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Centro de Saúde de Lagoa ainda não está a funcionar com toda a sua capacidade

José Carvalho Santos, vogal executivo do Conselho de Administração da Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel acredita que “a resposta dos Cuidados de Saúde Primários ao nefasto evento ocorrido” no Hospital do Divino Espírito Santo “veio a comprovar o compromisso colectivo da Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel com a saúde e o bem-estar da população micaelense”. José Carvalho Santos realça que, neste momento, o Centro de Saúde da Lagoa já abriga oito Núcleos de Saúde Familiares, serviços de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia e de Enfermagem Especializada em Saúde Infantil. José Carvalho Santos é consultor de Medicina Geral e Familiar e Assistente Graduado Sénior de Medicina Geral e Familiar da USISM.

Correio dos Açores – Quais as mais-valias para os Cuidados Primários de Saúde com a criação do Centro de Saúde da Lagoa?
José Carvalho Santos – (Vogal executivo do Conselho de Administração da Unidade de Saúde de São Miguel) – No seguimento da organização dos cuidados de saúde primários, na década de 80 do século passado, foram sendo criados centros de saúde em todos os concelhos do país. Durante décadas, Lagoa foi o único concelho do país a não poder contar com o seu centro de saúde, ficando, administrativamente, dependente de Ponta Delgada. As competências administrativas de uma unidade de saúde (extensão) diferem significativamente das de um centro de saúde. Assim, entendeu o Governo Regional investir nos cuidados de saúde primários de Lagoa e materializar as condições política, legislativa e financeira para a criação do Centro de Saúde.

Que resposta deram os profissionais de saúde e os equipamentos existentes? As equipas foram reforçadas?
Depois de estabelecido o objectivo, o primeiro passo para a sua concretização foi a remodelação do edifício, que deveria passar a acomodar novos serviços e melhorar as condições físicas e técnicas das valências já existentes. Todos reconhecem o incómodo de obras em casa. No entanto, os profissionais de saúde e, principalmente, a população servida, compreenderam logo a importância da empreitada e, resignadamente, ultrapassaram os constrangimentos decorrentes dela. À conclusão da obra, profissionais e população tornaram evidente a sua satisfação. Agora, o Centro de Saúde já tem condições de abrigar oito Núcleos de Saúde Familiares, serviços de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia e de Enfermagem Especializada em Saúde Infantil.
Gerido de perto pela Direcção Técnica (Rui Fontes como Director Clínico; Maria José Garcia, Directora de Enfermagem e Rosa Carreiro como Coordenadora Técnica), adivinha-se o sucesso do novo Centro de Saúde. Roma e Pavia não se fizeram num dia. O Centro de Saúde Lagoa ainda não funciona com toda a sua capacidade (há, por exemplo, dois médicos que se reformaram recentemente). No entanto, a elevação da Unidade de Saúde a Centro de Saúde garante quadros adequados à população do concelho.

O incêndio deflagrado no Hospital Divino Espírito Santo o Governo Regional dos Açores determinou que o Centro de Saúde de Lagoa ficasse responsável pelo Serviço de Atendimento de Urgência (SAU)…
O incêndio ocorrido numa parte técnica do Hospital do Divino Espírito Santo foi muito menor do que as suas consequências. Apesar de o fogo não se ter alastrado por outros compartimentos, desabilitou completamente o hospital de referência de todo o arquipélago. Todos os serviços hospitalares tiveram que se deslocar, sendo acolhidos nas instalações de outros prestadores de cuidados de saúde e em estruturas adaptadas, em carácter urgente. A Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel (USISM), sem qualquer descaracterização da sua vocação de prestar Cuidados de Saúde Primários, respondeu imediatamente às necessidades de saúde da população subitamente instalada, através da reorganização dos serviços prestados nas nossas Unidades Básicas de Urgência e da cedência de espaço físico para que as especialidades hospitalares continuassem a desenvolver a sua missão. Por não haver na ilha estrutura com dimensão adequada nem condições técnicas para o comportar, o Serviço de Urgência foi desmembrado em dois pólos: o Hospital CUF e o Centro de Saúde Ribeira Grande. Este, adequado a dar resposta a situações de instalação súbita recente que provoquem desconforto ao paciente (urgência) e o primeiro, apropriado a resolver as situações de urgência com risco de vida, isto é, condições em que a falta de intervenção médica imediata conduz ao óbito (emergência). O estabelecimento desses novos serviços exigiu uma articulação estreita entre todas as entidades envolvidas e a tutela. O ‘ajuste fino’ era feito em base diária e muito precocemente percebeu-se a necessidade de um serviço de atendimento urgente próximo do Hospital CUF, aonde recorriam pacientes apresentando situação não emergente, mobilizando recursos preciosos para o atendimento de emergências, que poderiam comprometer a sua resolução. Assim, a tutela aceitou a proposta da USISM de criar no Centro de Saúde Lagoa o Serviço de Atendimento Urgente, que passou a receber aqueles pacientes. A triagem é um dispositivo eficaz na determinação do grau de urgência de um problema de saúde que o paciente apresenta. É realizada por serviço, que se responsabiliza pela classificação atribuída a cada caso. Assim, numa transferência, o grau de urgência atribuído na triagem do serviço que referencia deve ser revisto no serviço que recebe o paciente. No caso de ser detectada uma emergência num serviço que não esteja vocacionado para resolvê-la, o serviço de emergência médica (Serviço SIV Açores) é activado, através do contacto entre o médico assistente e o médico regulador, e, depois de estabilizado, o paciente é transferido para o lugar adequado.

