A Quinta Única, localizada em Rabo de Peixe, dedica-se à organização de eventos privados e à produção de citrinos, flores e vinho. Em Junho de 2023, este espaço recebeu o seu primeiro grande evento, o casamento dos proprietários Adam e Zipporah Travis. Nesta entrevista, o casal de americanos explica que foi durante uma missão no Afeganistão que Adam, comandante no exército Estados Unidos da América, ouviu falar dos Açores pela primeira vez, até que em 2022 realizaram, por fim, o sonho de conhecer a região. Uma semana depois de chegar aos EUA, colocaram a casa à venda e mudaram-se para São Miguel, onde a agricultura biológica e a relação com os locais são peças chave para Adam e Zipporah.
Correio dos Açores – Podem partilhar um pouco sobre o vosso percurso e o que o trouxe aos Açores?
Adam e Zipporah Travis (co-fundadores da Quinta Única) – O Adam é Capitão nas Forças Armadas dos EUA. Durante uma missão no Afeganistão, ele no ginásio onde havia uma televisão a mostrar a meteorologia, com as temperaturas em várias bases militares americanas espalhadas pelo mundo; uma destas bases era um pequeno ponto no meio do Atlântico chamado Base das Lajes, na Ilha Terceira. Depois de pesquisar sobre este lugar, durante anos o Adam teve o sonho de visitar e conhecer este paraíso. Finalmente, em Maio de 2022 viemos de férias e disto resultou que na semana em que voltámos aos EUA pusemos a nossa casa à venda pois sabíamos que tínhamos encontrado a nossa verdadeira casa em São Miguel. A ligação que sentimos a este lugar e aquilo que o nosso coração sentiu não é algo que se possa descrever com palavras.
O que vos inspirou a começar a Quinta Única?
Acho que nenhum de nós esperava que a vida nos trouxesse até aqui, mas quando encontrámos a Quinta Única tudo o resto começou a ganhar forma. Na altura em que nos mudamos para a ilha, estávamos a planear o nosso casamento e ouvimos muitas vezes que faltam opções de locais para eventos na região. Então, decidimos que teria mais significado casar no nosso próprio espaço, mas tivemos muitas dificuldades com o planeamento e muitas pessoas não acreditaram em nós. Somos muito gratos àqueles que nos apoiaram e ajudaram a tornar os nossos sonhos realidade. Fazer o mesmo pelos outros tornou-se o o nosso objectivo.
Como tem sido a experiência de viver nos Açores?
Adoramos os Açores, a comida é incrível, as pessoas são maravilhosas e a beleza natural é incomparável. Sentimo-nos abençoados por viver num lugar tão bonito e estamos a adorar cada momento.
Quais têm sido os maiores desafios que enfrentaram até agora?
Sem dúvida que o ritmo da burocracia; aqui tudo leva tempo.
Pode falar-nos sobre os produtos que cultivam na vossa quinta?
Actualmente, produzimos vários tipos de citrinos (laranja, tangerina, limão galego, etc.) nos nossos pomares. Também produzimos flores de corte para vender no mercado e utilizar nos nossos eventos. Organizar um evento pode ser stressante, por isso oferecemos serviços de decoração e planeamento, incluindo flores orgânicas que são cultivadas por nós.
Este ano, plantámos uma vinha para futura produção de vinhos orgânicos, que planeamos oferecer em experiências de degustação e nos nossos eventos.
Que tipo de eventos organizam e qual tem sido a resposta da comunidade local?
A Quinta Única tem este nome porque quisemos trazer algo diferente, algo único. Organizamos vários tipos de eventos privados, incluindo casamentos, aniversários, jantares, entre outros. Quando alguém vem até nós com uma ideia ou pedido para um evento, o nosso trabalho é torná-lo realidade. Além disso, organizamos os nossos próprios eventos sociais, como noites de Paint & Sip (Pintar e Beber). Nesses eventos, convidamos os hóspedes a desfrutar da beleza dos nossos pomares de laranja com boa comida, bebidas, música e actividades divertidas entre amigos.
No geral, a resposta local tem sido muito positiva, pois desde o início que foi importante para nós que a nossa Quinta fosse acolhedora para todos. Vemos muitos negócios na ilha que apenas se preocupam com o turismo e usam preços e disponibilidade para excluir deliberadamente os locais. A realidade é que não estaríamos aqui sem o apoio local; fomos recebidos de braços abertos e um dos principais objectivos do nosso projecto é fazer o mesmo pelos outros.
Como vê o turismo sustentável e a agricultura biológica nos Açores, e como é que a vossa quinta contribui para esses objectivos?
Acreditamos que uma grande parte da sustentabilidade começa localmente. Por exemplo, começa com a quinta que produz as uvas, as mesmas são colhidas, processadas, fermentadas e eventualmente transformam-se em vinho; por fim, o vinho vai para o seu copo e torna-se uma experiência. Há tantas coisas que se combinam para lhe proporcionar essa experiência. Para entender a sustentabilidade, temos que entender a origem. Quando apanho uma laranja de uma das nossas árvores, posso comê-la sabendo que cresceu organicamente, sem qualquer tipo de químicos. A agricultura biológica não é o caminho fácil, exige trabalho árduo e compromisso. Sempre que possível, obtemos produtos localmente porque acreditamos que conhecer a origem é conhecer a qualidade.
Que impacto esperam que a Quinta Única tenha na comunidade local?
Esperamos criar um espaço único e bonito onde as pessoas possam desfrutar e celebrar os momentos importantes nas suas vidas. Quer seja um grande marco como um casamento ou simplesmente um jantar para desfrutar de momentos com amigos e família, tornar o seu evento de sonho realidade é a nossa prioridade.
Quais são os planos futuros para a Quinta Única?
Planeamos continuar a desenvolver o nosso espaço para eventos e expandir a nossa promoção de turismo sustentável, com o objectivo de proporcionar experiências memoráveis tanto para os locais como para os visitantes.
Estamos muito gratos a todos os que fizeram parte da nossa caminhada até agora ansiamos por construir um futuro brilhante juntos.
Daniela Canha
