A queijaria de Santa Maria já está a produzir o queijo de ovelha, o de mistura vaca e ovelha, o requeijão de ovelha, o requeijão de vaca (que vamos pôr no mercado), o curado de vaca (pasteurizado e cru). Aníbal Cabral Moura, Presidente da ARCOA, afirma que “não é fácil” produzir leite de vaca. Realça que, com seca, as velhas já estão a comer os alimentos guardados para o Inverno. Mas mostra-se optimista porque tudo o que a fábrica produz tem bom mercado.
Quantos produtores tem a Associação Regional de Criadores e Ovinos dos Açores (ARCOA) e qual a quantidade de leite que está a receber?
Aníbal Cabral Moura (Presidente da Associação Regional dos Criadores de Caprinos e Ovinos dos Açores) – A ARCOA, neste momento, tem à volta de 60 associados. A maior parte é de Santa Maria, depois do Pico, Faial, São Miguel e Terceira.
Neste momento, não estamos a receber leite, porque as ovelhas estão na fase de secagem. Só em Dezembro é que elas vão parir. Logo, em Janeiro é que irão começar a produzir leite.
Em média, quantos litros de leite de ovelha se produz?
Nós não estamos a receber leite de ovelhas das outras ilhas, mas sim leite de vaca.
De leite de ovelha, apenas trabalhamos com Santa Maria. Produzimos, por dia, 100 a 120 litros. Das outras 5 ilhas, trabalhamos com os seus ovinos de carne, pois é este o “forte”.
O leite de vaca que recebemos das outras ilhas é um complemento, no âmbito de um projecto que iniciamos há um tempo atrás e que pretendemos dar continuidade.
Para um futuro próximo estamos a trabalhar no sentido de criar o borrego IGP (Indicação Geográfica Protegida) da ilha de Santa Maria que, será uma mais-valia, o que não quer dizer que nas outras ilhas não o será. Cada ilha tem climas diferentes e a carne também o é. Portanto, Santa Maria tem uma particularidade nas pastagens e uma tradição que já é secular, de maneira que o borrego IGP vai ser uma mais-valia. Vamos trabalhar, neste sentido, para conseguirmos lá chegar.
Que ilhas têm mais apetência para produzir leite de ovelha? Têm aparecido interesse por parte de produtores de São Miguel?
A ilha de Santa Maria é mais vocacionada para a produção de carne de ovelha. (…) Quanto ao leite de ovino, há que ter em conta que os animais são mais dispendiosos e estamos a trabalhar para que amanhã seja melhor.
Tem sido muito bom o interesse demonstrado pelos produtores, na área da carne de borrego. Na área do leite, ainda não; pode ser que este interesse surja amanhã, o futuro o dirá.
Quantos queijos de ovelha produzem em Santa Maria?
Nós laboramos há volta de 6 litros para 1 quilo de queijo.
Que dificuldades enfrentam na produção de leite de ovelha?
Enfrentamos muitas dificuldades na produção de leite de ovelha. A produção de carne é o “forte”, pois dá menos trabalho. O leite é muito mais trabalhoso.
Pode enumerar as dificuldades que enfrenta um produtor de leite de ovelha além da seca?
Um produtor de leite enfrenta sempre mais dificuldades, porque a exigência é sempre muito maior. Podemos falar no preço elevado das despesas, como é o caso da ração que, está extremamente elevado, mais o acréscimo do transporte.
Há intenção de aumentar a produção e o rebanho de ovelhas?
Temos a intenção de melhorar as pastagens, de aumentar o rebanho e de termos novos produtores de leite de ovelha. Compreendemos que não é fácil, mas sabemos que é importante termos novos produtores.
No que concerne ao melhoramento das pastagens, temos uns terrenos que foram cedidos à Associação que vão sendo limpos, para que tenhamos melhores condições, para que os produtos adiram à terra.
Qual a capacidade da produção máxima da fábrica?
A capacidade máxima é de mil litros. É uma pequena fábrica, uma queijaria artesanal.
Nós não fabricamos apenas leite de ovelha, também fabricamos de vaca. Neste momento, estamos a fabricar leite de vaca, de forma a darmos estabilidade à queijaria.
Quantos queijos de leite de vaca estão a produzir? Para onde estão a escoar o queijo?
Estamos a produzir, diariamente, de 220 a 230 litros. E temos uma média de 10 litros para 1 quilo de queijo.
A queijaria de Santa Maria está a produzir o queijo de ovelha, o de mistura vaca e ovelha, o requeijão de ovelha, o requeijão de vaca (que vamos pôr no mercado), o curado de vaca (pasteurizado e cru).
Estamos a escoar para quase todas as ilhas dos Açores, como o Pico, São Miguel, Terceira, Graciosa. Também vendemos para Lisboa.
Têm uma produção sustentável?
A produção tem que ser sustentável. O caminho faz-se devagar, com passos correctos. Começamos há pouco tempo. Agora é que estamos a iniciar a produção. Neste momento, estamos num bom caminho: as coisas estão a correr bem e pronto, vamos devagar, não convém dar um passo “maior que a perna”.
Quando diz que as coisas estão a correr bem, está optimista quanto ao futuro?
Exatamente. Quem inicia uma actividade tem sempre dificuldades, pois trabalhar o leite não é fácil. No entanto, estou bastante optimista, porque temos tido um bom “feedback” dos nossos queijos. As vendas são boas. Estamos, neste momento, a iniciar um caminho de afirmação no mercado e, quando isso acontece, tem tudo para dar certo. Pretendemos consolidar os nossos produtos, primar pela qualidade e evoluir de forma segura.
Pretende acrescentar algo que considere importante?
A produção de leite de ovelha é uma actividade que o produtor tem de gostar. Dá trabalho, mas também dá os seus “frutos”. E sem trabalho não se tem nada. E este ano é extremamente difícil porque atravessamos uma seca. Neste momento, já estamos a usar as comidas que tínhamos guardadas para o Inverno. Quando chegarmos ao próximo Verão vamos “estar à rasca” a enfrentar dificuldades. A nossa ilha, já de si, é seca… Este ano começou-se muito mais cedo e estamos com grandes dificuldades com os animais. Mas faz parte.
Neuza Almeida