Chegou-me às mãos um livro de Javier Moro, um escritor e jornalista espanhol conhecido pelas suas obras que combinam narrativa histórica com um estilo de romance. Ele já escrevera sobre figuras e eventos históricos com uma abordagem detalhada e envolvente.
Neste caso, refiro-me ao livro “O Império És Tu”, onde Javier Moro narra a vida de D. Pedro I, o primeiro imperador do Brasil e rei de Portugal (como D. Pedro IV). Este romance histórico é uma biografia ficcionada que explora as complexidades de D. Pedro como figura histórica, tanto como monarca, como ser humano cheio de paixões e contradições.
O livro percorre o período em que D. Pedro I desempenhou um papel crucial na independência do Brasil e na sua transformação de colónia portuguesa num país independente, bem como o seu regresso a Portugal, onde se tornou D. Pedro IV e teve que enfrentar uma guerra civil para garantir a continuidade da monarquia constitucional.
O autor detalha as relações pessoais de D. Pedro, incluindo o seu casamento com a imperatriz Leopoldina, alargando-se no seu caso amoroso com a açoriana Domitila de Castro, que a nobilitou como Marquesa de Santos. As intrigas palacianas, as tensões políticas e os dramas familiares são apresentados de maneira sublime como era o homem por trás da figura pública. Os desafios políticos que enfrentou nos dois lados do Atlântico fazem desta narrativa muito apelativa, tendo sido para mim surpreendente saber que a influente concubina era originária da ilha Terceira.
Javier Moro é conhecido pela sua pesquisa meticulosa e pela capacidade de transformar eventos históricos em narrativas cativantes. Em “O Império És Tu”, ele alia elementos biográficos com uma prosa acessível e dramática, o que torna a leitura interessante, tanto para historiadores quanto para o público em geral.
O livro foi bem aceite pela critica literária e ganhou o Prémio Planeta em 2011, um dos prémios literários mais prestigiados do mundo de língua espanhola. A obra trouxe uma nova perspetiva sobre D. Pedro I, ressaltando a sua importância na formação do Brasil como nação independente e destacando as complexidades da sua personalidade.
O título “O Império És Tu” reflete a dualidade do papel de D. Pedro como imperador do Brasil e, posteriormente, como rei de Portugal. Ele foi uma figura singular na história, pois governou dois países em continentes diferentes, em tempos de grandes mudanças políticas e sociais.
Como D. Pedro I, ele foi o arquiteto da independência brasileira e o primeiro imperador do país, uma figura central na transição do Brasil de colónia a nação independente. Com a sua decisão do conhecido “Fico” e assim permanecer no Brasil liderou o movimento de independência e foi crucial para o destino do país.
Como D. Pedro IV, ele foi uma figura decisiva na guerra civil que assegurou o triunfo do liberalismo sobre o absolutismo em Portugal. Ele abdicou do trono brasileiro em favor do seu filho, D. Pedro II, para se concentrar na luta política em Portugal, onde o seu legado é igualmente significativo.
“O Império És Tu” oferece uma visão rica e detalhada sobre a vida de D. Pedro, revelando-o não apenas como um líder político, mas como um ser humano cheio de contradições e paixões, que deixou uma marca indelével na história de dois países.
Domitila de Castro, foi amante do imperador Pedro I, de quem recebeu o título nobiliárquico de Marquesa em 1826. Era filha João de Castro Canto e Melo, que nasceu em Angra, em 1740 e emigrou para o Brasil, tornando-se em Camarista de Sua Majestade D. Pedro I, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real Portuguesa e Comendador da Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Imperial Ordem de São Bento de Avis. Foi agraciado com o título nobiliárquico de Visconde com honras de Grandeza por D. Pedro I do Brasil.
A filha Domitila era conhecida como a Marquesa de Santos, teve uma influência significativa sobre Dom Pedro I, durante o período em que mantiveram um relacionamento amoroso. Esta influência manifestou-se em vários aspetos da vida política e pessoal do imperador, sendo um dos episódios mais notórios da história do Brasil Império.
A Marquesa de Santos foi uma figura central na corte brasileira e tornou-se amante de D. Pedro I em 1822, pouco depois da independência do Brasil. A sua influência não se limitou à esfera privada, dado que ela desempenhou um papel significativo na política e na sociedade da época. Um livro a ler, porque há também inúmeras referências curiosas de D. Pedro IV por terras açorianas, antes de partir de S. Miguel com as suas tropas para o Porto para restaurar a regência de D. Maria da Glória.
António Pedro Costa