O RFM Beach Power mudou a sua localização para o Porto de Pescas de Rabo de Peixe, mas é a única novidade. Este ano junta-se à 10º edição do já bem conhecido festival gastronómico Caldo de Peixe. Nesta entrevista, Ruben Faria, presidente da cooperativa AQUA, fala-nos sobre a evolução deste festival que começou com “uma pequena tenda no porto” e afirma que cumpriram com o seu propósito “de valorizar o peixe dos Açores”, em especial as espécies de menor valor comercial, mas também a “promover o trabalho de uma comunidade que está continuamente a mostrar que consegue muito mais do que aquilo que dizem ou esperam dela”.
Correio dos Açores – Como descreve o impacto que o Festival do Caldo de Peixe tem tido para a comunidade local durante estes 10 anos de história?
Ruben Farias (presidente da A AQUA – Cooperativa para o Desenvolvimento Sustentável do Mar, CRL) – O Festival mantém o seu objectivo inicial, que é o de promover a o peixe dos Açores, em especial as espécies de baixo valor comercial. Trabalhamos muito a imagem da Cavala, por exemplo, um peixe extremamente proteico, não menos nobre do que outros e que, inclusive, já começa a ser muito utilizado no sushi.
Logo na primeira edição, criamos um hambúrguer de cavala, por um lado, para ir de encontro ao nosso compromisso com a inovação e, por outro, porque este é um tipo de prato que apela à franja mais jovem da nossa sociedade. Curiosamente, dez anos depois os planetas alinharam-se e fizemos esta parceria com a RFM Beach Power, uma das maiores e mais conhecidas festas para os jovens.
Entendemos que faz todo o sentido sincronizar estas pretensões nesta que, para além de ser a maior comunidade piscatória dos Açores, também é a maior comunidade jovem do país. Portanto, está tudo alinhado para que esta 10º edição seja um marco, quer pela qualidade daquilo que nós vamos apresentar, quer pela novidade patente na parte da animação, pois nós vamos estar dentro da RFM Beach Power.
O nosso festival começou numa tenda pequenina no porto, e agora já temos um evento que traz milhares de possas a Rabo de Peixe e isso faz com que a comunidade se regozije. Os pescadores e a comunidade de Rabo de Peixe em geral sabem receber, como é o exemplo das festas do Espírito Santo. e a comunidade piscatória também acaba por se alegrar com o facto de virem milhares poderem desfrutar desde porto, que é um espaço nobre e muito bonito.
Ao longo dos anos, este festival cumpriu com o seu propósito de valorizar o peixe dos Açores, mas também ajudou a promover o trabalho de uma comunidade que está continuamente a mostrar que consegue muito mais do que aquilo que dizem ou esperam dela.
Para além da parceria com a RFM Beach Power que novidades têm para este ano?
Para além desta parceria com o RFM Beach Power, que decorre no terceiro dia do festival, este ano também fizemos uma ligeira alteração na fila para evitar os tempos de espera; as pessoas que estão a comer um caldo podem abandonar a fila e voltar mais tarde de forma a que a mesma não pare.
Para além disso, e a pedido de muitos clientes do festival, criamos para as noites de quinta e sexta-feira um jantar com lugares marcados em que aqueles que fizeram a reserva podem desfrutar de qualquer um dos pratos do festival – e de um exclusivo que será o risoto de peixe – sem ter de esperar na fila. Temos 50 lugares por jantar e os bilhetes podem ser adquiridos online – na 3teck ou através da nossa página de Facebook.
Para além destes 50 lugares do jantar, quantas são esperadas este ano?
Temos uma capacidade para ter 400 pessoas sentadas, mas por norma temos cerca de mil pessoas por dia. Tendo em conta os números do ano passado, estamos à espera de mais de 2 mil pessoas.
A AQUA – Cooperativa para o Desenvolvimento Sustentável do Mar, une o Clube Naval a Associação de Pescas de Rabo peixe com o objectivo de desenvolver actividades – como é o caso deste festival – que desenvolvam a sustentabilidade do mar e da pesca. Quer nos falar um pouco do trabalho que têm sido desenvolvidos por vós?
A AQUA surge em 2019, fruto de uma parceria que já havia há alguns anos entre o Clube Naval de Rabo de Peixe e a Associação de Pescas de Rabo de Peixe, já fazíamos eventos e, inclusive, foi assim que o Festival do Caldo do Peixe começou. Entretanto, percebemos que o melhor seria criar uma plataforma de entendimento e é aqui que surge a AQUA, uma cooperativa de economia solidária multissectorial, que engloba pescas e cultura. O nosso objectivo é o de promover a sustentabilidade nas comunidades ligadas ao mar.
Com sustentabilidade nas suas três dimensões, nós temos vários projectos sempre visando dinamizar estes mesmos vectores. Temos, como se sabe, o Caldo do Peixe que promove a valorização do pescado e da gastronomia.
Criamos também o quiosque AQUAmaris que é uma forma de promover os serviços no porto de Rabo de Peixe e uma boa oportunidade de para vender o nosso hambúrguer de cavala durante o ano. Para além disso, construímos um armazém para as algas que, para além ser uma forma de dar dignidade à apanha das algas e melhorar a qualidade das mesmas, também dá apoio a outras actividades do Porto.
Criamos a aplicação ‘RESEMAR’, onde os pescadores podem registar as quantidades e lixo retirado do mar, identificar áreas poluídas, registar com recurso à fotografia a vida no mar, bem como criar uma base de dados científica pois a suas fotos são georreferenciadas. Também criamos a aplicação ‘Pesca Turismo’, que oferece roteiro em que o turista pode desbloquear cada um dos cinco pontos através da leitura de códigos QR e agendar um passeio. Ou seja, o turista tem de estar no Porto para obter o código, o que cria um fluxo para a pesca turismo.
Pata além disso, conseguimos criar mais um evento gastronómico de Inverno que é o Peixe nos Açores. Já o fizemos duas vezes na Associação Agrícola e estamos a tentar transportar o festival para outros locais além Açores. Juntando tudo isto, nós ainda fazemos o serviço de limpeza do Porto com a Associação de Pescas de Rabo de Peixe. E vamos sempre dando passos largos no sentido de criar projectos para dinamizar esta comunidade.
Portanto, estamos a desenvolver uma série de projectos. Os GAL Pesca também vão abrir novamente, o qual apoiou todos estes projectos juntamente com a Câmara Municipal da Ribeira Grande.
Pode explicar um pouco como funciona a Pesca Turismo?
O que nós pretendemos é que os pescadores fiquem sensibilizados para o potencial do turismo neste sector. Fazê-los perceber que podem ganhar duas vezes mais pescando duas vezes menos. Ou seja, no caso das embarcações pequenas, se fizerem uma saída de pesca dois turistas a bordo, por exemplo, eles vão ganhar duas mais. O único impedimento é que isto implica um investimento por parte dos pescadores, que têm de fazer um seguro e ter uma licença. E a nossa preocupação é fazer com que os pescadores percebam que não são pedintes, são empresários. Nós proporcionamos apoio a vários armadores no sentido de lhes incutir o espírito empresário, vamos avisando de quais são os riscos e ganhos e orientamos nesse sentido. Tenho a certeza de que se continuarmos com este trabalho, teremos o mesmo resultado do festival: começou pequenino e uma década depois tem a dimensão que vemos actualmente. Neste caso, a comunidade piscatória de Rabo de peixe é extremamente trabalhadora e só precisa de um pouco de orientação e de esquecer a ideia de que são pedintes. Não. São empresários!
D.C.