Os resultados dos exames de sangue de rotina poderão ser utilizados para acelerar o diagnóstico de cancro entre pessoas com dor de estômago ou barriga inchada, sugere um novo estudo.
A maioria das pessoas que reporta estes sintomas ao médico de família é encaminhada para exames de sangue. No entanto, não se sabe até que ponto estas análises, utilizadas para explorar uma série de possíveis causas de problemas de saúde, podem prever o risco de cancro.
O novo estudo, publicado na revista PLOS Medicine, analisou dados de mais de 400.000 pessoas com 30 anos ou mais, do Reino Unido, que visitaram um médico de família devido a dores de estômago e mais de 50.000 que visitaram o seu médico de família devido a barriga inchada. Dois terços deste grupo fizeram análises ao sangue após a consulta.
Os investigadores descobriram que, em 19 exames de sangue habitualmente utilizados, os resultados anormais estavam associados a um maior risco de diagnóstico de cancro no espaço de um ano. Estimaram que, se estes resultados anormais fossem tidos em conta, teria havido um aumento de 16% no número de pessoas com cancro não diagnosticado que receberam encaminhamento urgente, face à avaliação baseada apenas nos sintomas, idade e sexo. Isto significa que mais seis pessoas com cancro não diagnosticado teriam sido encaminhadas com urgência de entre as 1.000 que visitaram o médico de família com dores de estômago ou inchaço.
“O nosso estudo sugere que podemos melhorar a deteção do cancro com exames de sangue que já estão disponíveis e que são administradas como rotina a doentes com sintomas inespecíficos cuja causa não é clara”, explica Meena Rafiq, autora principal do estudo e investigadora.
“Esta poderá ser uma forma eficiente e acessível de melhorar o diagnóstico precoce do cancro e, em alguns casos, aumentar a probabilidade de um tratamento bem-sucedido.”
“Dado que, na prática, pode ser um desafio para os médicos de família interpretarem uma série de dados de exames de sangue, o nosso estudo aponta para a necessidade de uma ferramenta automatizada que possa avaliar o risco com base em múltiplas variáveis”, acrescenta.
Um novo olhar para os resultados dos exames de sangue
Com base no estudo, os investigadores descobriram que uma em cada 50 (2,2%) pessoas que foram ao médico a relatar uma dor de estômago foi diagnosticada com cancro nos 12 meses seguintes. Precisamente a mesma proporção (2,2%) de pessoas que relataram inchaço também foram diagnosticadas com cancro no período de um ano.
A amostra permitiu verificar que, entre as pessoas com idades compreendidas entre os 30 e os 59 anos, a dor abdominal ou distensão abdominal, anemia, níveis baixos de albumina, plaquetas elevadas, ferritina anormal e marcadores inflamatórios aumentados previam fortemente um risco de cancro não diagnosticado.
“Metade de todas as pessoas com cancro ainda não detectado irá primeiro ao médico com sintomas vagos que podem ser difíceis de diagnosticar. Muitos destes doentes são investigados nos cuidados primários com exames de sangue comummente utilizadas que poderiam ajudar a identificar quais os doentes com maior probabilidade de ter cancro subjacente e devem ser priorizados para encaminhamento. Esta investigação mostra que estes testes comuns podem melhorar substancialmente a avaliação do risco de cancro”, afirma Meena Rafiq.
O estudo mostrou também que tipos de cancro eram mais comuns em pessoas com estes sintomas e como variava consoante a idade e o sexo. Em geral, o cancro do intestino foi o mais comum, seguido do cancro da próstata e do pâncreas nos homens, do cancro do intestino, da mama e do ovário, nas mulheres.
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