Edit Template

‘Foco-me muito na construção de músculos para a criação de um corpo saudável, sem dor, para nos mexermos bem até velhinhas’, diz coach açoriana que vive na Suiça

Para a micaelense Sara Silva, o desporto e o exercício físico foram sempre uma constante. Começou a praticar Aeróbica Desportiva aos cinco anos e chegou mesmo a competir no mundial na Bulgária, com a selecção nacional. Entretanto, apaixonou-se pela dança, área que seguiu na universidade, mas um diagnóstico médico fê-la de abandonar esse sonho. Apesar disso, nesta entrevista conta-nos que a sua “inquietação” para conhecer novos lugares culturas levou-a a procurar outro rumo primeiro para a Inglaterra e depois para a Suíça, onde reside actualmente. O seu percurso no mundo do fitness já conta com dez anos e a sua abordagem passa, sobretudo, pelos treinos personalizados que acompanham cada etapa da vida da mulher, como gravidez, pós-parto e menopausa. Mais recentemente criou a app Sara Silva Coach e afirma: “o meu projecto principal é expandir a minha presença online através desta aplicação, proporcionando apoio e orientação a mulheres em qualquer lugar do mundo.”

Correio dos Açores – Pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso? O que a levou a emigrar?
Sara Silva (fitness coach) – Nasci em Ponta Delgada, São Miguel (Açores), e tenho um elo inquebrável com as minhas raízes. Desde cedo, dizia que um dia viveria noutro país, longe da ilha. Não me lembro bem do motivo, mas sempre tive uma inquietação e um desejo de conhecer e vivenciar novas culturas. Estudei Dança na Universidade de Lisboa e, após concluir o curso, mudei-me para Inglaterra e, posteriormente, para a Suíça. No início, tive algum receio em emigrar para Inglaterra, mas, depois do primeiro passo, ficou tudo mais fácil. Já vivi em seis cidades diferentes, em três países diferentes. Não foi tudo fácil, mas, sem dúvida, o mais difícil foi o primeiro empurrão.

Como foi a sua adaptação à Suiça?
Quando me mudei para a Suíça, tive o apoio de alguns amigos de São Miguel. Fiquei em casa deles, e devo dizer que o sentido de inter-ajuda entre micaelenses é excepcional. Encontrei trabalho rapidamente num restaurante e consegui um quarto numa casa partilhada. A língua, o suiço-alemão, foi um grande obstáculo, mas não sou de desistir facilmente. Fui aprendendo com os clientes do restaurante e, hoje em dia, percebo suíço-alemão perfeitamente e já consigo comunicar. Confesso que a parte mais difícil foi habituar-me à cultura de trabalho. Porque a Suiça é um país de múltiplas oportunidades, mas é preciso trabalhar muito e ter muita determinação para alcançar algo.

Quando é que surgiu o interesse pelo desporto e pela área de fitness? Foi algo que sempre esteve presente na sua vida?
O meu interesse pelo desporto surgiu quando os meus pais perceberam que devido à minha hiperactividade, precisava de uma actividade física para gastar a minha energia. Comecei a praticar Aeróbica Desportiva aos 5 anos, no CORPORE. Aos 11 anos, fiz parte da selecção nacional, participando em várias competições internacionais, incluindo o mundial na Bulgária. Depois, inscrevi-me na ginástica de solo e trampolim. Com passar do tempo, decidi que queria dançar e apaixonei-me pela dança na escola da professora Milagres. Posteriormente, frequentei o curso de dança na Universidade de Lisboa. No entanto, a minha carreira na dança foi curta, pois fui diagnosticada com a doença de Ménière, que afecta o ouvido interno. Decidi, então, que a minha futura profissão estaria ligada ao corpo e ao movimento. Foi quando me apaixonei pelo Pilates. Ao mudar-me para Londres, fiz um curso de instrutora de Pilates e comecei a dar aulas para amigos. Quando me mudei para a Suiça, trabalhei na restauração e dei algumas aulas de Pilates. Entendi que, além de ser uma grande adepta do Pilates e do Barre, o uso de pesos é crucial para a construção muscular e então combinar o Pilates com o treino funcional, o que proporciona resultados incríveis. Fiz o curso de personal trainer e comecei a dar aulas privadas. Estou no mundo do fitness há 10 anos e sou apaixonada pela mistura entre Pilates e treino funcional.

