Joana Ernesto, 33 anos, encontra-se a cumprir o primeiro mandato como presidente da Junta de Freguesia dos Remédios da Bretanha, tendo sido eleita em Setembro de 2021. Nesta entrevista, a autarca aponta como principais dificuldades o estado em que se encontra a rua da Covilhã, devido à derrocada ocorrida em Dezembro do ano passado – cujas obras vão decorrer em breve, segundo anunciado pela autarquia de Ponta Delgada –, e a saída de jovens da freguesia como consequência da carência habitacional, o que leva a uma população envelhecida. Joana Ernesto opina, ainda, que “a Câmara Municipal de Ponta Delgada deveria investir mais nas freguesias mais distantes. Nelas habitam pessoas iguais às que vivem na periferia de Ponta Delgada.”
Correio dos Açores – Que retrato faz da freguesia dos Remédios da Bretanha?
Joana Ernesto (Presidente da Junta de Freguesia dos Remédios da Bretanha) – Os Remédios são uma freguesia a cerca de 25 quilómetros de distância de Ponta Delgada, que oferece natureza, ar puro, vistas maravilhosas, paz e segurança a quem cá vive. É uma freguesia com poucos habitantes, mas com uma filarmónica, um grupo de escuteiros, um clube desportivo e um grupo de idosos ainda activos.
Os Remédios mantêm as tradições. As romarias, as festas do Divino Espírito Santo e as festas da igreja não ficam esquecidas nesta pequena grande freguesia. Em suma, é uma freguesia com muito potencial, mas necessita de ajuda. É necessário investir nos Remédios, conservar as infra-estruturas existentes e valorizar o que a freguesia oferece.
Quais são as principais dificuldades que a freguesia enfrenta actualmente?
De momento, a principal dificuldade é a rua da Covilhã que está a limitar a vida das pessoas. No entanto, é também uma preocupação o facto de termos uma população cada vez mais envelhecida, como consequência da saída de muitos jovens casais da freguesia.
Cada vez são mais os jovens que saem da freguesia por falta de habitações e pela distância a que esta se encontra de Ponta Delgada. Penso que um bairro de casas iria fixar muitos jovens da freguesia e trazer alguns de outras freguesias. Um centro intergeracional (creche, ATL e centro de dia) também era uma mais-valia para os Remédios e para as freguesias vizinhas.
A freguesia continua à espera de uma solução para a rua da Covilhã após a derrocada ocorrida em Dezembro de 2023. Já há alguma decisão quanto à conclusão da obra?
A Rua da Covilhã neste momento encontra-se intransitável. No dia 15 de Dezembro foram colocadas as primeiras cancelas, pois a rua estava a oferecer perigo. Pouco depois, eis a primeira derrocada. O que inicialmente era só um passeio, hoje já é uma rua completa. Temos seis moradias isoladas na restante zona.
É um transtorno imenso para quem vive na freguesia e em especial na zona da Covilhã. Ficámos sem transporte escolar e transportes públicos pelo interior da freguesia, entre muitas outras coisas.
Foram dadas sugestões e foram feitos diversos alertas e pedidos de ajuda urgentes à Câmara Municipal de Ponta Delgada, no entanto ainda nos encontramos com a rua por reabilitar.
Neste momento, as águas já foram encaminhadas e, segundo o ofício de 3 de Julho, o projecto está a ser reavaliado, o que me leva a pensar que esta não será uma obra para este ano.
Nós vamos fazendo todas as obras de pequena dimensão, como foi a requalificação do cemitério da freguesia, mas infelizmente estamos com cada vez menos funcionários. Os programas fazem muita falta.
Sente-se satisfeita com os apoios que têm sido dados pela Câmara de Ponta Delgada à freguesia?
Não posso dizer que estou satisfeita quando tenho uma zona da freguesia dividida ao meio há mais de seis meses e um parque de estacionamento prometido há quase dois anos. A Câmara Municipal de Ponta Delgada deveria investir mais nas freguesias mais distantes. Nelas habitam pessoas iguais às que vivem na periferia de Ponta Delgada.
Neste momento, temos várias ruas da freguesia a necessitar de manutenção por parte da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Aguardamos também o parque de estacionamento da escola primária, prometido pela autarquia pontadelgadense durante a visita à freguesia, e o parque infantil com zona de churrascos que foi aprovado no orçamento participativo de 2023.
Também aguardo uma intervenção por parte da Norte Crescente no antigo posto de leite da freguesia.
Qual a dimensão da pobreza na freguesia? O que tem feito a junta de freguesia a este nível?
Todos nós estamos mais pobres. Os aumentos que estamos a sofrer nos últimos anos, principalmente no valor das prestações de casa, deixam todas as famílias mais pobres. Apoiamos com 250 euros todas as famílias que nos solicitam material para a conservação das suas moradias e quando estas requerem uma intervenção maior, encaminhamos para a Secretaria da Habitação, dando apoio na elaboração da candidatura.
Além disso, anualmente, a junta de freguesia dá um apoio financeiro a todas as entidades da freguesia e com regularidade satisfaz os pedidos feitos por estas entidades. De forma a incentivar a natalidade e os estudos, a junta de freguesia dá um apoio financeiro a todos os bebés que nascem na freguesia e a todos os jovens que ingressam pela primeira vez no ensino superior. Quando podemos, ajudamos as famílias da freguesia sempre que solicitado.
O tráfico e o número de pessoas dependentes têm vindo a aumentar na freguesia, ou não?
A toxicodependência é um assunto um pouco sensível. Todavia, posso afirmar que o número de toxicodependentes se mantém e que esta não é uma freguesia muito problemática a este nível.
Como tem sido a sua experiência no executivo da junta de freguesia dos Remédios?
Eu já fazia parte da assembleia do executivo anterior, mas pertencer ao executivo é completamente diferente. Eu era daquelas pessoas que criticava e dizia que a junta não fazia nada. Hoje penso de outra forma.
Quando me candidatei, estava cheia de força e queria fazer isto e aquilo; queria que a minha freguesia tivesse condições para ter talvez três vezes o número de habitantes que tem actualmente. No fundo, queria que a minha freguesia fosse procurada pelo turismo e estivesse mais desenvolvida.
Hoje, após três anos, vejo que sozinha não consigo fazer nada. Percebi que são necessários 12 anos para o que queria fazer em quatro. Para tudo há burocracia; até para cortar árvores é necessário obter licenças.
Consegui requalificar o cemitério da freguesia, o que me deixou orgulhosa, e fizemos umas obras no centro de saúde, projecto que já vinha com o executivo anterior. Espero conseguir ainda o parque infantil e o parque de estacionamento da escola, visto que já devia estar feito até.
Qual é a abordagem da junta de freguesia ao desenvolvimento do turismo e qual o seu impacto socioeconómico na freguesia?
A freguesia dos Remédios não é de momento uma freguesia muito frequentada pelo turista, a não ser mesmo de passagem. Temos vistas maravilhosas, mas faltam-nos muitas outras coisas.
Anualmente, organizamos o festival do inhame, que já tem alguma dimensão, no entanto, este ano, devido a eleições, tivemos que cancelar e ainda estamos a tentar encaixar no calendário.
A freguesia tem potencial para se desenvolver mais?
Os Remédios são uma freguesia com muito potencial na área da agricultura e do turismo rural. Tenho a certeza que algum investimento traria bom retorno à freguesia.
Carlota Pimentel