“Dois contentores da Câmara Municipal de Ponta Delgada junto à Escola Secundária das Laranjeiras encontravam-se ontem cheios de manuais escolares” que, segundo leitores do Correio dos Açores, alguns deles estudantes, estavam “em bom estado”.
Um dos alunos, que se identificou como Marlene, demonstrou a sua indignação, afirmando deparar-se com dois contentores “com uma tão grande quantidade de livros de diferentes anos de escolaridade e disciplinas”, o que considerou “uma vergonha, porque podiam ser oferecidos a quem precisa”.
Uma equipa de reportagem do Correio dos Açores deslocou-se ao local e pode constatar que, de facto, havia dois contentores de lixo cheio de livros escolares, a esmagadora maioria dos quais em bom estado, como documentam as fotos.
Luís Paulo Pereira Vieira Freitas, Presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária das Laranjeiras, confirmou ao Correio dos Açores que “os livros que foram encontrados nos contentores foram deitados fora para reciclagem. São manuais que já não estão em condições e, portanto, trata-se de um procedimento completamente normal que a escola efectua esporadicamente para dar espaço aos nossos armazéns.”
A Escola Secundária das Laranjeiras tem um protocolo com a Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, onde se acordou que os manuais que já não são necessários à comunidade escolar e, que não se encontram nas condições apropriadas, são enviados para o continente africano. No âmbito do projecto ‘Fajã de Baixo Solidária’ têm sido doados toneladas de manuais escolares, entre os quais os da Escola das Laranjeiras, “para serem entregues a alunos mais desfavorecidos, em Cabo Verde”, como confirmou o Presidente da Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, Luís Anjos.
O Presidente do Executivo das Laranjeiras refere, por sua vez, que “se os livros não são bons para a nossa escola, também não o são para outras”, acrescentando que “nunca iríamos colocar livros em bom estado no lixo”, esclarecendo que o protocolo com a Junta de Freguesia da Fajã de Baixo “serve justamente para esse fim”.
Luís Paulo Pereira realçou, em sequência, que “com a implementação dos manuais digitais em Portugal, na escola das Laranjeiras, estão apenas os alunos do 11.º e 12.º anos a utilizar manuais impressos.”
Pelo que foi dado a constatar aos jornalistas e aos leitores do Correio dos Açores muitos dos livros que se encontravam nos contentores de lixo para serem reciclados, ainda podiam ser doados a instituições de solidariedade que, em rede, têm ligações a movimentos solidários com países africanos de expressão portuguesa.
Causa estranheza aos leitores do Correio dos Açores que se esteja a colocar livros escolares em papel em caixotes do lixo em Ponta Delgada, valorizando os manuais digitais que estão a ser abandonados por países como a Dinamarca, Suécia, Reino Unido e Noruega por a solução não atingir os objectivos que se pretendia nas escolas.
Neuza Almeida/JP
