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Embaixador de Israel de visita a Ponta Delgada defende contínuo estreitar de relações com os Açores

Pela terceira vez nos Açores, em visita oficial , o embaixador de Israel, Dor Shapira, veio à Região desta vez para, em audiência, despedir-se das autoridades oficiais, uma vez que vai deixar o cargo em breve. A primeira visita foi à sinagoga Sahar Hassamai, ontem, tendo sido recebido por José de Mello, ao que se segue o presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, o Presidente do Governo Regional dos Açores e o Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Em entrevista ao nosso jornal, Dor Shapira elogia as nossas ilhas e assume que é importante manter, e até mesmo intensificar, a cooperação entre os Açores e Israel, esperando que o voo comercial entre os dois territórios avance o mais rapidamente possível.

Correio dos Açores – A sinagoga Sahar Hassamain é um edifício importante para a história da comunidade judaica nos Açores. Qual é a sua opinião?
Dor Shapira (Embaixador de Israel em Portugal) – Em primeiro lugar, considero que a sinagoga é um lugar único, do ponto de vista histórico de um modo geral, como da história da comunidade judaica de Portugal e dos Açores. Essas duas perspectivas estão combinadas neste edifício. Acredito que esta também é uma das razões que leva tantos turistas dos EUA, de Israel, e de todo o mundo, a visitar a sinagoga. Neste sentido, acredito que devo agradecer ao Dr. José de Mello e ao Governo Regional dos Açores por cuidarem tão bem deste edifício e por garantirem que continua a funcionar para contar a história da comunidade judaica.

E do ponto de vista humano, o que sente ao entrar na sinagoga?
É muito emotivo. O povo judeu tem muitas histórias, algumas boas, outras más. Se olharmos para a história dos últimos três mil anos, vemos muitos impérios que desapareceram, mas a comunidade judaica permaneceu. Fomos capazes de superar a Inquisição. Fomos capazes de superar a expulsão de Israel. Fomos capazes de superar o Holocausto. Vir a este lugar que conta a história da comunidade judaica — que foi muito grande e hoje nada resta dela aqui, em Ponta Delgada — para mim, como embaixador do Estado judeu, é muito emotivo. É um lugar muito bonito para se visitar e estou verdadeiramente feliz por estar aqui.

A sinagoga promove muitos estudos e intercâmbios com estudantes locais e internacionais. Qual a importância de dar a conhecer a história do judaísmo actualmente?
Acho que isso é o mais importante. Vimos, nos últimos anos, o aumento do anti-semitismo em todo o mundo. Mesmo antes de 7 de Outubro, quando começou a guerra em Israel, vimos um aumento do anti-semitismo, principalmente na Europa, inclusive em Portugal. Portanto, trazer estudantes para este lugar e falar-lhes sobre o judaísmo é muito importante. E não é só sobre o judaísmo, é sobre todas as religiões. Devemos ter mais tolerância e paciência para aprender sobre outras religiões, falar sobre elas e aceitá-las. E se as escolas que visitarem a sinagoga conseguirem tocar a mente de um só estudante, este lugar fez o que deveria fazer. Em especial numa altura em que vemos o anti-semitismo a crescer, é muito importante que tragam cá estudantes e, por isso, agradeço.

Qual é a sua perspectiva sobre a região?
Acho que é um dos lugares mais bonitos do mundo e vocês têm muita sorte por viver num lugar assim. Também acredito que tem muito potencial e é por isso que para mim é importante vir aqui e perceber como podemos trabalhar juntos.
Entendo que Israel tem algo a trazer para a mesa quando trabalhamos com os Açores, mas também temos algo a receber. Portanto, penso que será bom trabalhar em cooperação nas questões da economia, da tecnologia e na economia azul, uma área que está muito desenvolvida na Universidade dos Açores. E, claro, temos o aeroporto das Lajes, na ilha Terceira, que também é muito importante para nós.

Em que medida essa cooperação podia ser intensificada nas relações bi-laterais entre Israel e os Açores?
Acredito que temos três elementos fundamentais. O primeiro é precisamente o facto de estarmos aqui (na Sinagoga Sahar Hassamain), pois é importante revitalizar e falar sobre tradição e a história judaica que teve lugar nas ilhas açorianas.
A segunda questão é sobre a cooperação conjunta, tanto no presente como no futuro, sobre aquilo que podemos fazer juntos. Importa realçar que do lado de Israel somos muito bons em tecnologia de água, tecnologia cibernética e tecnologia médica. Já a Região dos Açores é muito desenvolvida na tecnologia azul, um campo onde têm feito muitos progressos. Assim sendo, acredito que devemos trazer o sector empresarial e o sector académico, de ambos os lados, e ver o que conseguimos fazer para começar a trabalhar em conjunto.
E a última questão, como mencionei antes, é o aeroporto na ilha Terceira, que também faz parte do nosso treino da Força Aérea juntamente com os EUA. Também foi parte da nossa história quando, em 1973, os aviões Galaxy – que recebemos da América durante a Guerra do Yom Kippur – aterraram aqui. Este foi o único lugar na Europa que permitiu que esses aviões aterrassem antes de irem para Israel. Assim sendo, há uma ligação muito forte, poder-se-ia chamar laços de sangue, entre as ilhas dos Açores e o Estado de Israel.

