Natural do lugar da Atalhada, Márcia Castro desde pequena que relevou um gosto pela escrita. Já havia escrito outros manuscritos sempre sem chegar ao fim. ‘Amores e Desencontros’ é a primeira obra da micaelense e ao ‘Correio dos Açores’ fala sobre a inspiração para a sua obra, das dificuldades de ser escritor em São Miguel e deixa um conselho: “o importante é nunca desistir”
Nascida e criada em São Miguel?
Sim, mais precisamente na Atalhada da Lagoa. Os meus avós paternos são da Lomba da Maia e os maternos são naturais do lugar da Atalhada.
Como foi o seu percurso escolar?
Foi um percurso normal. Entrei na universidade no curso de Filosofia que não terminei. Depois fui tirando outros cursos em várias áreas, como por exemplo na área de informática e gestão. Por acaso nunca tirei nenhum curso de Literatura ou relacionado com a escrita. Apesar de gostar de escrever desde nova, e de criar as minhas próprias histórias. Quando era mais nova e brincava com os meus primos ou com a minha irmã, eu é que fazia a história, por assim dizer, de como iria decorrer.
De onde veio a sua inspiração para o livro?
Já há muito tempo que andava a escrever. Só que nunca chegava a terminar, ao ponto de ser um livro. Como gosto de escrever e para mim a escrita às vezes é um refúgio e um passatempo, desta vez comecei e disse que ia começar e acabar uma história. O livro fala da ilha de São Miguel. Para mim também foi uma maneira de dedicar esta obra à ilha de São Miguel. Começo a historia mesmo pela nossa ilha e depois com as situações do dia-a-dia que ocorrem. Também falo nas redes sociais. A partir daí fui desenvolvendo a história. Não escrevia todos os dias, chegava a um ponto e parava. É uma história actual, acho que muitos leitores se vão identificar com os personagens da história.
Algum dos personagens é inspirado em alguém próximo?
Não. O meu objectivo foi mesmo de criar. Fui por situações que conheço, mas não fui buscar inspiração a ninguém que me seja próximo.
Porquê amores e desencontros?
Porque é o tema da história. O livro fala de amores e desencontros. A vida não é tão linear. A personagem principal, que se chama Deusana, é uma sonhadora. É apaixonada pela vida e acredita que tudo é possível em relação ao amor. No percurso da vida ela vai vendo que, afinal, não é bem assim e que vai tendo os seus desencontros. Aqueles amores que não correspondidos. Esta é, de uma maneira muito geral, a história. Por isso surgiu o título, porque também há muitos desencontros.
Há algo da Deusana que seja parte sua?
Sim, tem alguns traços meus. Especialmente na parte da personalidade.
Será obra única ou irá escrever mais livros?
Irei escrever mais. Já tenho, inclusive, um pequeno texto que é o início de uma nova história. Como estou a receber feedback positivo e quem já leu dá indicação que quer mais um. Isto faz com que me sinta inspirada para continuar a história.
Tenho de admitir que isto também me causa algum receio, porque não sei se o próximo será tão bom quanto este.
Há sempre a expectativa se será tão bem recebido quanto o último…
Sim e eu vou fazer por isso (risos)
É difícil ser-se escritor cá em São Miguel?
A editora que aceitou o meu manuscrito e que quis publicar o meu livro é do continente, a Chiado Books. Enviei para várias editoras cá, sempre sem resposta, e do continente obtive três respostas. Se fosse por cá, não teria lançado o livro porque nunca obtive nenhuma resposta.
Em sua opinião, deveria de haver uma aposta mais sobre das editoras de cá no escritor local?
O escritor local escreve mais sobre poesia, eles são mais poetas. A minha obra é um romance. Não sei se foi por aí que optaram por não publicar o que enviei.
Recebeu algum apoio para a criação do livro?
Para criar a obra não. O apoio que recebi foi para na apresentação do livro dar um brinde. Era algo que eu queria, pois foi o meu primeiro livro. Ofereci uns sacos com umas esferográficas, com o nome da obra.
Para os brindes tive o apoio da Câmara Municipal da Lagoa, Cabeleireiro e Estética Ana Pacheco, Electricista Nuno Pereira, Casa do Pasto José do Rego, Digital Photography, Rui Tavares, Vulcana e Paulo Andrade.
Como correu a apresentação do livro?
Correu lindamente bem. Fui muito bem recebida. Fui recebida pela Presidente Cristina Calisto, da Câmara da Lagoa, e estiveram presentes muitas pessoas, amigos e familiares.
Viver da escrita é um dos seus objectivos?
Não sei, mas por enquanto não (risos). Fiz agora o meu primeiro livro e não sei como as coisas serão daqui para a frente. Estou a pensa no segundo, mas, em principio, não será algo para fazer a tempo inteiro.
Que conselhos daria a quem poderá querer começar na escrita?
Diria para essas pessoas nunca desistirem. Se acreditarem, crerem e lutarem, chegarão lá.
Têm de ter coragem e não desistir no primeiro obstáculo. Têm de ir até ao fim.
Foi também a primeira vez que terminei um livro. Já poderia ter feito antes, mas nunca tive coragem de chegar ao fim. Quando não nos fixamos numa coisa ela acaba por surgir.
O feedback também é importante. Acho engraçado que as pessoas se identificam com os personagens e dão me dicas. Uma coisa nova que coloquei no livro é que em alguns excertos da narrativa coloquei músicas para o leitor ouvir, lendo o excerto. Isto da uma sensação única, e as pessoas gostam e dizem que entram na história. Alguns já me disseram que choraram ao ouvir a história. Isto é muito bom e da minha parte é original.
Frederico Figueiredo