1- Tal como havia prometido, revisitei alguns documentos que estão no arquivo da Torre do Tombo, mandados arquivar por Salazar, entre os quais estão documentos que retratam a postura de Portugal relativamente à II Grande Guerra, em que Portugal se apresentou como um país neutral alegando que a Guerra era entre a Alemanha, a França e a Inglaterra, justificando que se colocava numa posição neutral porque, não disponha de qualquer acordo firmado com os EUA.
2- Isto é, os acordos que existiam entre Portugal e a Grã-Bretanha, eram suficientes para que Portugal concede-se facilidades em Santa Maria e na Terceira, que se estenderam depois aos Açores no seu todo, até à rendição da Alemanha a 7 de Maio de 1945.
3- Terminada a II Guerra, tanto a Inglaterra como os EUA, pretendiam manter a sua presença nos Açores, e o Primeiro-ministro Winston Churchill dá conta ao Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, que era chegado o momento de negociar com Salazar a permanência das forças militares americanas e inglesas nos Açores.
4- Porém, quando Churchill se preparava para acertar os detalhes com Salazar, o Presidente Roosevelt informa-o que os EUA já tinham negociado com Salazar a permanência das tropas americanas na Terceira, ficando Santa Maria como aeroporto aberto para apoio aos voos transatlânticos.
5- Isto é, com o termo da guerra na Europa, quer Portugal quer os EUA sabiam que Salazar entendia que a política europeia tinha pouco ou nada a ver com a vocação essencialmente ultramarina de Portugal.
6- Ou seja, os Açores durante o “salazarismo”, serviram de moeda de troca a Portugal pelo apoio ao país dado pelos EUA na ONU desde 1960, altura em que inúmeros países reclamavam que Portugal se desfizesse do império colonial, que durou até à queda do regime em 1974.
7- Depois, os EUA acompanharam o caminho da “revolução” em Portugal até ao 25 de Novembro de 1975, altura em que os Açores assumiram a sua “maioridade “ e entraram na campanha da Autonomia.
8- O I Governo dos Açores, que tomou posse a 8 de Setembro de 1976, escolheu como primeira “batalha”, entre as muitas que tinha de empreender, o regresso de Portugal e dos EUA à mesa das negociações, para discutir-se, e aprovar um novo acordo sobre o uso, e nalguns casos, de certo abuso, dos americanos quanto ao acordo que estava no “limbo do esquecimento” enquanto durou a guerra colonial. Durante esse tempo, os Açores foram “hipotecados à América” como escudo protector de Portugal até ao 25 de Abril de 1974.
9- Dai a insistência do Governo Regional para que fossem iniciadas negociações com os EUA, defendendo desde logo a partilha justa, entre o Estado e os Açores, quanto aos proventos a pagar pelos americanos, no novo acordo. A representação da Região nas negociações coube ao Secretário Regional da Educação, José Guilherme Reis Leite.
10- Assim, a 13 de Dezembro de 1983, foi firmado entre as partes o novo acordo para vigorar até 1991, no qual foi definida uma contribuição financeira directa para os Açores de 40 milhões de dólares anuais, o que em 7 anos equivaleu a uma receita da Região no montante de 280 milhões de dólares.
11- Se esse montante fosse dividido de forma igual por cada uma das 9 Ilhas, significa que cada Ilha teria nos sete anos, 31 milhões de dólares para investir. Era importante conhecer-se o que seria à data possível fazer nos sete anos com apenas 31 milhões de dólares em cada Ilha, tendo em conta os custos da insularidade.
12- Portugal tratou sempre os Açores nas ditas negociações, como o parente pobre, porque feitas as contas aos valores envolvidos no acordo entre 1983 a 1991, Portugal recebeu dos EUA, 1.745 milhões de dólares, que não passaram pelos Açores e foram directamente enviados para os cofres do Terreiro do Paço. Desse montante, 1.200 milhões de dólares foram transformados numa dádiva da América a Portugal, enquanto os restantes 545 milhões era um crédito para ser usado por Portugal na compra de material militar.
13- Havia ainda, 40 milhões de dólares destinados à constituição da Fundação Luso Americana.
14- Só podemos ser justos na apreciação dos factos, se conhecermos os números, e as suas aplicações.
Américo Natalino Viveiros