Que retrato faz hoje do que se vive em Israel?
O dia 7 de Outubro colocou-nos numa situação em que nunca estivemos antes. Num só dia, tivemos o maior número de judeus mortos desde o Holocausto: 1.300 israelitas foram mortos num ataque terrorista durante o festival de música e nas suas casas. Foi um crime terrorista contra Israel que nunca experimentámos antes. E é por isso que fomos para esta guerra contra esta organização terrorista, contra o Hamas, para devolver a segurança ao povo de Israel.
Não se trata de um lugar longe das nossas casas, isto aconteceu dentro das nossas fronteiras, dentro das nossas casas. Esta guerra, como dissemos desde o primeiro dia, não é contra o povo palestiniano, mas contra uma organização terrorista que controla a Faixa de Gaza e precisamos de garantir que ela não esteja lá, para que os palestinianos sejam capazes de se governar com um governo que pense nos palestinianos e que possam viver lado a lado com os israelitas. É isso que procuramos. Este é o primeiro objectivo da guerra.
Como se sabe, 250 pessoas foram feitas reféns, civis foram feitos reféns — homens, mulheres, crianças e idosos — no festival de música e nas suas casas. Alguns foram libertados durante a operação militar e outros foram libertados durante um acordo, mas ainda temos 120 reféns. Este é um símbolo dos reféns [o embaixador apontou para o pin com um laço amarelo, que tem sido usado como símbolo dos reféns que ainda não foram libertados]. Temos que fazer tudo o que pudermos para libertá-los. Até que eles voltem para as suas casas, esta guerra não terá fim.

O que pode a comunidade internacional fazer?
Qualquer pressão que se possa ter sobre o Hamas para libertar essas pessoas é importante. Isto é, a coisa mais importante que pode ser feita pela comunidade internacional – por todos aqueles que acreditam na liberdade, democracia, liberdade de expressão, liberdade de vida -, é colocar toda a pressão para exigir a libertação dos reféns.

Portanto, é um momento difícil…
É um momento muito difícil para nós em Israel. Temos de fazer tudo o que pudermos para vencer esta guerra, não só por nós, mas pelo mundo democrático e livre. É uma guerra contra terroristas e contra o terror e se não a vencermos, o mundo sofrerá muito mais; por isso, não temos outra opção. Tenho a certeza que vamos vencer esta guerra e faremos o que for necessário para trazer de volta a segurança ao povo de Israel, para trazer de volta os reféns. Temos também a esperança de que poderemos sentar-nos com os palestinianos para resolver o nosso conflito.
Dizendo tudo isto, para nós, israelitas, queremos também trazer de volta a normalidade ao nosso país. Israel é um país muito vibrante e que está sempre a falar sobre inovação, sobre futuro, sobre tecnologia e sobre desenvolvimento. Queremos voltar a esse ritmo, mas é muito difícil fazê-lo quando o nosso coração ainda está a lutar. Estamos a fazer tudo o que podemos para trazer de volta o nosso povo para casa.

Termina em breve o seu mandato como Embaixador de Israel em Portugal. Com que imagem fica do nosso país?
Portugal é um grande país com muito potencial e oportunidades. Penso que Israel e Portugal são muito parecidos. Embora o território português seja maior, ambos os países têm cerca de 10 milhões de habitantes, sendo de destacar que o clima e a própria natureza das pessoas são muito semelhantes. Portanto, há muito potencial para que estas relações continuem a crescer e para que trabalhemos em conjunto. E é exactamente isso que estamos a tentar fazer através da embaixada. Vemos, por exemplo, muito movimento de israelitas em Portugal para visitar e explorar, e também vemos muitos portugueses a irem a Israel. Antes da guerra, tínhamos 18 voos directos semanais entre Portugal e Israel – é algo incrível e espero sinceramente que em breve possamos retomar. Havia também planos para um voo directo de Telavive para os Açores e espero que isso aconteça em breve, porque há muito interesse da parte israelita em trabalhar com Portugal e vice-versa.
Portanto, penso que estamos exactamente na direcção certa e faremos tudo o que pudermos para fomentar ainda mais esta relação, o que será bom para ambos os países, uma vez que partilhamos os mesmos valores e acreditamos nas mesmas coisas.

Daniela Canha

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