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Caminhos agrícolas de Ponta Garça ao abandono e é “urgente” avançar com a variante à freguesia

Correio dos Açores – Em que estado se encontram os caminhos agrícolas de Ponta Garça?
Rui Amaral (Presidente da Junta de Freguesia de Ponta Delgada) – Temos encetado esforços, de longa data, com as entidades responsáveis pelos caminhos agrícolas, quer pela necessidade do corte de vegetação como pelos pisos, nomeadamente IROA e Serviços Florestais. Tanto o Presidente cessante como o que agora irá entrar ao activo no IROA, têm conhecimento dos nossos ofícios, das nossas reivindicações e das reclamações, tanto de vegetação como de piso pois não podemos dissociar uma da outra visto que ambas estão em péssimo estado de manutenção.
A Junta pré dispôs-se, no ano transacto, a ser parceiro da solução com alguma contrapartida. Foi-nos dito que eles é que iriam solucionar o problema. O certo é que estamos há seis meses com a vegetação toda por cortar, os pisos estão lastimáveis, temos os lavradores todos os dias a se queixarem. E porque é que nós já não aguentamos mais essa situação e precisamos de dar voz a isso? Porque as pessoas começam a culpabilizar a Junta de Freguesia. A primeira porta a que batem é a da Junta. E dizem que a Junta não faz, não reivindica e não deu voz. Isto não é verdade. A Junta tem encetado todos os esforços quer por via formal, através de ofícios, quer por via de telemóvel. O certo é que não temos respostas. Tivemos reuniões que foram marcadas e depois desmarcadas sem remarcação.
O lavrador vai todos os dias, de manhã e de tarde, trabalhar e utiliza estes caminhos. Imagine o martírio que não é. Eles estão muito revoltados porque não há a manutenção dos caminhos a nível do piso e da vegetação. Essa falta de manutenção também dá mau aspecto aos turistas. Ainda há dias foram as festas da freguesia. Dentro da freguesia tínhamos tudo em condições, a freguesia esteve fechada porque haviam procissões e festas, onde as vias alternativas eram os caminhos agrícolas e depois quem utilizou começou a reclamar porque riscaram os carros, havia vegetação caída, canas dentro da via ameaçando o trânsito com perigo de acidentes. Recebemos todo o tipo de reclamação na Junta. Encaminhamos para as entidades e não há resposta de quando vai ser limpo, de quando os caminhos serão corrigidos nem há resposta aos pedidos de reunião. O Director Regional dos Serviços Florestais marcou encontro e depois desmarcou connosco e não temos remarcação pois eles também não sabem o que irão fazer.
Todos os dias os lavradores precisam de utilizar os caminhos para fazer a sua vida. A Junta é a primeira porta onde vão reclamar e nós reencaminhamos as reclamações para quem de direito pois não podemos ficar com as culpas. Já fizemos todos os esforços, dai termos de dar voz ao que se passa. Se não for com pressão, nunca obteremos respostas.
Daqui a pouco vai entrar o Inverno. Se o caminho está assim agora, quando chegar ao Inverno vai piorar muito mais o estado do piso e a vegetação vai continuar a crescer.

“Já fomos a maior
bacia leiteira…”

Tem estado atento às reivindicações dos agricultores de Ponta Garça?
Trabalhando na Cooperativa de Santo Antão, conheço bem as dificuldades dos agricultores. É verdade que há alguns apoios do Governo Regional para determinadas situações, mas não me posso dissociar desta situação e tenho de me pôr no lado dos agricultores. Esta é sempre uma área desprotegida e que precisa de ser sempre apoiada. Agora temos a seca, que não pensávamos que iria tomar estas proporções. Felizmente, o Governo Regional já pensa em apoiar com uma contrapartida devido à seca que atingiu os milhos e as pastagens.
O apoio terá de vir sempre do Governo Regional, porque é uma área difícil. Às vezes, ouve-se dizer que os agricultores têm muitos subsídios, mas esta é uma actividade difícil por natureza. Todos os dias o animal tem de ser ordenhado, todos os dias há dificuldades e doenças. E, depois, o preço não acompanha o valor das despesas diárias que o lavrador tem para produzir um litro de leite. Nós sabemos isso porque as fábricas querem sempre pagar o mínimo possível e depois vamos aos estabelecimentos comerciais e o valor do litro de leite está elevado, e já não é o leite puro. A pressão das fábricas é cada vez maior para baixar o preço.

A Ponta Garça é composta, maioritariamente, por agricultores. Pode considerar-se uma freguesia rica com alguns pobres a viver?
Esta é uma pergunta falaciosa. Não considero que isto seja verdade. Agricultor é uma coisa e Agro-Pecuária é outra. É uma freguesia mais virada para a área da agro-pecuária, garantidamente. Já houve uma época onde era quase 50/50 de agricultores e lavradores. Agora a maior fatia é a lavoura e a produção de leite.
Já chegamos a ser a maior bacia leiteira de São Miguel. Perdemos este estatuto para os Arrifes, porque os apoios do Governo Regional foram injectados mais próximos porque estavam mais perto da zona citadina e Ponta Garça ficou mais aquém. Fomos a maior bacia leiteira por esforço e mérito dos lavradores. A nossa tipologia de relevo não é fácil e a agro-pecuária também não. As nossas planícies não são como as da Ribeira Grande. A nossa tipologia é mais alta, estamos maioritariamente em cima da rocha e as nossas pastagens são com declives. Isto dificulta o pastoreio e o manuseamento dos animais e influencia, também, a produção do leite. As distâncias e o relevo também influenciam a qualidade e o preço do leite para o lavrador. Os caminhos influenciam as células somáticas porque as mudanças contribuem para isso. Uma vaca que percorra um caminho normal tem uma qualidade, se a vaca andar em pisos esburacados, as células somáticas disparam, e depois isso tem influência na qualidade do leite. O que significa que nada disso ajuda a situação. Não consideramos que a agro-pecuária seja um sector rico, mas que labuta diariamente para manter a classe e a qualidade do leite para ter a sua contrapartida.

