Nos últimos 15 anos, o trabalho da Associação de Nadadores Salvadores dos Açores (ANSA) foi marcado pelo investimento na formação e na melhoria das condições dos nadadores-salvadores da Região que, de acordo com Roberto Sá, “trabalham de forma cada vez mais profissional e empenhada”. Até então, o balanço que faz desta época é positivo e conta com apenas 2 salvamentos, um número que atribui à boa prevenção que é feita diariamente. O Presidente desta Associação também conta que este ano foi a primeira vez que tiveram de recorrer ao reforço estrangeiro devido à falta de mão-de-obra, que considera um problema comum a muitos outros sectores da Região. No entanto, o maior problema das associações de assistência a banhistas dos Açores tem que ver com os critérios dos concursos públicos que dão prioridade aos valores mais baixos detrimento da qualidade e acabam por trazer empresas de fora que para além de “não cumprirem com as suas obrigações no terreno”, não investem na Região.
Correio dos Açores – Que retrato faz do trabalho desenvolvido pela ANSA nestes 15 anos de actividade?
Roberto Sá (Presidente da Associação de Nadadores Salvadores dos Açores – ANSA) Acredito que o trabalho que desenvolvemos durante estes 15 anos é reconhecido por todos e claramente que hoje o nadador-salvador trabalha de forma mais profissional e empenhada, o que se deve à nossa colaboração na formação de nadadores e procura de melhores condições. Para além disso, implementamos as campanhas de sensibilização que realizamos em várias ilhas dos Açores. Tentamos chegar a todas as faixas etárias, mas com uma preocupação um pouco maior com as crianças e jovens porque vão ser eles os banhistas do futuro. E, por outro lado, também queremos chamar atenção para a nossa actividade de forma a que alguns considerem tirar a formação de nadador-salvador no futuro. Nestas campanhas, posso destacar o programa Nadador-Salvador Júnior em que reunimos dezenas de jovens e organizamos várias estações com demonstrações e actividades que incluem, por exemplo, os primeiros socorros e o suporte básico de vida; as nossas ferramentas de salvamento; as regras que devem adoptar em zonas balneares, etc.
Como avalia a actual época balnear em termos de segurança e eficácia dos nadadores salvadores?
A nossa Associação não está em todas as zonas balneares – estamos nas Portas do Mar, Conselho da Lagoa, da Vila Franca do Campo e também no Terra Nostra – mas estamos atentos às outras entidades e posso dizer que, de forma geral, os nadadores estão a desempenhar melhor as suas funções.
Quantos salvamentos já fizeram esta época? Como está em relação ao ano passado?
No caso das zonas da ANSA, contamos com dois salvamentos. Até ao momento, o caso mais grave foi o de uma senhora que caiu e infelizmente partiu o braço. Em comparação com o ano anterior, por essa altura eu diria que nós estamos a ter menos salvamentos do que tivemos no ano passado, o que é muito positivo. Isso significa que existe um bom trabalho de prevenção e os próprios banhistas estão a respeitar as regras de segurança, o que faz com que os números de acidentes ou salvamentos estejam a diminuir cada vez mais.
Tem havido necessidade de contratar nadadores-salvadores estrangeiros nesta época?
Actualmente temos muitos nadadores estrageiros a trabalhar nos Açores. No caso da ANSA, posso dizer que em 15 anos de existência, este ano foi a primeira vez que contratámos nadadores-salvadores estrangeiros. Estivemos em negação durante algum tempo, mas a verdade é que desde a pandemia para cá – onde se notou um declínio na taxa de formação de nadadores-salvadores – que temos vindo a sentir alguma dificuldade em alguns períodos do Verão. Temos 50 elementos contratados, seis dos quais são argentinos, que representam 12% da nossa equipa. A experiência está a ser muito positiva pois são bons profissionais e têm-nos ajudado imenso
Em que ilhas é mais difícil alocar nadadores-salvadores?
