Correio dos Açores – A abertura do Serviço de Urgência no Hospital Modular está atrasada?
Mónica Seidi (Secretária Regional da Saúde) – O Serviço de Urgência HDES – Hospital Modular foi concluído no final do mês de Agosto, conforme foi possível constatar na visita que decorreu no passado sábado, dia 31.08.24. Contudo, e tratando-se de uma estrutura de natureza hospitalar, onde não é possível a ocorrência de falhas uma vez que poderão pôr em risco a segurança dos utentes, foi solicitado, pela Direcção Técnica do Hospital do Divino Espírito Santo, um prazo de 72 horas para que fosse possível testar circuitos, equipamentos e até mesmo a rede de gases medicinais, e garantir que os nossos utentes não corram riscos.
Uma das preocupações manifestadas é a de que não fará sentido abrir o Hospital Modular apenas para situações menos urgentes ficando ao nível de um centro de saúde. Qual a sua opinião?
Naturalmente que essa não é a visão actual do Governo Regional uma vez que a abertura do Serviço de Urgência HDES-Hospital Modular vai permitir concentrar serviços no perímetro do HDES, como é o caso do Serviço de Urgência HDES que deixa de funcionar no Centro de Saúde da Ribeira Grande, ficando este como Unidade Básica de Urgência das 8 às 24h.
Existe ainda outra vantagem, na medida em que o SAU-Serviço de Atendimento Urgente do Centro de Saúde de Ponta Delgada, que só durante o mês de Julho, com dois gabinetes médicos, atendeu cerca de 1600 doentes, mas não recebe doentes em maca, que agora poderão ser observados no concelho de Ponta Delgada.
Assim, com esta urgência e com a sua disposição de infra-estrutura, temos uma ampliação de espaço disponível com Sala de Observação (SO), zona de macas com possibilidade de monitorização de doentes de forma centralizada e contínua, e cadeirões para doentes autónomos e dependentes. Temos ainda um quarto de isolamento, sala de reanimação, há uma sala de gessos e de pequena cirurgia e um aparelho de RX portátil. Portanto, há, efectivamente, um serviço de urgência que está apetrechado e tem de estar preparado para receber todo o tipo de doentes na fase inicial da sua avaliação, na medida em que um serviço de urgência tem sempre a porta aberta para o exterior e não deve ser uma barreira no acesso equitativo ao Serviço Regional de Saúde. Não obstante, e uma vez que estamos a falar de situações dinâmicas, um doente de baixa complexidade pode evoluir para uma situação grave, ou seja, um doente que inicialmente é triado com uma pulseira verde, poderá evoluir para pulseira amarela ou laranja, e o inverso também ocorre. Esse nível de prioridade só é atribuído após a triagem.
Quais os ‘timings’ para a abertura dos vários serviços do Hospital Modular? E qual a nova previsão para o Serviço Regional de Saúde deixar o Hospital da CUF?
É de esperar que o Modular esteja a funcionar em pleno até ao último trimestre do ano, cumprindo assim os prazos contratualizados. Numa próxima fase, serão abertas duas enfermarias no Hospital Modular, que poderão dar apoio a um eventual aumento de procura. Posteriormente, avançarão serviços como cuidados intensivos, cuidados intermédios, o próprio bloco operatório, unidade de neonatologia, bloco de partos e uma sala de imagiologia.
O Hospital Modular quando estiver a funcionar a 100% a que nível estará a prestação de serviços do Serviço Regional de Saúde em São Miguel?
Conforme já foi dito publicamente, o Hospital Modular não substitui o papel fulcral que velho HDES teve até ao dia 4 de Maio do presente ano. Contudo, esta estrutura é uma solução para o imediato, desde já com a abertura da urgência geral e com as restantes valências que serão abertas de forma progressiva, respeitando todos os requisitos que são exigidos pela ACSS. Esta estrutura vai permitir, no futuro breve, concentrar serviços que ainda estão a funcionar quer no Hospital da CUF quer na Clínica do Bom Jesus, mas, naturalmente, não terá a mesma capacidade que o HDES.
