No presente há tanto para se dizer e fazer, que se não for dito e feito, o futuro é uma “treta” para os rapazes e raparigas do meu tempo e para os rapazes e raparigas deste tempo.
Há quem adia preparar o futuro; e há quem ache que ele começa sempre no presente. Talvez por causa dos que adiam, lamentavelmente há rapazes e raparigas do meu e deste tempo que já não têm um presente e não terão um futuro.
Mas afinal de que futuro falamos e de que presente falamos? Creio que só há um futuro para os humanos que não é só sobrevivência; é viver num presente com dignidade e humanitude, transposto para um futuro idêntico.
Se sobrevivermos hoje, sem dignidade e humanitude, é porque ontem, se a infirmamos. não a praticamos, e o nosso presente não tem futuro.
E há um outro futuro, este, o da Terra que também não estamos a encarar a sério no presente, por comodismo, interesses económicos; e porque é sempre mais fácil deixarmos para amanhã o que se pode e deve fazer hoje.
Obviamente que fazendo parte dos problemas, devemos fazer parte das soluções; se nos deixarem!
É urgente, reparar-se e o que no passado e no presente são ataques à vida na terra, deixando sem futuro os rapazes e raparigas que virão.
Hoje, reconhecidos todos os valores essenciais para esta condição humana, que nos distingue das outras espécies, de quem somos responsáveis pelo seu equilíbrio ecológico; o futuro faz-se com as conquistas do presente.
Em Portugal existem mais de 3 milhões de rapazes e raparigas do meu tempo naquele escalão acima dos 66 anos e 2/4, já para não falar de outros no escalão já mais reduzido dos de 80 e mais; para quem inevitavelmente a saída deste mundo será através de uma qualquer instituição de recolha e manutenção de gerontes.
Certo que não cabe ao Estado dito social, provir tudo; muito menos retirar-nos a liberdade de escolher ou de antecipar escolhas para o tal futuro. Mas compete-lhe provir a defesa dos vulneráveis e impedir até que se criem mais vulnerabilidades por via de exercícios de tutelas impróprias e incapacitantes deste exercício, para não falarmos do permitir que o que se tem como recursos financeiros, não integrem bens imóveis e a possibilidade de, com base neles, provir o seu usufruto, até ao limite do disponível para assegurar a tal dignidade que se defende, tendo o Estado ou a Região como avalistas.
Falamos dos deixados nos hospitais após alta clínica, falamos dos deixados em casa sem suporte domiciliário, falamos da orfandade dos abandonados e dos desamparados que não têm meios para o amparo sem recurso à indigência e caridadezinha do Estado. Falamos de falta de direitos e garantias.
O que se continua a fazer, neste país em que a democracia ainda não maturou para a igualdade plena, é caridadezinha, é discriminação positiva para alguns e esquecimento para outros. Não são os conceitos que nos salvam, são as ações que nos comprometem.
Reformas? Tão poucas e tão distantes da realidade social que nos afeta. A nossa democracia não é reformista, anquilosa na primeira tentativa de abordagem dos problemas reais, porque também nunca foi consensual; porque sempre que de acordo com os princípios, está em desacordo com os meios.
Resta a esperança de que os rapazes e as raparigas deste tempo lutem para mudarem o presente, para que quando forem rapazes e raparigas do meu tempo, tenham um futuro melhor.
Dionísio Faria e Maia