O primeiro cabo submarino que ligará Portugal aos Estados Unidos, passando pelas Bermudas, foi ontem apresentado. José Manuel Bolieiro congratulou-se com o facto e aproveitou a ocasião para garantir que não irá abdicar da gestão do mar dos Açores. Bernardo Correia, CEO da Google Portugal, destacou o facto de este ser o primeiro cabo deste género e salientou as mais valias que o mesmo poderá trazer não só para os Açores mas também para o país.
O cabo submarino ‘Nuvem’ da Google é o primeiro cabo que liga directamente Portugal – com amarração em Ponta Delgada-, aos Estados Unidos, passando pelas Bermudas. A apresentação deste cabo ocorreu ontem, ao fim da manhã, no Palácio da Conceição.
Na ocasião, José Manuel Bolieiro, Presidente do Governo Regional dos Açores, considerou que era um “dia de muita felicidade”, assim como o disse Bernardo Correia, CEO Google Portugal, que explicou que “o cabo ‘Nuvem’ é um primeiro passo importante “para trazermos os Açores de volta a um lugar central no mapa das comunicações globais. É um novo cabo submarino que vai ligar Portugal às Bermudas e aos Estados Unidos. É o primeiro cabo transatlântico de fibra óptica a ligar directamente os Estados Unidos a Portugal e já agora as Bermudas à Europa. Este cabo reforça o compromisso histórico entre Portugal e Estados Unidos”.
Em seu entender, o ‘Nuvem’ vai melhorar “a resiliência da rede em todo o Atlântico, ajudando a satisfazer a crescente procura de serviços digitais e já está a ser construído. Com o aumento da criatividade global, a acessibilidade e o acesso à internet e possível continuar a modernização das sociedades. As empresas e os Governos aumentam a produtividade”.
Sobre o impacto económico, Bernardo Correia é de opinião de que “todos os intervenientes beneficiam porque obtém um acesso mais económico e fiável aos acessos, mas também as PME localizadas em Regiões como os Açores podem agora competir à escala global acedendo, por exemplo, como uma melhor fatia do mercado electrónico que vale 4 triliões de dólares por ano. A amarração do cabo ‘Nuvem nos Açores, melhorará a resiliência da rede”.
Mais. “Esperamos trazer uma nuvem diferente que em dias de chuva traga grande prosperidade aos Açores”, registou.
Para o governante açoriano o facto de termos por referência a componente territorial reduzida apenas à sua envolvente terrestre, reduzindo por isso o país e os Açores, em particular, numa dimensão residual. “Mas se associarmos à dimensão histórica e à projecção que o futuro nos faz, o território à sua dimensão marítima e espacial, então Portugal e os Açores já tem uma geocentralidade inequívoca e uma sobredimensão significativa.
Que se deixe para trás a mensagem da pequenez e da ultraperiferia para aportar a mensagem da geocentralidade e da sobredimensão associadas ao mar”.
O Chefe do Executivo recordou que Portugal é o membro da União Europeia, após o Brexit, com maior projecção Atlântica da Europa, sendo também aquele que tem a melhor e mais decisiva ligação transatlântica. Por isso, refere que tem importância o país considerar e valorizar o valor da gestão partilhada no mar dos Açores no domínio da soberania portuguesa e da sua projecção na União Europeia. “Não abdicarei deste exercício porque ele é vantajoso para os Açores, para Portugal e para a União Europeia”, disse.
A visão estratégica da Google é global. Por isso, reafirma Bolieiro, “Estamos a contar com investimento privado, mas que tem valor comum, que tem geografia, mas que é global e universal. Que tem mais de futuro do que presente. Tem uma linha de continuidade sempre em alavanca de multiplicação”.
E neste contexto garante: “Tudo faremos para que a defesa do domínio do que é público, seja sobretudo, valorizadora do interesse geral e potenciadora do interesse particular privado. É neste quadro que nos guiaremos. Pela sustentabilidade ambiental, económica e social e acompanhando as transições que dão futuro ao futuro dos Açores, a transição energética e a digital.
Estamos empenhados nesta visão holística de verdadeiramente dar valor acrescentado não apenas a uma transmissão de dados mas a uma fonte de conhecimento. É fundamental esta transição digital ter a marca Açores, e terá com a vossa competência e investimento e com o nosso entendimento estratégico do interesse público e geral que o investimento gera nos Açores”.
O Presidente do Governo Regional dos Açores manifestou-se “orgulhoso da história dos Açores, mas estou convicto que os Açores têm mais futuro que passado. É confiante na modernização, no papel da tecnologia e das comunicações, da transição digital que os Açores podem ser cada vez mais território de mobilidade migratória já não de êxodo mas de atracção e retenção. Atracção de talentos na área cientifica e tecnológica, retenção dos talentos que temos e geração de riqueza num verdadeiro paraíso da natureza”.
Na mesma sessão, Margaret Campbell, Cônsul dos Estados Unidos nos Açores reconheceu que este cabo submarino que ligará os Estados Unidos a Portugal “é um marco significativo”, pois considerou que “este projecto mais do que um cabo é um símbolo de inovação, desenvolvimento e cooperação internacional”, o que “reforça a nossa amizade duradoura”.
Por seu turno, Sandra Maximiano, Presidente da ANACOM, destacou no seu discurso “o nível de envolvimento e participação dos cidadãos directamente ligado à capacidade de se conectarem. A não conectividade é um sinal não apenas de exclusão digital, mas cada vez mais de exclusão social e económica”
Os cabos submarinos, em seu entender, “ são críticos para satisfazer uma procura cada vez maior de serviços de banda larga acessíveis e de alta qualidade. Portugal tem uma localização geográfica perfeita para a instalação de cabos submarinos. Na minha perspectiva os Açores estão no centro da linha em termos de conectividade internacional. Prevê-se que até 20% dos cabos submarinos, no futuro, usem a Zona Económica Exclusiva Portuguesa (ZEE)”.
Referiu ainda que “a construção do novo anel CAM que incluiu a nova tecnologia dá-nos (ANACOM) a oportunidade de fornecer serviços de vigilância e protecção para os cabos submarinos na zona exclusiva portuguesa. Esta tecnologia permitirá também a monitorização da actividade sísmica e recolha de dados para fins científicos”.
Frederico Figueiredo