Em relação ao futuro, teremos aqui uma estrutura de retaguarda, que não tínhamos por exemplo no dia do incêndio, e que vai permitir ainda a rotatividade de serviços enquanto decorrem as obras do futuro Hospital do Divino Espírito Santo.
Qual o ponto da situação dos projectos para início de obras de reestruturação e ampliação do Hospital do Divino Espírito Santo? A unidade hospitalar vai crescer como?
A sua requalificação vai exigir um plano funcional, que já foi adjudicado, num processo que, naturalmente, irá demorar algum tempo pela sua complexidade, detalhe e rigor. É preciso não esquecer que este trabalho é uma projecção para o futuro, não estamos a falar de HDES renovado para mais cinco ou dez anos, mas para 30, no mínimo.
Há médicos que defendem que se deveria construir um novo hospital em São Miguel em vez de reestruturar e ampliar o HDES. Quais os argumentos para a decisão governamental?
A estrutura actual do HDES tem cerca de 30 anos. Dou como exemplo um dos maiores hospitais do país, o hospital de Santa Maria que tem 70, e que continua a ser melhorado.
O Governo Regional decidiu ouvir o arquitecto que foi responsável pelo projecto de arquitectura, de forma a perceber as reais condições da infra-estrutura, e perceber se a mesma seria aproveitável. O arquitecto Pelicano é uma referência no sector da saúde e demonstrou, desde logo, uma disponibilidade para colaborar neste projecto. Visitou o Hospital no passado mês de Junho, e após constatar as condições da estrutura, percebemos que o importante seria ter um bom plano funcional, permitindo criar um hospital moderno, ampliado e requalificado. Um hospital com tecnologia de ponta, que fosse capaz de competir com centros hospitalares nacionais e assim tornar-se competitivo na fixação de profissionais de saúde motivados.
Construir um hospital significaria começar completamente do zero, incluindo a escolha da localização por exemplo, eventualmente a aquisição do terreno, e todos os projectos inerentes, da arquitectura às especialidades, aliado a todo o tempo que demoraria uma obra que não se compadece com o tempo de espera dos nossos utentes.
Teríamos de esperar demasiados anos até podermos recuperar do rude golpe que o Serviço Regional de Saúde sofreu a 4 de Maio.
Qual a mensagem que quer passar sobre o estado da saúde na maior ilha dos Açores?
A primeira mensagem é sempre de agradecimento ao empenho dos nossos profissionais de saúde. Demonstraram, mais uma vez, estar à altura das situações mais complexas, tal como todas as instituições que diariamente ajudam o Serviço Regional de Saúde.
Por incrível que pareça, o incêndio só ocorreu há 4 meses. Mantivemos sempre a resposta às situações urgentes e emergentes, contando com as instituições de saúde e com a equipa de evacuações, quando necessário, e como existia antes de 4 de Maio.
A nossa preocupação, no que toca à nossa capacidade de resposta, está realmente no número de cirurgias programadas que foram realizadas, uma vez que a nossa capacidade de bloco operatório sofreu muito com esta situação, e claro que merecerá da parte da tutela uma especial atenção para que logo que seja possível, iniciaremos uma franca recuperação da lista de espera cirúrgica para os utentes inscritos no HDES.
Gostaria também de enaltecer a resiliência da população que, apesar desta diferente rotina na acessibilidade a cuidados de saúde, tem demonstrado mais uma vez uma capacidade enorme de compreensão e de adaptação.
O Governo Regional dos Açores continuará a trabalhar afincadamente para que os utentes do Serviço Regional de Saúde possam usufruir de uma estrutura redimensionada, requalificada e reorganizada, ou seja uma estrutura nova no velho HDES, dignificando o trabalho de todos os seus profissionais de saúde e utentes do Serviço Regional de Saúde.
João Paz