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Flagelo da toxicodependência, falta de habitação e o agravamento da pobreza são as maiores dificuldades que afligem as famílias da Ribeira Seca

José Manuel Aguiar, Presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca desde as eleições autárquicas de 2021, afirma, nesta entrevista, que o aumento do crédito à habitação e da inflação vieram trazer um maior empobrecimento das famílias. Refere que os pedidos de apoio à junta de freguesia têm vindo a aumentar e não apenas por parte de famílias carenciadas, mas também de famílias em que os rendimentos do trabalho não cobrem as despesas. O autarca aponta, ainda, a toxicodependência, a falta de habitação e o agravamento da pobreza como as maiores dificuldades que afligem as famílias da freguesia.

Correio dos Açores – Que retrato faz da freguesia da Ribeira Seca?
José Manuel Aguiar (Presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca) – A Ribeira Seca é uma freguesia citadina do concelho da Ribeira Grande, com tradições seculares, caracterizada por uma população jovem e dinâmica que se orgulha em promover os seus valores nos diversos domínios da cultura. O vasto património natural, cultural e arquitectónico, assim como a praia de Santa Bárbara que, envolvida por beleza natural, é muito apreciada por todos os que a visitam para a prática de desportos náuticos como o surf e o bodyboard. A Ribeira Seca é uma freguesia com história virada para o futuro. Segundo os dados dos últimos censos de 2021, a Ribeira Seca tem 2777 habitantes, 2620 dos quais eleitores.

Quais são as principais dificuldades que a freguesia enfrenta actualmente?
Os problemas são transversais a outras freguesias. O flagelo da toxicodependência, a falta de habitação e o agravamento da pobreza são, sem dúvida, as maiores dificuldades que afligem as famílias.

Em sua opinião, o que se poderia fazer para solucionar estes problemas?
Em relação à toxicodependência, deviam criar-se diversas actividades ao nível da prevenção, tratamento e inserção na sociedade dos indivíduos sinalizados pelas instituições.
Na habitação, a Ribeira Seca só pode expandir-se para a parte sul e poente. Os terrenos só poderão ser utilizados depois da Câmara Municipal da Ribeira Grande actualizar o PDM (Plano Director Municipal). Acredito que esta seja uma solução para a construção de habitações para as famílias.

Qual a dimensão da carência de habitação na freguesia da Ribeira Seca? Há uma fuga de jovens da freguesia? E a emigração tem aumentado?
A procura da habitação na freguesia aumentou muito significativamente. Os proprietários das habitações que costumavam arrendar deixaram de o fazer para outros fins, fazendo com que as famílias ficassem sem alternativas para adquirir habitação própria. Em relação à fuga de jovens da freguesia, sem dúvida que cada vez mais têm saído para terem uma vida estável e com melhores condições, razão esta que provoca o incremento da emigração.

O número de toxicodependentes e o tráfico de estupefacientes têm vindo a aumentar na freguesia? Que impacto está a ter o consumo de droga na sociedade local?
Há um crescimento bastante grande. Tenho a impressão de que, na altura da pandemia, o problema ficou disfarçado, porque as pessoas estavam em casa e não davam nas vistas, mas, desde que passamos a fazer a vida normal, os consumidores não têm vergonha em consumir, e até mesmo traficar, em qualquer local, seja ao lado da escola, numa esquina qualquer, ou ao lado da igreja. Tenho tido reuniões e falado com o subcomissário da Ribeira Grande, que tem sido incansável, com o intuito de solucionar o problema, mas não é fácil lidar com esta situação.

Qual a dimensão da pobreza na freguesia? O que tem feito a junta de freguesia a este nível?
O aumento do crédito à habitação e da inflação vieram trazer um maior empobrecimento das famílias. Temos, cada vez mais, um maior número de pedidos de ajuda. Neste caso, não me refiro apenas de famílias carenciadas, mas também de famílias em que os rendimentos do trabalho não cobrem as despesas.
A junta de freguesia tem reencaminhado as pessoas para as entidades competentes, e também para a Câmara Municipal da Ribeira Grande, para obtenção de apoio social.