Pode falar um pouco sobre a sua abordagem de coaching? O que a motiva a focar-se especificamente em programas de fitness para mulheres?
O trabalho com as minhas clientes começa sempre com uma avaliação global que inclui a análise de padrões de movimento, de compensações e de desequilíbrios corporais. Depois de feito esse estudo inicial, construo um programa personalizado para trabalhar nas necessidades específicas de cada cliente. Foco-me muito na construção de músculos, mas ainda mais na criação de um corpo saudável, capaz de se mover sem dor, com o objectivo de “se mexerem bem até velhinhas”. Também ensino algumas noções básicas de nutrição, tudo dentro do meu âmbito de actuação. Explico o que são macronutrientes e micronutrientes, a importância da proteína, como dividir os macronutrientes num prato sem ter que contar calorias, etc. Quando necessário, recomendo uma nutricionista de confiança.
Embora tenha clientes homens, a minha missão é orientar mulheres com o intuito de terem uma vida saudável. Tudo começou quando treinei uma das minhas clientes antes, durante e depois da sua gravidez e percebi que ela passou por fases que a transformaram completamente. Como “coach”, senti a necessidade e a responsabilidade de me adaptar, percebendo que as mulheres precisam e merecem programas de exercício específicos dependendo da fase da vida em que se encontram. Os treinos que fizemos antes, durante e depois da gravidez foram bastante distintos. Até a maneira como a motivava e falava com ela mudou muito. Nós, mulheres, não somos complicadas, somos seres em constante processo de mudança, maravilhosamente únicas e merecemos ser tratadas como tal.

“Tudo começou quando treinei uma das minhas clientes antes, durante e depois da sua gravidez e percebi que ela passou por fases que a transformaram completamente. Como coach, senti a necessidade e a responsabilidade de me adaptar, percebendo que as mulheres precisam e merecem programas de exercício específicos dependendo da fase da vida em que se encontram.”

De que forma as suas experiências pessoais influenciaram a sua abordagem ao coaching?
Considero-me uma “fitness coach” muito compreensiva e uma pessoa que se relaciona facilmente com os outros. O facto de lidar com duas doenças crónicas tornou-me mais atenta às diferentes necessidades das pessoas no que toca ao exercício físico. Fui diagnosticada com adenomiose, que é parecida com a endometriose, e todos os meses passo por dores terríveis e bastante incapacitantes. Percebi que tinha de adaptar os meus treinos de acordo com o meu ciclo, pois no meu caso durante uma determinada altura do mês a intensidade precisa de ser ajustada.
Penso que um dos meus pontos fortes é ser uma “coach” extremamente adaptável às condições dos meus clientes, e não o contrário. Fazer programas genéricos de X agachamentos, 3 séries de 12 repetições, não funciona para toda a gente. Não invento exercícios, e os básicos vão ser sempre os básicos, mas é muito importante fazer um treino adaptado à pessoa em questão. Sou conhecida pelas minhas clientes por proporcionar treinos complexos, mas sempre com boa disposição. Elas treinam arduamente, mas quase não se apercebem disso. Para mim, é muito importante que as pessoas se apaixonem pelo treino.
Já treinei de forma muito intensa, e aprendi que, na maioria dos casos, essa não é a melhor abordagem, especialmente para mulheres. Claro que há excepções, como as pessoas que treinam para bodybuilding e competições. Acho incrível o que elas fazem, mas, após 10 anos na área e algumas lesões, cheguei à conclusão de que o que me faz bem é treinar a minha mobilidade, força e trabalhar nas minhas compensações corporais. Lesões como distensões musculares e problemas nas articulações fizeram-me perceber a importância de ouvir o meu corpo e adaptar os treinos de forma a prevenir danos a longo prazo.
A mobilidade é essencial para garantir que o corpo se mova livremente e sem dor. A força é crucial para suportar a estrutura corporal e prevenir lesões. Trabalhar nas compensações corporais significa corrigir desequilíbrios que possam ter surgido devido a posturas inadequadas, movimentos repetitivos ou fraquezas musculares. Este foco permite-me criar um corpo mais equilibrado e funcional, capaz de realizar actividades diárias e exercícios físicos de forma eficiente e segura.

Quais são as principais diferenças entre os programas genéricos e aqueles que são especificamente delineados para mulheres?
Os programas genéricos de treino seguem um modelo padrão que pode não considerar as necessidades individuais. Os programas especificamente desenhados para mulheres ajustam os exercícios para lidar com questões como mudanças hormonais e fisiológicas em diferentes fases da vida, como gravidez, pós-parto e menopausa. Isso significa personalizar os treinos para fortalecer áreas específicas e garantir a segurança e eficácia para cada fase.

Quais são as maiores dificuldades que as mulheres enfrentam durante a gravidez, pós-parto e menopausa? Como é que os seus programas procuram responder às necessidades das mulheres em diferentes fases da vida?
Durante a gravidez, as mulheres frequentemente enfrentam dores nas costas devido ao aumento do peso e mudanças no equilíbrio. O programa de treino é adaptado para aliviar essas dores e melhorar a postura. A retenção de líquidos também é comum e é abordada com exercícios que promovem a circulação. Divido os exercícios em trimestres para adaptar o treino às diferentes fases da gravidez, focando em fortalecer a musculatura do core, melhorar a mobilidade e preparar o corpo para o parto.
No pós-parto, e sempre com a aprovação de um médico, o programa inicia-se com a recuperação da musculatura pélvica e o tratamento da diástase abdominal. Além disso, são feitos exercícios para aliviar dores nas costas, ombros e pescoço, que muitas vezes surgem devido à amamentação e ao peso crescente do bebé. Os exercícios são ajustados para restaurar a força do core e a estabilidade geral.
Para a menopausa, o programa inclui exercícios de resistência para fortalecer os ossos e combater a perda de densidade óssea, ajudando a prevenir a osteoporose. Além de promover a saúde óssea e melhorar a qualidade de vida, o treino é ajustado para lidar com sintomas como ondas de calor, alterações nos hábitos de sono e mudanças de humor. Exercícios aeróbicos são também incorporados para ajudar no controlo do peso e promover a saúde cardiovascular. O objectivo é garantir conforto e eficácia no treino, proporcionando maior energia e reduzindo o risco de doenças relacionadas com a idade.
Eu fiz um curso de “menopause coach”, desenvolvido por médicas, incidindo exclusivamente nas fases da menopausa. E durante os treinos, partilho com as minhas clientes dicas práticas para reduzir os efeitos negativos associados a este período que pode ser desafiador e, infelizmente, ainda é muitas vezes visto como tabu.

