Na Rua da Cancela, 54, em São Pedro de Vila Franca do Campo, surge a Olaria
Mestre João da Rita, a evidenciar a arte de moldar o barro.
A olaria foi renovada em 2004 e é composta pelelo equipamento tradicional, com barreiro, roda de oleiro, expositores de madeira para as peças e olaria, um sótão, um forno antigo no exterior, uma sala com um forno eléctrico e uma sala de trabalho.
No local tivemos a sorte de encontrar o Mestre João da Rita, de 68 anos de idade.
Pouca gente sabe que o Mestre João da Rita é João José Rodrigues Carroça, nome de baptismo. “Com 8 anos de idade comecei a pisar o barro com os meus tios maternos e a família do meu pai era vencedora de louça”.
João da Rita recorda o seu avô paterno, quando este vendia louça que transportava às costas, mas depois surgiram os burros e as carroças.
“Vendia-se louça miúda pela costa toda, nas Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres também, mas a louça grada vendia-se noutras localidades, nomeadamente alguidares e balsas”.
Talhão de Santa Maria e talhas
O “Talhão de Santa Maria” evoca um tempo em que a água era tratada como um bem precioso, porque “não havia água nas casas, então as mulheres iam aos fontanários buscar água com as talhas, que depois despejavam a água nos talhões”.
Os utensílios de barro tinham diversas utilizações, muitas delas para conservação de alimentos (porco, peixe e pimentas), como balsa direita, balsa direita com asas, caçarola ou boião.
“O sal e a banha de porco eram utilizadas para a conservação dos alimentos, mas hoje em dia usam-se os congeladores. A carne era dessalgada com água, num processo idêntico à demolha do bacalhau”.
Apitos e mealheiros ainda hoje são muito procurados, mas também lava-mãos, alguidar pequeno (lavar os pés) e saboneteiras.
Os brinquedos eram de louça
“No meu tempo não havia brinquedos e os brinquedos eram de louça de barro, que vendíamos muito nas Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Água de Pau, nas Furnas e nas Festas do Senhor Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca do Campo”.
O Mestre João da Rita já não trabalha o barro e passou o testemunho a um dos seus três filhos, Rui Rodrigues. “Ele é tão, ou mais habilidoso do que eu”, assegurou.
O barro, que agora é utilizado vem do continente e já não é de Santa Maria, porque agora vem com muitas impurezas. “Antigamente vinha mais limpo, porque era retirado com cuidado e com enxada, mas agora como é tudo mecanizado, vem muita terra que não é barro”, lamenta.
“Molhava-se, um pouco, o barro com um orvalho (água), extraia-se alguma impureza que pudesse existir ou esmagava-se o barro com as mãos, para depois ser pisado com os pés para ficar mais maleável”.
Em média, por dia, chegava-se a fazer entre 25 a 50 peças de barro.
É preciso dar valor a esta arte!
Mestre João da Rita acredita, que “esta é uma arte que pode ter futuro, mas apenas se forem dados passos seguros nesse sentido, caso contrário, “qualquer pessoa como o meu filho, vai passar por muitas necessidades se não tiver um ordenado fixo”, porque ele trabalha ao abrigo de programas que nem sempre duram.
João da Rita é natural da freguesia de São Pedro e passa muito do seu tempo ali, ver o seu filho lidar com o barro. “Já não faço nada, porque as minhas mãos já não aguentam, de tanto trabalhar o barro”, durante 60 anos.
Roteiro das Olarias da Vila
A Olaria Mestre João da Rita é um dos quatro pontos do Roteiro das Olarias da Vila, uma iniciativa que partiu da Junta de Freguesia de São Pedro e foi concretizada pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo.
O projecto do Roteiro das Olarias da Vila é promovido pelo Museu Municipal de Vila Franca do Campo.
De referir, que as olarias eram chamadas de “tendas” e tradicionalmente eram compostas por um ou dois compartimentos, onde existia um “barreiro”, uma ou várias rodas em madeira, um “estaleiro”, prateleiras de madeira e um forno em pedra para o cozimento da louça.
As tendas eram espaços com pouca luz natural, frios e húmidos, com paredes de pedra, o chão, em terra batida e um “sacadoiro”, acessível através de uma escada em madeira amovível.
Marco Sousa