A variante a Ponta Garça
tem sido uma luta…

A rua principal de Ponta Garça é extremamente estreita. Porque não fazer uma variante com outras condições?
Esse é um assunto que já foi falado por nós, várias vezes. Ainda há pouco tempo estivemos reunidos com a Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infra-estruturas, Berta Cabral, para que seja feita uma visita técnica. Foi-nos prometido esta mesma visita técnica que ainda não foi cumprida. A Junta solicitou, reivindicou, já de longa data, mas também apresentou uma alternativa que é plausível e exequível. Houve uma contra-informação de que a Junta estava a pedir uma via rápida, algo que nem é exequível em Ponta Garça. O que pedimos é uma variante, ou seja, uma via que, caso aja um acidente ou uma catástrofe, ajude a freguesia a escoar o trânsito.
A alternativa que nós apresentamos como variante é a estrada do PPA, que é um caminho agrícola feito em dois sentidos, que apenas carecia de renovação do piso, alargamento para ficar com as dimensões mais apropriadas e prolongamento até ao final da freguesia. É uma estrada que já existe, logo não seria necessário remover muitos terrenos. Estamos à espera da visita técnica da Secretária Regional, Berta Cabral, e do seu gabinete. Reunimos há dias com alguns deputados do Partido Social Democrata, onde o assunto debatido foi a construção desta variante. Vamos ver se é desta. Ainda há dias foi apresentada a variante nas Capelas, quando não se ouviu reivindicação de maior. É verdade que as Capelas tiveram o problema das intempéries, mas de Ponta Garça saem todos os dias pessoas que vão trabalhar. Também temos uma tipologia de via com muitas ribeiras, que já aconteceu ficar interrompida e não havia zona de escoamento de pessoas. Precisamos urgentemente dessa variante. Já vem com anos de atraso. Vimos agora inscrito no Orçamento do Governo Regional, o que já é um início, mas temos de ver mais empenho (…)

Como classifica Ponta Garça em termos de criminalidade?
Já houve umas alturas mais complicadas. No meu outro mandato, há cerca de 10 anos, estava severamente preocupado com a escalada da criminalidade e da toxicodependência. Fruto do esforço do nosso Comando da PSP, que felizmente teve pessoas muito competentes e presentes, conseguiu-se diminuir ao ponto de podermos dizer que está controlado e está bem. Há 10 anos a criminalidade era devido à toxicodependência e também havia excesso de roubos aos lavradores. Roubavam ordenhas, cercas eléctricas, animais, era um descalabro. Hoje em dia, ainda existe mas em muito menor número.
Ao nível da toxicodependência tem reduzido muito. Não é, de momento, um flagelo, embora esteja presente.
Temos insistido com a Câmara que somos o único concelho onde se pode falar de prevenção de criminalidade e toxicodependências porque ainda estamos em estado controlável. Outros concelhos estão em estado de contenção e, por vezes, em estado descontrolável. Alertamos o Presidente da Câmara que pediu um estudo sobre as toxicodependências no concelho. Esperamos que este estudo saia o quanto antes para que se possa ter um plano de acção de prevenção e não de contenção. Ainda podemos regozijarmo-nos nessa matéria.

Há problemas de habitação em Ponta Garça?
Muitos. Já reunimos com a Direcção Regional de Habitação e ainda há dias fui assinar os protocolos com a Secretária Maria João. Há um loteamento para lançar no bairro Senhora da Piedade que já se arrasta há vários anos. Não vai solucionar todos os problemas de habitação, mas soluciona alguns. O loteamento já está em fase de conclusão para ser lançado. Vamos ver quantos fogos é que vão poder solucionar. A Câmara avançou com a construção de uns apartamentos na Rua Pão do Vigário. Não é estritamente para os de Ponta Garça, é para o concelho e poderá ser uma ajuda para os jovens deixarem de abandonar a freguesia. A habitação tem potenciado o abandono da freguesia para sítios próximos dos seus trabalhos.
Temos batalhado com a Câmara e com o Governo Regional para que haja uma concertação de esforços para reverter a situação. A variante da rua e o loteamento ajudariam, com mais contrapartidas que são da responsabilidade da Câmara e não da Junta.

Sente que Ponta Garça tem sido esquecida por ficar longe de Ponta Delgada?
Temos sido muito esquecidos. É já uma crítica construtiva que faço desde o outro mandato. Tanto faz da nossa Câmara como do Governo Regional, quer este quer o anterior. Somos a maior freguesia do concelho de Vila Franca do Campo e temos maiores necessidades, responsabilidade e maiores dificuldades. E o que nos chegam são migalhas. A Câmara devia de ter uma discriminação positiva para com a freguesia. Estamos cansados de alertar o Presidente da Câmara por, devido ao sermos a maior freguesia, deveríamos ter mais apoios.
Quanto ao Governo Regional, temos uma escola que chegou tardiamente, uma variante que não chega, soluções e apoios que não chegam. Todos mostram boa intenção mas a freguesia cai no esquecimento.
Daqui a dias estamos em eleições, e a mesa eleitoral que decide a Câmara é Ponta Garça, quem não ganha aqui não ganha a Câmara de Vila Franca, e vamos ter os candidatos a dizer que têm projectos e tudo o mais e depois não há nada.
Estamos tristes porque o Presidente era de Ponta Garça, tem raízes na freguesia e também prometeu muita coisa mas as soluções e os apoios não têm chegado.
Frederico Figueiredo

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