Eu gosto do HDES! Um gosto que é um misto de sentimentalismo e de nostalgia, dos tempos em que toda uma geração de médicos, enfermeiros e todo o pessoal do velho hospital de S. José, fizeram a mudança do século XX mais importante na Ilha de S- Miguel e para a população dos Açores; à parte o 25 de Abril, a conquista da nossa Autonomia; e um aeroporto.
A visão de um homem determinado, que foi o Dr. José Estrela Rego, imperou sobre o imobilismo e aceitação de condições de trabalho indignas, impossíveis de fazer crescer a diferenciação e a qualidade assistencial, num mundo da Medicina em rápida evolução. Mesmo assim optou-se pela solução mais barata, já desatualizada pelo tempo de espera, incompleta, deixando entre outras obras por fazer, um quinto piso poente em tosco, esventrado, servindo primeiro de armazém indiferenciado e posteriormente de armazém de material clínico e de consumo, com promessas de recondicionamento que nunca aconteceram.
Bem ou mal? Penso que o HDES, cumpriu o melhor que pôde a sua missão, mas não conseguiu modificar-se ao ritmo das exigências do grande crescimento da sua diferenciação clínica e exigências de espaço para implementação de novas tecnologias e serviços. Foi degradando, envelhecendo e encurtando, acomodando-se em circuitos desadequados e em ocupação de espaços sem conexão com os fluxos e as realidades assistenciais
Ficamos na versão 1.0, mesmo com a implementação de novas valências como a Unidade de Cuidados Intermédios e a Unidade de Hemodinâmica, um novo equipamento de Ressonância magnética, a Unidade de Genética Molecular; e modificações na Oncologia medica e na hemodiálise, tudo remendos numa estrutura que não tinha sido concebida para crescer tanto e tão depressa.
Consulta externa, Serviço de Urgência de adultos e pediátricos, Hospital de dia, Cirurgia de ambulatório, Medicina Intensiva, e Intermédios, Obstetrícia, Bloco de partos e Neonatologia, Blocos de Internamento, e por aí fora, esperam por novos planos há quase tantos anos quantos os planos de ação anuais discutidos pelos diretores de Serviço com as Administrações.
Tempo houve para sabermos se a atual estrutura comportava tais imperativas mudanças. O motivo foi sempre o mesmo, não havia financiamento.
Esta dinâmica de recondicionamento de um HDES, já desadequado e em degradação, não aconteceu, o que faria com que continuasse a funcionar com garantias alargada de cumprimento das missões que lhe compete.
Agora temos um problema novo e dois problemas velhos. Problema novo foi o da inoperabilidade do velho hospital por um incidente que por um problema velho, comprometeu mais ainda o que já estava comprometido. Descobriram as fragilidades com que determinados serviços funcionavam. Aliás, acordaram para a realidade de que afinal todo o HDES estava velho.
O outro problema velho, é o das promessas. Esperam-se planos para quê? Para recauchutar, recondicionar; ou na mais ousada decisão, partir para a construção de um hospital novo?
Ninguém sabe, embora aposte-se que vai prevalecer o que ao menor custo se ponha a funcionar o velho hospital; isto é, que seja recauchutado, substituindo- se aqui e ali o óbvio e estritamente necessário.
E porquê? O relatório do Tribunal de Contas em relação ao HDES éassustador e elucidativo. Ninguém nos disse onde este governo vai buscar financiamento para dívidas e reconstruções; nem sequer sabemos até onde este governo de coligação. pode, ou quer ir com ou sem endividamento maior.
Uma coisa todos sabemos, se não investirmos agora num hospital que se adeque aos requisitos e qualidade assistencial não só para os dias de hoje, mas para mais trinta anos; serão promessas por cumprir; e o pior é que seremos nós a pagá-las.
Dionísio Faria e Maia