que movimentam muitas pessoas no triângulo e também as marchas na ilha da Terceira e da Graciosa. Há uma parte cultural que depois bate na parte económica, acabando por prejudicar os festivais de Verão, que são um complemento de animação turística no Verão. Em época alta, movimentam valores muito consideráveis na economia local de cada um dos concelhos. Como é óbvio, a greve afecta muito cada um dos concelhos, nomeadamente estes seis concelhos do Pico, Faial e São Jorge”, afirma o presidente da Câmara Municipal das Velas
Luís Silveira explica que a não realização destas viagens vai causar prejuízos imediatos e que vão prejudicar a imagem dos Açores: “Há muitos grupos que têm marcações feitas. Há muitos grupos que estão em São Jorge e que vão passar o dia no Pico ou no Faial ou vice-versa. É óbvio que não são só prejuízos imediatos, mas também vão prejudicar a imagem dos Açores. Quem vem, tem férias marcadas e com viagens interilhas durante as férias, caso eles não tenham essas viagens, vão ficar com má imagem dos Açores, além do constrangimento que cria aos turistas. Isto é péssimo. Obviamente, eles têm essa noção. E por terem essa noção, fazem as greves nesta altura para usarem isso como arma de arremesso e meter pressão na administração da Atlânticoline em relação àquilo que eles pretendem”.
O Presidente da Câmara Municipal das Velas acredita que “não se deve brincar com a economia de uma região” e que não se pode negociar, ficar tudo bem e voltar a pedir e pressionar para haver novas negociações”.
“Nós achamos, e eu particularmente, que não se pode estar a brincar com a economia de uma região, em particular com estas ilhas e estes concelhos, que sentem a falta e acontece ano após ano. Não se pode num ano negociar, ficar tudo bem e depois, passado alguns meses, voltam a negociar e a pressionar na época alta. Não é sustentável. E é péssimo para nós”, afirma.
Luís Silveira explica que respeita o direito à greve e não está contra a realização de greves, no entanto, acredita que não pode acontecer “propositadamente” .
“Caso a greve acabe por avançar, não vejo com bons olhos. Primeiramente, eu respeito o direito à greve e também não sou contra. Agora, não sou a favor de haver greves todos os anos e serem provocadas em épocas altas propositadamente, em que afecta muito a economia destes concelhos e destas ilhas. É preciso ter alguma consciência disso mesmo e haver um equilíbrio entre a empresa, os seus colaboradores, os sindicatos representativos e perceberem que não pode continuar da forma como está. É necessário haver uma solução, que não se percebe qual é porque cada vez que se negoceia e fica tudo bem, pretendem voltar a iniciar novas negociações na época alta”, realça.
O Presidente da Câmara Municipal das Velas afirma ainda que o “turismo não está à espera de saber se vai haver uma greve ou não” e que o “anúncio de pré-aviso de greve claramente prejudica”, exemplificando o caso.
“Se eu for um operador turístico que tem um grupo de turistas para fazer uma ligação entre, por exemplo, Pico e Faial, e se está na iminência de não haver essa viagem por causa do pré-aviso de greve, não vou sujeitar os meus clientes a isso mesmo. Se chegar ao dia e não acontecer, como vai ser? No fundo, estaria a vender um produto que vai acabar por não acontecer e que iria complicar a estadia ao turista. É óbvio que a não realização dessa viagem prejudica a economia local desse concelho que seria visitado, nomeadamente a restauração, os guias turísticos, os operadores dos autocarros, entre outros”, concluiu o Luís Silveira.
O Correio dos Açores tentou ouviu as posições dos autarcas da Madalena do Pico e da Horta, mas até ao fecho desta edição nos nos foi possível.
Filipe Torres