O Secretário da Agricultura e Florestas, António Ventura, considerou a Unidade Industrial da Bio-Kairós que foi lançada ontem na Malaca “um projecto que tem várias articulações e que engloba princípios e valores” como a “inclusão, a inovação e a expedição no âmbito de conceitos como a biodiversidade, economia circular e agricultura biológica.”
“Estamos a assistir à criação de uma economia local, que irá utilizar produtos nunca antes utilizados, transformá-los no âmbito da saúde humana e vendê-los não só no mercado local mas também para a expedição,” salientou António Ventura.
O projecto, no valor de 1,1 milhões de euros, que vai ser instalado numa área de 80 mil metros quadrados, recebeu um apoio de 85% do Plano de Recuperação e Resiliência. É um dos 16 projectos que foram aprovados, no âmbito do PRR para o sector agrícola num montante global de 8,5 milhões de euros, uma verba que, segundo o governante, está esgotada.
Na unidade industrial, que deverá estar concluída no próximo ano, vão ser criadas duas linhas de transformação, de processamento e embalamento, uma para os produtos hortícolas e a outra para transformação de folhas aromáticas e folhas de árvores para serem utilizadas em produtos para a nutrocêutica, farmácia e fitofarmacêutica.
Artur Martins, Coordenador Executivo Kairós, considerou o projecto da unidade industrial como “um centro de competências para a inovação” ao nível da agricultura biológica, nomeadamente com produtos de quarta gama, dos bio-pós e dos bio-compositos.
Os bio-pós, realçou, por sua vez, a directora executiva da Bio-Kairós, Raquel Vargas, serão obtidos através das folhas de árvores que já “estão bastante adaptadas ao nosso ambiente”, tais como as anoneiras, nespereiras, goiabeiras e diospireiros. São linhas que temos vindo a plantar. O nosso parceiro da Mormig é que investe nas árvores, fazendo a sua cedência e nós fazemos o procedimento da produção. No ciclo de crescimento vamos estudando as folhas, no sentido de perceber as propriedades que elas têm (…)”.
Raquel Vargas afirmou que vão agregar à Bio-Kairós o ‘K Integra’, ao nível da formação de
“pessoas que trabalham connosco que têm algumas dificuldades de autonomia. E teremos também a loja que estará envolvida.”
Estimulou, por outro lado, outros produtores Bio que “queiram deixar os seus produtos aqui, que nós podemos em parceria trabalhar todos em conjunto.”
A directora executiva anunciou que tem planeado, numa zona perto da fábrica, a construção de algumas casas modelares, como resposta ao turismo. Como explicou, “há muitas pessoas, essencialmente estrangeiros, que, na parceria que temos com o Chef Cláudio, nos procuram, e que pedem para ficar algum tempo connosco e querem ficar na quinta a usufruir de um ambiente onde vêem pessoas que conseguem superar os seus obstáculos e que podem ficar neste ambiente tranquilo e poder colaborar na produção.”
A parceria da CIMPA
e da Universidade
A Unidade Industrial da Bio-Kairós vai ser desenvolvida em cooperação com a Universidade dos Açores e Artur Gil, vice-reitor para a Ciência, Inovação e Transferência de Conhecimento, manifestou satisfação por o estabelecimento de ensino superior “fazer parte de um projecto disruptivo “ que, no seu entender, “é o paradigma do que deverá ser o desenvolvimento regional. Porque envolve os quadrantes todos da sociedade,” referiu.
Através da Universidade dos Açores, completou, “disponibilizamos o nosso conhecimento, o nosso saber e também a nossa colaboração para todas as actividades que possam contribuir para o crescimento do projecto,” garantiu.
O projecto tem também a parceria do CIMPA – Centro de Inovação de Materiais e Produtos Avançados e Raquel Galante considerou “um grande privilégio ser parte desta grande equipa e deste grande projecto.”
A função da CIMPA é fazer com que todos os produtos fabricados na unidade industrial surgem no mercado “num envelope biológico, numa embalagem biológica e com carácter que de toda a importância que os produtos que sairão deste projecto merecem. Estaremos cá para que tudo o que se produzir aqui possa ser valorizado e transformado” para que se “agregue mais valor” ao projecto.
Avelino Ormonde: “Pequenos
de coração grande”
O projecto da unidade industrial da Bio-Kairós ganhou força com o empenho de Avelino Ormonde, CEO da Bio-Fontinhas, uma empresa com sede na Terceira. “Venho falar-vos de um projecto que começou pequenino. (…) Começa-se de pequeno, acredita-se, teve que se fazer uma revolução. Os que estavam tinham hábitos que não poderíamos continuar a ter (deixar a arte de não fazer nada para começarmos a arte do trabalho), que é muito importante na agricultura ou onde quer que seja,” referiu Avelino Ormonde.
Anunciou que se conseguiu, assim, que uma quinta que rendia 200 a 300 euros, passasse a render dois mil euros. “E é isso que eu queria instituir: unidades de energia, de trabalho. Nós pomos e depois retiramos. É importante o agricultor saber que quando dá, tem de receber. E temos de criar sustentabilidade. Criamos um espaço de produção, que depois passou aqui para a Malaca. E para os que acham que isto já deu muito trabalho, o trabalho começa agora,” afirmou.
Revelou que o projecto se vai iniciar com a produção biológica de saladas, “uma área que começa a render mais rapidamente.”
Deu como exemplo a Bio-Fontinhas que “trabalha todos os dias do ano. (…) A produção nunca pára, e trabalhamos com chá de composto e com um preparado à base de ervas daninhas. Estes são os produtos que usamos e são de auto-suficiência a 100%. Se houvesse uma crise, a Bio-Fontinhas continuava a trabalhar. E é isto que é preciso meter na cabeça dos agricultores. Temos de nos tornar cada vez mais auto-suficientes. Temos de ajudar a MUSAMI a reciclar ainda mais e melhor,” salientou Avelino Ormonde.
Como referiu, “queremos tocar todos os chefes de cozinha em São Miguel. Somos pequenos com uma alma muito grande. Não vamos nunca ser grandes nos Açores comparativamente aos outros. Queremos impactar com coisas diferenciadas.”
Como explicou, a linha de produção de aromáticas e folhagens “é uma inovação. Queremos ser os primeiros europeus a fazer isto bem feito, ainda por cima com uma certificação Bio em cima. Esse pó é pegarmos em folhas de árvores que temos dificuldade em produzir fruta e rentabilizar. Temos de produzir um pouco de tudo. Temos de ter biodiversidade tanto na horta como na mesa,” salientou.
“Isto vai funcionar e vai funcionar bem. Quando nasce, nasce assim: parece pobre mas já tem muita alma das pessoas que já estão a trabalhar. Daqui a um ano ou dois quando cá voltarem, vão ficar surpreendidos,” completou.
Na oportunidade do lançamento do projecto da Bio-Kairós, o Secretário da Agricultura, António Ventura anunciou que o projecto do Laboratório do Leite em São Miguel, um investimento de 3 milhões de euros, vai ficar concluído em Setembro.
Frederico Fiqueiredo