Que valores, que diplomacia, que princípios? Da Ética dos valores à diplomacia dos interesses.
Que valores? Ou quando os negócios estão primeiro.
Então que se assuma. E que se abandone o discurso falso e hipócrita de enaltecer valores morais e princípios éticos, nuns casos, para os esquecer noutros, alegando-se as circunstâncias e o pragmatismo dos interesses.
Quando estão em causa direitos fundamentais da pessoa humana, fará sentido esta dualidade de posturas?
Talvez seja oportuno citar a expressão “ fraco com os fortes e forte com os fracos”.
Ou como a confiança, o carácter e a credibilidade, se perdem ou se ganham nestes momentos.
São cruciais!
Há uns anos atrás, no Santuário de Fátima, realizou-se uma reunião, onde participaram membros da Igreja Católica da China, que como se sabe é controlada pelo regime.
Vai sobrevivendo, com muitos dos seus fiéis a serem perseguidos pelas autoridades, quando não são presos e sujeitos a torturas, perante o silêncio complacente de várias nações do mundo livre, que se dizem maioritariamente católicas.
Antes porém, de referir alguns apontamentos que se conseguiu obter da referida reunião e das condições em que decorreu, nomeadamente a tentativa de interferência do governo chinês, via embaixada em Lisboa, julga-se oportuno partilhar alguns comentários:
-A China já não é comunista, estalinista ou maoísta.
- É uma economia de mercado. Tem capitalistas e investidores. Vejam lá que até o Sr. Trump é “visita de casa” e troca cartões de amizade com o Sr. Xi.
Por aquela altura a Rede Internacional de Legisladores Católicos (ICLN), fundada em 2010, com o apoio do Vaticano, promoveu no Santuário de Fátima um encontro para debater questões da actualidade, como sejam a paz, a justiça e o bem comum.
O Cardeal Zen Ze-Kiun, Bispo Emérito de Hong Kong, participou no encontro, para além de outras personalidades, algumas controversas.
Funcionários da embaixada da China em Lisboa e acreditados pelo governo português, esquecidos que estavam em território luso, onde, por enquanto, é suposto existir liberdade de reunião e de expressão, tentaram à força boicotar a reunião e impedir o Cardeal de falar, para além de, e durante vários dias, fotografarem os participantes, saber o que debatiam e até seguiram alguns dos convidados nas orações feitas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, limitou-se a confirmar a presença dos funcionários chineses em Fátima e estar a investigar o assunto, tendo informado o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa do que se havia passado, mas apenas de forma informal.
Se bem se lembram, o Presidente Marcelo e o Ministro dos Estrangeiros Santos Silva, à frente duma enorme comitiva de grandes empresários portugueses, visitou a República Popular da China, retribuindo igual visita do Presidente Xi da China a Portugal.
Somos parceiros não aliados, aprontou-se a responder o Presidente de Portugal, a propósito do flagrante atropelo dos direitos humanos na China.
Visitou Macau, onde vivem alguns milhares de portugueses, que foram muito elogiados pelo contributo que têm dado para o desenvolvimento económico do território e pela influência que exercem para que muitos investimentos de Pequim tenham sido efectuados em Portugal, ou os que ainda estão projectados virem a ser concretizados.
Os acontecimentos em Hong Kong, embora com estatuto especial, têm evidenciado, quem na realidade manda no território, o que tem levado alguns membros da comunidade de Macau a mostrarem alguma preocupação.
Se dúvidas subsistissem, face aos últimos acontecimentos, julga-se que, até o cidadão comum estará de acordo que a República Popular da China, é uma ditadura comunista e totalitária, que com o seu regime dois sistemas, tem seduzido os grandes homens de negócios, e para estes, pelo menos para alguns, é quanto baste.
Até se poderá entender, que o processo chinês, tenha de ser “tratado com pinças”, pelas chancelarias.
Mas que não se voltem a cometer os mesmos erros históricos, com o tratamento, pouco hábil e até ingénuo, dado a outros ditadores, como Hitler, Estaline, Maduro, Orbán, Putin, etc.
Foram erros que a Humanidade, tem pago bem caro, não só em milhões de perdas de vidas, como em retrocessos civilizacionais.
Lá está, não consta que tenham sido as elites empresariais, que os tenham denunciado, mas as elites do pensamento, como académicos, poetas, escritores, filósofos…
Hoje sabe-se que grandes grupos económicos e da alta finança, ontem como hoje, apoiaram e apoiam esses regimes.
Alegar as “circunstâncias históricas”, ou procurar refúgio para a “má consciência”, na filantropia, nas fundações e no mecenato, não parece ser suficiente para apagar a História, porque é essa mesma História que nos ensina, que foi sempre a Diplomacia com VALORES, a fazer vencimento, porque a isso obrigava a Democracia e a Liberdade.
António Benjamim