Com a implementação de SAU no Centro de Saúde de Lagoa que medidas foram implementadas para haver essa conjugação entre os serviços que o Centro de Saúde de Lagoa presta diariamente e o Serviço de Atendimento Urgente?
A criação do Serviço de Atendimento Urgente no Centro de Saúde Lagoa não implicou qualquer alteração nos serviços que já vinham a ser prestados naquele centro de saúde. A Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel em muito pouco tempo realizou as obras necessárias e cedeu o espaço físico para que as especialidades hospitalares pudessem, ali, desempenhar o seu papel. Posteriormente, o Serviço de Atendimento Urgente do Centro de Saúde Ponta Delgada é criado nos mesmos moldes, finalizando o ciclo de implementação da resposta em atendimento urgente nos seis concelhos.

Que medidas foram implementadas nas Unidades Básicas de Urgência (UBU) no Nordeste e Vila Franca do Campo? E como reagiram os utentes?
Numa medida de precaução, visando a segurança da população, a tutela determinou a abertura permanente (24/7) das Unidades Básicas de Urgência de Vila Franca do Campo e Nordeste, garantindo atendimento urgente permanente de proximidade em 5 dos 6 concelhos. Felizmente, a recorrência nocturna a essas UBU revelou-se diminuta e constatou-se que o serviço de emergência médica tinha capacidade para lidar com aqueles raros casos, como já vinha fazendo antes.

Pode concluir-se que se reforçou, com estas medidas, os Cuidados Primários de Saúde na ilha de São Miguel? Em que dimensão?
De maneira pecaminosamente orgulhosa, acredito que a resposta dos Cuidados de Saúde Primários ao nefasto evento ocorrido no nosso hospital veio a comprovar o compromisso colectivo da USISM com a saúde e o bem-estar da população micaelense, concretizado pela dedicação e abnegação dos nossos profissionais, que fazem elevar a qualidade de vida das nossas comunidades.
Estou convencido de que, se esse evento tivesse ocorrido no continente português, a resposta teria sido bem diferente, considerando a situação periclitante dos serviços de saúde de lá. Já reconhecidos pela tutela, que vem apostando nos Cuidados de Saúde Primários, o seu papel e a sua importância tornam-se mais uma vez evidentes (lembremo-nos da pandemia Covid) junto à população e ao poder político.

Pode afirmar-se que todos os micaelenses têm médico de família? Quer explicar?
A cobertura da população, no que diz respeito a inscrição em lista de Médico de Família, é, virtualmente de 100%. Convido-vos, mais uma vez, a comparar a situação da Região à do continente português. O número de utentes sem Médico de Família é residual e decorre sobretudo da recusa do cidadão em inscrever-se em lista de Médico de Família. Trata-se de um processo dinâmico, em que o número da população varia de dia para dia (nascimentos, óbitos, migrações…) e o número de médicos de família necessários deve ser previsto com antecedência: considerar os médicos prestes a se reformar; os Internos (médicos em fase de aquisição das competências da especialidade de Medicina Geral e Familiar) a quem damos formação que pretendem manter-se na Região; a abertura de concursos para provimento de vagas para médicos de fora da Região; a necessidade de substituição dos médicos em ausências prolongadas e outras considerações. Na organização dos cuidados de saúde primários, na década de 80 do século passado, já aludida na resposta à primeira pergunta, a dimensão da lista era de 1500 pessoas por médico. Tratava-se de um número consensual, previamente discutido e aceite pelas partes interessadas (Governo e organizações representativas dos médicos). Actualmente, este número é de até 1900 inscritos por médico, dificultando o desempenho integral das funções para que o Médico de Família tem competência. Assim, também é necessário considerar a redução da dimensão da lista de utentes.

Neuza Almeida

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