1- Aos 93 anos, faleceu ontem Álvaro Monjardino, que se destacava por ser uma pessoa de convicções próprias, mas disponível para gerar consensos. Durante anos foi um causídico que tendo escritório na Terceira, muitas vezes vinha a São Miguel como reconhecido jurisconsulto. Tal como muitos da sua geração, era um defensor da Terceira, mas ao assumir a sua função de membro da Junta Regional em 1975, passou a ser um persistente defensor da Autonomia.
2- Álvaro Monjardino será sempre lembrado pelo contributo que deu para a unidade dos Açores, porque sabia que a divisão que muitos defendiam antes, e que muitos defendem agora, é um caminho perigoso que levará à submissão de outrora e à perda da açoreanidade.
3- Esse caminho é ornamentado por escolhos que servem de arma de arremesso entre Ilhas, como ainda há dias foi plasmado no editorial publicado no dia 13 de Agosto no conceituado Jornal “Diário Insular”, com o título “andamos nisto há 50 anos”
4- Não sabemos quem é o seu autor, nem isso interessa, porque o que está em causa é o seu conteúdo, carregado de revanchismo contra São Miguel, colocando a Ilha encaixada numa teoria da locomotiva, que tem como único valor despejar dinheiro em São Miguel… semeando a ideia de que tal despejo leva a um processo de “osmose” fazendo acreditar as outras Ilhas, que acabam todas por beneficiar. Porém, o autor do texto é da opinião que tal osmose não funciona e até repugna a Autonomia.
5- O analista fala de pseudo elites micaelenses bafejadas pelos dinheiros públicos que recebem, para depois separar os Açores em duas fatias, uma que é São Miguel, e a outra formada pelas oito Ilhas restantes, porventura lideradas pela Terceira. O articulista revela, desse modo, a aversão que ostenta quanto a São Miguel, concluindo, por fim, que este modelo de Autonomia não lhe interessa.
6- O texto editorial parece ter sido construído a duas mãos, uma primeira mão esgrimindo contra 137. 220 Açoreanos, que é a população de São Miguel, revelando ao mesmo tempo um fervor pela ruptura entre Ilhas, apontando como facto, que não é de agora, em que várias Ilhas acusam problemas que começam na falta de população, o que naturalmente se reflecte depois no desenvolvimento económico de cada uma.
7- Sendo um problema grave como se sabe, ele não tem a ver com a Autonomia, mas sim com a falta de pessoas para repovoar as Ilhas mais carecidas, e como se sabe, não é possível resolver o problema sem novos nascimentos ou sem novos imigrantes.
8- A outra mão, que escreve a segunda parte, parece apontar para uma desforra política entre partes que tem origens longínquas desde há 50 anos atrás, e que faltou a coragem ao protagonista para uma desforra cara a cara.
9- Isto porque na parte que se reporta à política, começa-se por argumentar, baseando-se em trabalhos mais do que credíveis, conforme é dito, que em 1974-1976, os Açoreanos não estavam preparados para um sistema autonómico, negando ainda a existência, à data, de pensamento autonómico.
10- Mesmo que isso fosse verdade, o que não é, quem assim pensa agora, cai numa armadilha, esquecendo que em 1974 a emigração é que salvava muitas famílias que partiam para outras paragens, buscando melhores condições para conseguirem tudo quanto lhes era negado nas Ilhas que eram adjacentes, enquanto apenas poucos viviam como senhores feudais, e não pelos interesses micaelenses, como os “novos messias” da desgraça querem transformar como verdade.
11- Dizer que em 1974-76, os Açores não estavam preparados para um sistema autonómico é o mesmo que dizer que as colónias ultramarinas não deviam ter assumido a independência por falta de preparação.
12- É livrar de quem vive semeando a cizânia entre as Ilhas e os Açoreanos, servindo-se disso para obter outros fins inconfessáveis.
13- Porém, quem assim pretende, pode estar ciente que terá sempre a resposta que for adequada, nem que seja necessário retomar os combates outrora travados, alguns dos quais em que participou Álvaro Monjardino.
Américo Natalino Viveiros