A democracia tem os seus defeitos e um deles é dar oportunidade às pessoas de dizer o que lhe vem à cabeça, quer seja em público, quer seja através dos órgãos de comunicação social.
Por seu lado, os jornalistas, também eles ansiosos por encher as páginas e páginas, incitam os entrevistados a pôr cá para fora aquilo que sentem acerca de determinada matéria.
Na maioria das vezes, os entrevistados, numa mostra de pouco sentimento democrático, fazem declarações eivadas de inveja, de sectarismo ou mesmo bairrismo puro e duro.
É o caso do Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (julgo ser assim que se chama o organismo) que, recentemente, e em declarações à RTP/A, teve o “desplante” de questionar o Presidente do Governo Regional, Dr. José Manuel Bolieiro, por quantos milhões teria o Governo Regional subsidiado a Google, cujo cabo terá amarração nesta ilha de S. Miguel.
Pergunto: que autoridade tem aquele senhor, não sendo deputado da ALR, de questionar o Presidente do Governo sobre matérias que nada têm a ver com o organismo que dirige?
Já quando a Delta Airlines resolveu voar para Ponta Delgada, ligando esta cidade a New York, o dito Presidente da CCIAH resolveu afirmar que aqueles vôos estavam a realizar-se por via do acordo luso-americano da base das Lajes da Terceira, numa tentativa de desviar para a “sua ilha” a escala daquela companhia aérea. Evidentemente que não conseguiu os seus intentos naquela altura.
Ainda sobre aviões e sobre a SATA, aquele cavalheiro, parece ser da opinião de basear os aviões por várias ilhas, independentemente do custo que tal medida possa ter. Sem comentários!
Voltando à questão dos cabos submarinos, neste caso do CAM, o Presidente da CCIAH também defendeu a mudança da amarração de S. Miguel para a Terceira porquanto, nas comunicações e na prática, não se iria sentir qualquer diferença.
Recordo-me que, na altura, veio a lume as condições do terreno na amarração. Foi dito então que, de entre as várias condições técnicas, sobressaía a questão da sismicidade. Infelizmente, e pelo que se tem registado ultimamente, julgo que a amarração daqueles cabos na ilha Terceira está fora de questão.
Mas nesta questão de bairrismo, louvo o Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo porque, pelo menos, dá a cara em defesa das suas ideias. Outros há que actuam na penumbra e “sorrateiramente”, sem ruído de fundo, como é o caso do Vice-Presidente do Governo Regional que chamou a si competências na saúde e na aerogare da Lajes.
O público desconhece quanto está custando à Região tal responsabilidade do Vice-Presidente; mas sabe que, em termos de saúde, o hospital da Terceira parece estar a cumprir a sua missão para com os terceirenses, bem como para com os outros que necessitaram daquela unidade hospitalar, como foi o caso dos doentes micaelenses que, aquando do incêndio do Hospital de Ponta Delgada tiveram de recorrer ao HSEIT especialmente os hemodialisados.
Dado que o tema deste trabalho é o bairrismo doentio, é absolutamente justo realçar que nem todos pensam da mesma forma.
A comprová-lo fica claro que, quando os micaelenses lá estiveram em tratamento, e pelas palavras dos próprios doentes, afirmaram terem sido muito bem tratados.
Para terminar só quero dizer que tudo o que se faz em S. Miguel, por ser a ilha maior e mais populosa da Região, não tem de ser necessariamente replicado noutra ilha, seja ela qual fôr.
Não se esqueçam de que, só unidos é que valemos muito!
P.S. Texto escrito pela antiga grafia
4 AGO2024
Carlos Rezendes Cabral