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Projecto ‘A Avó Veio Trabalhar’ dá dimensão social e dignidade humana a quinze idosas no concelho da Lagoa

O fundador de ‘A Avó Veio Trabalhar’, o psicólogo Angelo Campota, afirma que o projecto implementado no município da Lagoa desafia as seniores açorianas a reencontrarem-se enquanto mulheres. Com esta iniciativa, promove-se “a saúde mental das anciãs, apostando-se na premissa do envelhecimento activo.” Um projecto que está a ter sucesso e que já chegou ao Japão, através do marketing que tem desenvolvido nas redes sociais.

O Correio dos Açores esteve à conversa com um dos criadores do Projecto ‘A Avó Veio Trabalhar’, que teve origem em Lisboa e que, posteriormente, foi expandido ao concelho da Lagoa, envolvendo 15 mulheres.
Ângelo Campota descreve, a propósito, como se procedeu à implementação desta ideia no município lagoense. Em 2019, numa fase preliminar, antes da pandemia, o objectivo do projecto foi proporcionar formações aos seniores de Ponta Delgada e da Lagoa. Os encontros eram realizados nas instalações do antigo Centro de Artesanato dos Açores (CRAA).
Como narra o psicólogo: “eu e a minha parceira, Susana António, viajávamos até São Miguel, uma vez por mês, onde fazíamos formações de índole intensiva entre as avós de Ponta Delgada e as da Lagoa, proporcionando-se viagens de autocarros do concelho lagoense para o município pontadelgadense”.
“Apesar de essas viagens serem de poucos minutos de distância, muitas destas avós da Lagoa já não iam, há muitos anos” a Ponta Delgada, segundo Ângelo Campota. Em seu entender, as idosas lagoenses vieram a beneficiar como o projecto pois, estando a Lagoa, sinalizado como um concelho “onde se verificava o isolamento dos seniores e a ausência de actividades diferenciadas para este grupo etário, o projecto veio a ajudar a combater a solidão e o isolamento.”
Entretanto, com o confinamento, a reestruturação política dos Açores e a reformulação do antigo CRAA o projecto ficou em stand by, cabendo à Fermenta Associação, reavivar ‘A Avó Veio Trabalhar’, por intermédio do Centro de Artesanato e Design dos Açores (CADA), que desafiou a Câmara Municipal de Lagoa a tornar-se a entidade patrocinadora e financiadora deste projecto em São Miguel.
Campota esclarece que, actualmente, é na Casa da Cultura Carlos César que o projecto está a ser desenvolvido, seguindo a mesma linha do modelo de trabalho que foi estabelecido na fase inicial da implementação em Ponta Delgada: “Mensalmente, viajamos até São Miguel, trabalhamos durante uma semana intensiva com as avós deixando-lhes tarefas para as três semanas subsequentes. As seniores reúnem-se, duas vezes por semana, até ao nosso regresso”.
O impacto que o projecto tem tido em várias áreas da sociedade micaelense “é notório, nomeadamente, na promoção da saúde mental das participantes e na intervenção social, apostando-se na premissa do envelhecimento activo.”
Como refere o psicólogo, “elas vibram com as tarefas que lhes designo. Algumas das avós têm um background muito hardcore, nomeadamente, de violência doméstica, hostilidade e agressão”, referindo, ainda, que são “senhoras que necessitam de se reestruturar, em termos sociais e emocionais, para se emanciparem enquanto mulheres.”
Chama, a propósito, a atenção para o facto de que “uma mulher tipicamente açoriana que, apenas vive para o marido e para a família, quando corta este «cordão umbilical» é fuzilada em praça pública”.
No projecto ‘A Avó Veio Trabalhar’ há espaço para o conhecimento e crescimento pessoal, social e emocional das mulheres, traçando-se um plano quotidiano de vida, que apesar de se revelar como um trabalho utópico, mune estas cidadãs de objectivos, desafios e estímulos que as convida a saírem da sua zona de conforto .

Projecto está a ter bastante sucesso

Campota dá, em sequência, um exemplo: “Há uma avó de 89 anos que, quando não estamos nos Açores, nessa semana, tem o hábito de passar o seu tempo livre no Centro de Convívio onde reside. No entanto, sente-se deprimida, pois lá não há espaço para dar largas à imaginação, criatividade e estímulos”.
Indagado sobre se a aprendizagem é apenas unilateral, Ângelo Campota responde de forma peremptória: “De todo! Aprendem elas e aprendo eu! Tenho muito apreço pelos Açores. Com elas já aprendi muito sobre a cultura local, desde a gastronomia a outras curiosidades relativas às tradições. Estabeleci uma relação de proximidade com estas avós, aprendendo até a «saborear» o ritmo mais desacelerado que se vive em São Miguel, por comparação ao de Lisboa.”
O Projecto A Avó ‘Veio Trabalhar’ nos Açores, desde que se iniciou, teve um “sucesso bastante significativo” que, se tem traduzido, entre outros, na promoção de workshops e formação de parcerias que têm impulsionado a venda de produtos nas ilhas, Portugal continental e estrangeiro, chegando até ao Japão.

Neuza Almeida
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