Qual é a abordagem da junta de freguesia ao desenvolvimento do turismo? E qual o seu impacto socioeconómico na freguesia?
Apesar de, historicamente, o turismo não ter sido um sector central na economia local, apresenta-se como um novo paradigma de afirmação, que perspectiva o aproveitamento do potencial existente, a coesão territorial, a dinamização da actividade económica local, a criação de emprego e o estímulo da iniciativa privada e do empreendedorismo. Como produtos estratégicos, destacam-se o turismo de natureza, o turismo de saúde e bem-estar e o turismo náutico. Complementarmente, são de referir o turismo gastronómico, o turismo desportivo, o sol e o mar. A praia de Santa Bárbara assume-se, cada vez mais, como um ponto turístico de excelência, com excelentes ondas para a prática de desportos náuticos, nomeadamente surf e o bodyboard, o que faz desta praia um local de eleição para banhistas e amantes dos desportos do mar. O investimento privado também tem privilegiado esta zona. Exemplo disto é a nova unidade hoteleira de quatro estrelas na zona do morro, composta por catorze vilas, de tipologia diversa e num total de setenta camas e potenciou a criação de vinte postos de trabalho. Na mesma zona, será construído um novo hotel resort com capacidade para 260 camas em 70 bungalows, num investimento no valor de cerca de 11 milhões de euros em frente à praia de Santa Bárbara. A dinâmica do turismo na freguesia da Ribeira Seca tem, ainda, potenciado o surgimento de diversos alojamentos locais, o que tem permitido a fixação de turistas nesta freguesia.

De que forma a freguesia está a preservar o seu património cultural e a promover actividades culturais locais?
A nível do seu património cultural edificado, destacamos a igreja Paroquial de São Pedro que remonta ao século XVI, no entanto o actual edifício é dos séculos XVIII-XIX. Este templo conserva no seu interior uma valiosa imagem quinhentista do seu orago e está ligado à tradição das “cavalhadas” de São Pedro.
Para além desta igreja, existem as ermidas de Nossa Senhora da Quietação, do século XVII, de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que remonta ao século XVII, de Nossa Senhora da Mãe de Deus, do século XV, e do Senhor da Paciência do século XVIII. O Solar da Mafoma data do século XVIII, constituindo uma belíssima casa senhorial com ampla fachada. Este solar alberga nos seus anexos uma antiga fábrica de chá, hoje museu. É do pátio deste solar que saem, a 29 de Junho, os participantes nas “cavalhadas” de São Pedro. Outro monumento de interesse é o Fontanário do largo de São Pedro, uma construção do século XVI, vestígio da antiga povoação destruída pela erupção vulcânica de 1563. Esta obra em estilo renascentista é coroada por uma cornija com dois pináculos e apresenta uma carranca por onde jorrava a água.
Nas actividades culturais, a junta tem apoiado as colectividades cívicas e religiosas, bem como as forças vivas da freguesia, designadamente escoteiros, clube Atlético desportivo de São Pedro, Associação Cultural e Recreativa Alvorada de São Pedro e as quatro marchas na promoção e desenvolvimento das suas actividades. Além disso, procuramos apoiar os jovens na prática desportiva e de lazer, organizando actividades culturais, assinalando as celebrações relevantes e envolvendo a comunidade da freguesia.

Qual é a maior manifestação cultural da freguesia?
Sem dúvida nenhuma, as cavalhadas de São Pedro. Anualmente, no dia de São Pedro, 29 de Junho, que coincide com o aniversário da cidade da Ribeira Grande, saem do Solar da Mafoma as cavalhadas de São Pedro, compostas por coloridos cavaleiros em desfile. De seguida, estas seguem em embaixada para a igreja paroquial de São Pedro, onde à porta o rei declama loas de homenagem ao santo, dando depois com os cavaleiros sete voltas ao templo, simbólicas de outros tantos dons do Espírito Santo. Dali, vão ao centro da Ribeira Grande, junto à antiga igreja da Misericórdia, cujo orago é o Espírito Santo, dando três voltas ao largo fronteiro em honra da Santíssima Trindade. A partir dos anos sessenta, por iniciativa do então Rei, as cavalhadas também passaram a visitar a Câmara Municipal, onde outras loas são dedicadas ao Presidente da edilidade, por vezes expressando algum descontentamento ou reclamação popular. Depois, o cortejo continua pelas ruas da Ribeira Grande, terminando de novo junto à Mafoma.

Quais são as principais prioridades de desenvolvimento até ao final do mandato?
A ampliação do cemitério é uma obra muito importante para a freguesia, uma vez que o cemitério actual atingiu a sua capacidade máxima. A Câmara Municipal da Ribeira Grande vai começar a obra ainda este ano. Além disso, está em curso a construção de um armazém para dar apoio em termos logísticos e, ainda, um parque de estacionamento na rua do Mourato.
Carlota Pimentel

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