Tal como em São Miguel, as ilhas da Graciosa, Faial, Pico e Santa Maria também se viram obrigadas a contratar nadadores estrangeiros. É sempre um pouco difícil quando há a falta dos salvadores da nacionalidade portuguesa, mas se forem criadas as condições de estadia e forem suportados os custos para que estes nadadores venham para cá trabalhar, é possível alocá-los em qualquer ilha.
A nossa Associação sempre defendeu a prioridade em formar nadadores-salvadores residentes e depois assegurar o trabalho aos jovens açorianos. Mas, como é óbvio, em casos de necessidade – tal como está a acontecer nos Açores e no resto do país – os nadadores estrangeiros são uma mais valia se vierem desempenhar bem as suas funções. Esta não é uma necessidade exclusiva do ramo da assistência a banhistas, porque se olharmos para todos os outros sectores da Região, o que se verifica é que as empresas privadas estão a contratar estrangeiros por falta de recursos humanos locais.
Até agora que balanço a ANSA faz deste ano?
Para dizer a verdade, este ano está a ser muito positivo para nós. Organizamos duas formações para nadadores-salvadores, em São Miguel e na Terceira; os recursos que temos disponíveis estão a ser suficientes para desempenharmos as nossas funções; a elaboração de escalas não tem sido um problema e estamos a conseguir folgar os nossos nadadores. Para além disso, estamos a conseguir fazer treinos semanais.
Temos feito algumas campanhas de sensibilização, sendo que ainda no passado Sábado, fizemos uma acção de sensibilização em Vila Franca do Campo para 160 escuteiros, com idades entre os 14 e os 18 anos. E a nossa equipa tem sido muito prestável para com os banhistas, muito educada e, sobretudo, muito profissional. Portanto, posso dizer que estamos muito satisfeitos com o nosso trabalho. Nos últimos quatro anos tivemos efectivamente muita dificuldade em termos de recursos humanos e isso fazia com que a ANSA não conseguisse desenvolver todas actividades que desenvolvemos e vamos continuar a desenvolver este ano.
Quais são as maiores dificuldades que a ANSA enfrenta actualmente ?
A maior dificuldade que nós e outras entidades de assistência a banhistas da Região sentem tem que ver com os concursos públicos lançados pelos municípios, cujo primeiro critério de selecção são os valores mais baixos. O que muitas vezes acontece é que empresas de fora, nomeadamente do continente, concorrem e acabam por ganhar. Mesmo com o nosso de histórico de 15 anos de boas prestações, já chegamos a perder um concurso, em Santa Maria, por meros 60 euros.
Neste sentido, defendemos que as associações deixem de ser contratadas através de concursos públicos, mas através de protocolos directos e anuais que possam ser actualizados. Não sendo isto possível, defendemos uma alteração aos critérios destes concursos para incluir a qualidade das entidades concorrentes e não apenas o baixo custo.
Aquilo que acontece é que algumas das entidades que ganham estes concursos, acabam por não cumprir com as suas obrigações no terreno. Para além disso, deixam muito a desejar a nível de qualidade de serviços e quem fica a perder são os banhistas. Estas empresas privadas do continente – que não são associações – não conhecem sequer as nossas zonas balneares, concorrem e só depois de ganhar é que vão à procura dos nadadores-salvadores. Para além disso, nenhum proprietário veio cá ver o serviço e apenas fazem a gestão à distância.
Tanto a ANSA como a Associação de Nadadores Salvadores da Costa Norte desempenham estes serviços há alguns anos. E o que é que fazemos com as mais-valias? Investimos na formação e na melhoria das condições dos nadadores salvadores. No caso destas empresas do continente, não foi investido sequer um cêntimo na Região!
Antigamente havia um investimento forte da nossa parte e actualmente já não conseguimos fazer o mesmo porque estamos a trabalhar com margens cada vez mais curtas nas propostas que fazemos com os municípios. Ou seja, com estes concursos não se consegue desenvolver eficazmente a actividade de assistência a banhistas, nem se consegue motivar jovens a tirar o curso de nadador-salvador.
Daniela Canha