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“As Associações de Bombeiros para chegarem ao final do mês com as contas equilibradas têm de ter fontes de rendimento”

José Nuno Moniz, comandante dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande. O nosso interlocutor tem 42 anos de carreira e está a caminho do 12.º ano enquanto comandante. Anteriormente, tinha sido adjunto de comando e 2.º comandante.

José Nuno Moniz é o comandante da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande.
O nosso entrevistado tem 42 anos de carreira e está a caminho do 12.º ano enquanto comandante. Anteriormente, tinha sido adjunto de comando e 2.º comandante.
José Nuno Moniz fez a carreira normal nos bombeiros, começando como aspirante em 1983 e foi subindo na carreira até chegar a chefe, que era o topo, enquanto bombeiro. Depois, foi convidado para o comando, onde está envolvido desde 2005, primeiro como adjunto e depois como 2.º comandante, tendo atingido as funções de comandante do corpo de bombeiros em 2013.
“São 42 anos de muitas histórias para contar. Sou do tempo, em que os assalariados eram muito poucos, ou seja, a base do socorro era quase assente naquilo que era o voluntariado, mas neste momento temos cerca de 53 colaboradores assalariados, porque no total somos cerca de 100 elementos, que estão no quadro activo, isto é, temos aqueles que dão a primeira resposta, que são os bombeiros profissionais, mas quando há necessidade de apoio temos os voluntários, que dão uma grande ajuda. Já lá vão os tempos em que a sirene dos bombeiros tocava com muita regularidade, porque as situações eram apoiadas no voluntariado, mas agora temos sempre o pessoal pronto para sair, salvo situações diferenciadas é que toca a sirene para ocorrências, que acontecem três ou quatro vezes por ano”.

Mais ambulâncias precisam-se

No momento, a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande tem cinco ambulâncias de socorro, algumas já com muitos anos e sobretudo com muitos quilómetros, cuja manutenção se torna difícil, porque param muitas vezes nas oficinas e as avarias são mais do que muitas. “Precisamos de ambulâncias e estamos ansiosamente a aguardar o concurso público, que foi lançado pelo Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA) para atribuição de novas ambulâncias às corporações dos Açores”.
A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande tem “uma secção destacada na Lomba da Maia e uma frota que rondará as 40 viaturas”.
Mas porquê tantas viaturas? “Porque para além das cinco ambulâncias de socorro, temos 10 viaturas a fazer o transporte de doentes não urgentes. Depois temos alguns autotanques para fazer, aquilo que chamamos de transporte de água e isto aqui já é uma vertente financeira da Associação e uma forma da Associação também de ir buscar fundos para, que no final do mês possamos ter as verbas necessárias para manter esta casa de pé, digamos assim, mas depois temos a frota vermelha, que são as viaturas de combate a incêndio, temos uma embarcação, as motas de água, viaturas de apoio e temos autocarros, que têm também uma vertente comercial e é sempre uma fonte de rendimentos, ou seja, as associações hoje em dia para chegarem ao final do mês com as contas equilibradas têm de ter fontes de rendimento, que também são os transportes de doentes não urgentes e o aluguer de vários espaços, onde depois somos ressarcidos com o pagamento de uma renda mensal pelo transporte de água e os autocarros, ou seja, fazemos uma quantidade de serviços, nas quais também se incluí a formação, para que possamos chegar ao final do mês e ter os nossos devedores pagos e termos uma situação financeira controlada, que no nosso caso é bastante estável”.

Certificação ISO 9001:2015

De referir, que quando chegamos à fala com o comandante José Nuno Moniz, decorria uma auditoria da norma ISSO 9001, processo fundamental para garantir a conformidade com os critérios estabelecidos no Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ). “A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande está certificada com a norma ISO 9001:2015, que assegura qualidade dos serviços prestados. Penso, que somos a única Associação a nível nacional, que está certificada com este sistema de gestão de qualidade. Iniciamos esta certificação em 2010, em alguns serviços desta Associação temos mantido e hoje (ndr: Quarta-feira) está a decorrer uma auditoria externa, que vai ficar cá durante dois dias e meio, precisamente para manter esta certificação. A auditora vem ver, se estamos a cumprir aquilo que são as normas que estão estabelecidas e chegar ao final desta auditoria, podermos renovar ou não esta certificação, que achamos que é uma mais-valia para a Associação e que nos obriga a cumprir uma série de requisitos, não só ao nível das ambulâncias como ao nível da qualidade dos transportes de águas, limpezas, higienização ou transportes de autocarros, portanto, são todos serviços que temos certificados, inclusivamente a equipa de salvamento em grande ângulo, esta sei que é a única a nível nacional com esta certificação, e é isto que estão a fazer e estão a ser acompanhados por uma das nossas equipas”, explicou.

