Rui Santos é o Presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca, da Vila Franca do Campo, desde 2021, cumprindo o primeiro mandato. Aos 33 anos, é igualmente monitor de acção social para os jovens. Nesta entrevista, o autarca refere o problema de habitação que existe na freguesia, o fecho do Aquaparque, a indecisão em torno do futuro da antiga escola primária e a saída dos jovens, que vão estudar para Portugal Continental ou emigram para as Bermudas. Há um grande desejo que o Presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca pretende ainda implementar: criar um trilho.
Correio dos Açores – Qual a sua experiência enquanto Presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca?
Rui Santos (Presidente da Ribeira Seca) – A experiência tem sido muito agradável. Encarei isto como uma missão, visto que, por exemplo, há uns anos, não estava à espera de envergar a vida política. Entretanto, recebi um convite do PSD-Açores e acabei por aceitar. Apesar de ter estado com algum receio no início, acredito que tenho enfrentado bem o desafio e estou a cumprir os objectivos.
Os três anos como Presidente da Junta de Freguesia passaram a voar, mas o balanço, neste momento, é bastante positivo.
É monitor de acção social e é Presidente da Junta de Freguesia. Como foi a transicção?
Foi mais complicado no início do mandato, visto que o início de qualquer actividade nunca é fácil. No entanto, como a freguesia é pequena temos conseguido feito o contacto com as pessoas. Relativamente à vida familiar, fica sempre mais complicado, visto que tenho que fazer uma boa gestão do tempo.
Que retrato faz da freguesia da Ribeira Seca da Vila Franca do Campo?
A freguesia da Ribeira Seca é a freguesia mais recente de Vila Franca do Campo, com características únicas. Temos cerca de 1.000 habitantes, sendo que somos uma terra com um povo muito trabalhador e humilde.
A Junta de Freguesia tem a missão de estar atento às necessidades da população e dos seus problemas. E claro que como qualquer Junta de Freguesia temos várias preocupações no nosso dia-a-dia.
Actualmente uma das grandes preocupações da Junta de Freguesia é a antiga escola primária local. Esta escola é centenária e está fechada há muitos anos. No passado, havia uma intenção de construir uma escola profissional, uma ideia que entretanto foi abandonada devido à falta de apoios comunitários. Na minha opinião, está mais que na hora de arranjar uma solução para um espaço com tanto potencial, bem localizado e com estacionamento. Por exemplo, o edifício poderia ser uma creche ou um centro inter-geracional. Isto tem que ser feito com a ajuda de todos, quer da Câmara Municipal, quer do Governo Regional, visto que será uma obra terá um custo elevado de dinheiro.
Desde o fecho da escola primária, as crianças da nossa freguesia são transportadas na carrinha da Junta de Freguesia para a Escola Básica e Secundária Armando Côrtes-Rodrigues, na Vila Franca do Campo. Transportamos diariamente à volta de 100 alunos.
Penso que uma preocupação bem sentida, em geral, na Região, é a falta de habitação na freguesia, quer para arrendar, quer para adquirir. Tem sido vários os pedidos e processos preenchidos. Em contra-partida, em particular, na Ribeira Seca há muitas casas que estão fechadas ou desabitadas, sendo que algumas delas estão numa fase degradada. Por isso, há falta de habitação na freguesia, principalmente para casais jovens.
Afirma que há falta de habitação na freguesia. E qual é a dimensão do turismo? Tem surgido muitos alojamentos locais?
A Ribeira Seca é uma freguesia que está muito bem localizada, com muito boas infra-estruturas e temos igualmente a sorte de ter a praia da Vinha da Areia na freguesia. Por isso, tem surgido novos alojamentos locais na freguesia e o turismo tem crescido em abundância, ou seja, tem sido positivo. Por exemplo, temos o calhau da Leopoldina, que fica numa zona mais escondida, que tem sido frequentado por muitas pessoas de fora, sendo que há uns anos era apenas frequentado pelos nossos residentes. Tendo isso em conta, queremos melhor as condições de acesso.
