O Projecto Diana foi criado em 2012. Em que consiste?
Padre Eurico Cipriano (Pároco da Igreja Matriz de Santa Cruz da Lagoa) – O Projecto Diana surge pela insistência de uma jovem surda, a Diana, em querer aprofundar a fé e perceber as vivências da comunidade. É por isso, um lugar onde os surdos se sentem parte da comunidade porque entendem na sua forma de comunicar, podem perceber o que é dito, responder e até cantar.
Para além da Comunidade surda quem faz parte integrante deste projecto?
A Comunidade Surda é muito acolhedora, por isso aceitam todos. Mas como é normal, cada surdo tem uma família, e, por norma, cada família toma parte nas actividades e projectos.
Houve dificuldade em recrutar intérpretes de linguagem gestual para a colaboração com a Igreja Matriz de Santa Cruz?
Julgo que desde sempre houve disponibilidade das intérpretes em ajudar no projecto. Continuamos com essa ajuda preciosa uma vez por mês. Se tivéssemos mais interpretes, poderiam ter essa tradução semanal, em vez da actual mensal.
O projecto foi bem aceite pela paróquia e comunidade?
Sim. A comunidade de Santa Cruz é acolhedora. Saber que todos têm acesso à celebração e poder participar, compreendendo, é algo gratificante. Além disso, nota-se essa inclusão e aceitação também com outras dificuldades como, por exemplo, o autismo.
Está a dar-se uso à linguagem gestual em outras áreas da Igreja Matriz de Santa Cruz?
Vamos, este ano, fazer formação específica para os catequistas nas áreas especiais, em particular no autismo e também dos surdos. Sem uma compreensão das dificuldades de cada um é impossível uma empatia e aproximação. Além disso, o grupo de Jovens do MEJSh acolheram muito bem a Diana e procuram, com alguma limitação, fazer uso do pouco que aprenderam para comunicar em Língua Gestual Portuguesa.
Quais as estratégias de ensino que são utilizadas para uma maior inclusão e integração da comunidade surda na Igreja Católica?
Partimos muito daquilo que é a curiosidade ou o que não entendem. É mais prático começar por aí. Depois vamos aprofundando várias áreas: das relações, dos crentes, do porquê de gestos, cores e ritos, entre muitas outras circunstâncias.
Em que consiste o Serviço Pastoral de Apoio a Pessoas Surdas da Matriz de Lagoa?
Este serviço consiste na abertura que é feita da comunidade cristã em acolher a pessoa surda e ela se sinta parte integrante da mesma e não um adereço. É um serviço com crescimento, uma vez que abrange pessoas surdas de várias partes da ilha.
Qual o enquadramento do Projecto Escuta?
O Escuta pretende ser um pequeno vídeo com a mensagem do Evangelho de cada Domingo. De momento está suspenso, mas pensamos recomeçar no próximo ano pastoral.
Já se encontra em vigor o vídeo-guia para a Coleção Visitável da Matriz de Lagoa que vai permitir que uma pessoa surda possa visitar este espaço museológico da Paróquia?
Sim, está em funcionamento. É residual a adesão ao vídeo-guia. No entanto, é uma mais-valia para ajudar quem visita a Colecção Visitável a entender as peças e a história de cada peça em cada espaço.
Vão participar na Peregrinação Nacional da Comunidade Surda ao Santuário de Fátima.
Por aquilo que conheço, até ao momento, é o único grupo organizado que participa na Peregrinação, que este ano conta com cerca de 28 participantes. São de várias comunidades da ilha e que encontram, em Fátima, surdos crentes como eles, onde partilham, rezam e cantam juntos. A partilha de experiências é muito importante, o ver cegos-surdos é uma experiência emocionante. Por vezes há encontros internacionais, o que torna a experiência mais rica
No enquadramento da do Dia da Freguesia de Santa Cruz, vão organizar uma angariação de fundos em favor do Projecto Diana e catequese de Santa Cruz? Que motiva esta angariação de fundos?
Sim. O motivo é colmatar a despesa que leva o grupo até Fátima. Na maioria são jovens, alguns estudantes. É uma forma de a comunidade os ajudar neste poder viver uma experiência diferente e de fé.
Quais sãos os objectivos e expectativas para o futuro do projecto Diana?
Queremos consolidar o caminho até agora percorrido e, quem sabe, poder ajudar a comunidade a compreender ainda melhor as pessoas surdas, procurando ser sempre uma comunidade inclusiva.
Neuza Almeida