Corporação apoia outros concelhos

O concelho da Ribeira Grande tem 14 freguesias, mas o seu raio de actuação estende-se a outros concelhos. “Vamos inúmeras vezes apoiar os colegas de Ponta Delgada, mas também vamos ao concelho do Nordeste e da Povoação. Basta lembrar, por exemplo, que a secção que temos na Lomba da Maia conseguimos chegar mais rapidamente a outras freguesias, como a Salga do Nordeste ou às Furnas da Povoação, e portanto, para além das 14 freguesias, que são aquelas do nosso concelho apoiamos muito outras populações, principalmente a congénere de Ponta Delgada”.

Nesta agradável conversa com o comandante José Nuno Moniz, abordamos o trilho de acesso à cascata das Lombadas, com obstáculos inerentes aos caminhos selvagens e poucos cuidados recomendado para caminhantes mais experientes e preparados fisicamente.
O trilho não é oficial e representa um perigo para quem não se faz acompanhar de uma pessoa mais experiente, onde é importante prestar atenção, principalmente na volta.
“Temos sido empenhados, muitas vezes, para fazer resgates nesse trilho. Até agora tem sido, basicamente encontrar as pessoas, que entretanto se perderam ou porque caiu a noite mais cedo e porque as situações meteorológicas se alteraram, mas ainda não tivemos situações em que tenhamos de ir buscar alguém que tenha facturado uma perna ou teve uma doença súbita, mas temos ido muitas vezes a esse trilho, que não é homologado, que as pessoas não deviam fazer. Até agora, temos exercido apenas situações de busca, em primeiro lugar encontrar as pessoas e depois orientá-las para o caminho de volta, mas temos tido muitas outras situações, principalmente aqui na Lagoa do Fogo, que é mais um trilho que também não está homologado, esse sim, para situações, até agora, de menor gravidade, ou seja, não tivemos ainda situações de paragem cardiorrespiratória e tem sido ocorrências de pequenas fracturas e de entorses, e a experiência diz-nos, que esse serviço só é concluído quatro horas de ser iniciado, o que tem acontecido muitas vezes”.

Façam apenas trilhos oficiais

A nossa ilha tem tantos trilhos oficiais e devidamente homologados, e continuo a não perceber porque é que as pessoas fazem os trilhos que não estão homologados e que inúmeras vezes acabam por correr mal. Mantenham-se nos trilhos, que estão devidamente autorizados e homologados, vejam as condições meteorológicas, que estão previstas para o dia, façam-se acompanhar por pessoas que conhecem, não se esquecem de levar baterias de reserva para carregar os telemóveis, porque os telemóveis são uma mais-valia, porque permite a localização depois com as coordenadas, que são obtidas através do telemóvel e sobretudo não façam trilhos sozinhos, porque já fizemos imensos resgates de pessoas que se aventuraram sozinhas. Pode correr mal, basta referir, que ainda não conseguimos, apesar do esforços que fizemos com os Bombeiros de Vila Franca, encontrar um senhor que se perdeu na Lagoa do Fogo. Também está por encontrar um outro indivíduo, que se perdeu na zona da Ribeira Quente, porque estavam sozinhas, perderam-se e depois, apesar dos esforços com equipas cinotécnicas e com drones, ainda estão por encontrar”.

Caça, pesca e trilhos

José Nuno Moniz é natural da Lomba da Maia, onde nasceu em 1962. Começou por estudar na sua freguesia, mas depois foi fazer o ensino secundário na Ribeira Grande e na Escola Secundária Domingos Rebelo. Ainda “aventurou-se” na Universidade dos Açores, mas acabou por desistir. Antes dos bombeiros chegou a ter vários empregos, mas agora diz que já pensa “na reforma e não deve tardar muito”.
Casado, tem dois filhos que também são bombeiros. Fora da esfera do trabalho, gosta muito de caça e ainda é caçador, mas gosta, de igual modo da pesca e sempre que tem a oportunidade também faz trilhos. “Até agora tem corrido bem e não me meto em coisas que não conheço e que depois possa pedir ajuda aos meus colegas. Nem pensar nisso”.
Chegou ainda a jogar futebol no “Esperança Futebol Clube”, da Lomba da Maia.

Marco Sousa

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