Tem alguma história que a tenha marcado particularmente que queira partilhar?
Como referi anteriormente, aprendi muito ao acompanhar uma cliente antes, durante e depois da gravidez. Foi fascinante testemunhar as mudanças que lhe foram acontecendo e perceber como a experiência de viver cada fase a transformou. Foi um verdadeiro despertar para mim, confirmando que estou no caminho certo profissionalmente.
Outra história significativa foi a de uma aluna que sofria com dores nas articulações e não conseguia obter um diagnóstico preciso dos médicos. Após algumas conversas detalhadas, suspeitámos que as dores poderiam estar relacionadas com a redução de estrogénio devido à peri-menopausa. O estrogénio tem propriedades anti-inflamatórias e a sua diminuição pode causar desconforto nas articulações. Quando ela fez exames, confirmou-se que estava, de facto, a passar pela peri-menopausa. Descobrimos juntas que a dor no ombro estava associada a esta condição.

Qual o segredo para manter a consistência na prática de exercício físico e uma alimentação equilibrada?
O segredo para manter a consistência é encontrar actividades de que gostamos e que se integrem naturalmente no nosso quotidiano. Estabelecer metas realistas e criar uma rotina que seja prática e agradável são factores que contribuem para manter o compromisso em prol da saúde. Além disso, ter um sistema de suporte, como amigos ou familiares que também valorizam um estilo de vida saudável, pode fazer uma grande diferença. A chave é fazer do exercício e da alimentação equilibrada uma parte natural da vida, em vez de uma obrigação ou um sacrifício.

Pode explicar-nos a sua visão acerca do ambiente de treino? Quais são os elementos chave desse ambiente?
Para mim, é essencial que as minhas clientes se sintam à vontade e motivadas durante o treino. Sou uma coach exigente e a minha prioridade é garantir que as minhas alunas se sintam compreendidas e seguras. Um ambiente de treino positivo e encorajador é fundamental. Os elementos chave incluem: comunicação aberta, ou seja, ouvir e entender as necessidades e preocupações de cada cliente; segurança e conforto, garantir que o espaço de treino seja seguro e que os exercícios sejam adaptados às capacidades individuais; motivação e apoio, oferecer encorajamento e celebração dos progressos, grandes ou pequenos; personalização: criar treinos que se adaptem aos objectivos e limitações de cada pessoa.

Que mensagem gostaria de transmitir às mulheres?
Cada fase da vida traz desafios e oportunidades únicas. Através do exercício físico e de uma abordagem personalizada, podemos enfrentar essas mudanças com confiança e força. Creio que as mulheres são incríveis e excepcionais em cada etapa da vida. Com apoio e conhecimento, é possível alcançar uma saúde plena e um bem-estar duradouro, desde que cada uma de nós aposte no seu cuidado próprio.

Quais são os seus planos futuros para o seu negócio? Há algum projecto em especial que gostaria de partilhar?
Ambiciono ajudar o maior número possível de mulheres, por isso criei uma “app” – Sara Silva Coach – que oferece programas especializados para as minhas clientes. Funciona de modo similar às aulas presenciais: começo com uma avaliação através de vídeo e fotos e depois crio um programa personalizado com vídeos explicativos, abordando desde a postura até à respiração correcta. Actualmente, o meu projecto principal é expandir a minha presença online através desta aplicação, proporcionando apoio e orientação a mulheres em qualquer lugar do mundo.
Daniela Canha

Edit Template
Notícias Recentes
PS/Açores abre porta para aprovar o Plano e Orçamento 2025 em acordo com o Governo dos Açores do PSD/A
Descarregadas 852,71toneladas de pescado em lota no mês de Agosto representa uma queda de 23,7% em relação a igual período de 2023
Encarregados de educação queixam-se das condições precárias em que se encontra a Escola do Aeroporto em Santa Maria
Empresa blueOASIS “quer tornar os Açores no Silicon Valley das tecnologias oceânicas”
Empresa blueOASIS “quer tornar os Açoresno Silicon Valley das tecnologias oceânicas”
Notícia Anterior
Proxima Notícia
Copyright 2023 Correio dos Açores