A freguesia viu o seu número de habitantes a diminuir nos últimos anos. Está a ficar com menos jovens e a população idosa está a aumentar. Em sua opinião, a que se deve este facto?
A taxa de natalidade tem vindo sempre a diminuir. Além disso, há muitos jovens que vão estudar para Portugal Continental, acabam os estudos e acabam por viver lá. Na faixa dos jovens, no caso da Ribeira Seca, há muitos jovens que vão emigrar para as Bermudas, para encontrar uma melhor qualidade de vida e de outras condições de trabalho. Estes podem ter sido alguns dos factores que tem vindo a tirar alguns jovens da freguesia, além da própria falta de habitação que já foi referida.
Da população activa, há muitas pessoas com residência na freguesia e que trabalha fora da freguesia ou da Vila Franca do Campo?
Há muitas pessoas que trabalham fora da Ribeira Seca, principalmente os jovens. Isto acontece porque a Ribeira Seca é uma terra que tem um grande foco na agricultura e os jovens com cursos universitários se deslocam para fora da freguesia e da vila.
Além da falta de habitação e da indecisão em torno do futuro da antiga escola primária, quais são as outras dificuldades que a freguesia enfrenta actualmente?
Por acaso, a freguesia é muito calma, bem desenvolvida e com boas infra-estruturas, com bom saneamento de água. No entanto, existe muitos problemas diários e familiares que são encaminhados para as entidades competentes por parte da Junta de Freguesia.
Recentemente, a Câmara Municipal inaugurou na freguesia um parque de estacionamento com capacidade para 19 carros na rua Nova. A rua tem poucas habitações que possuem uma garagem. Por isso, na minha opinião, foi uma excelente medida.
Qual é a dimensão da pobreza e toxicodependência na freguesia? A criminalidade tem aumentado?
Em termos de toxicodependência, havia um número mais elevado no passado, tendo em conta aquilo que ando a constatar. Actualmente, há um caso ou outro na freguesia, mas não são de grande dimensão. Não é um problema de grande dimensão na freguesia, por isso a situação está estável.
Em relação à pobreza, existe sempre alguns casos de maior carência, em que estamos atentos com a equipa local de acção social.
Como está a situação do Aquaparque?
Infelizmente, o Aquaparque está fechado na presente época balnear. Acredito que a Câmara Municipal está a tentar arranjar a melhor solução para aquele espaço. É um espaço que faz muita falta à nossa freguesia, visto que era um local bastante visitado pelos residentes e turistas. O Aquaparque ainda esteve aberto no último Verão, mas fechou no final do ano passado.
Qual é o motivo para estar fechado?
Do conhecimento que eu tenho, foi o privado que estava a fazer o investimento que deixou o local praticamente ao abandono. Não sei como está a situação actualmente.
A freguesia tem potencial para se desenvolver mais? Em que sectores?
A nossa freguesia tem muito a história dos moinhos. Quando entrei na presidência da Junta de Freguesia da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, tinha um grande objectivo: fazer um trilho. Isto com o intuito de trazer mais pessoas para a freguesia e fazer um roteiro dos moinhos, mas é preciso analisar e falar com os técnicos competentes. É um grande desejo da Junta que queremos ainda concretizar.
Quais são os projectos para o futuro?
Estivemos a trabalhar nesta semana para fazer um ajuste directo para a construção de um parque infantil no centro da freguesia. Como já referi, também queremos criar melhores condições de acesso ao calhau da Leopoldina.
Quer acrescentar alto mais que considere importante no âmbito desta entrevista?
Gostava de referir que estamos muito satisfeitos com o Prémio de Excelência no programa Eco Freguesias. Para nós, é muito gratificante ter o reconhecimento do nosso trabalho. Para conseguir essa distinção, fizemos trabalhos de limpeza na ribeira e na costa, recolha de lixo na costa com os jovens e fizemos visitas de sensibilização à MUSAMI.
Filipe Torres
