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Investigadores da Universidade de Coimbra encontraram durante dois anos 38 espécies de larvas de 27 famílias de peixes dos Açores

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra, coordenados por Filipe Martinho, esteve dois anos a fazer a recolha de larvas de peixes nas costas das ilhas do Corvo, Flores, Graciosa e São Jorge num espaço de mar até uma milha da costa e fundos até 30 metros. A equipa do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) dedicou-se a explorar a diversidade de larvas de peixe costeiras, identificando algumas que ainda não tinha sido vistas na Região. Não querendo ser considerados ‘pioneiros’, estão convencidos que deram um grande contributo para a descoberta da biodiversidade costeira das costas das quatro ilhas açorianas que são consideradas Reservas da Biosfera pela UNESCO.
Ao longo da investigação, detectaram 38 espécies diferentes, pertencentes a 27 famílias distintas com enfoque nas ilhas das Flores e Corvo. Algumas das larvas tinham tamanhos reduzidos de apenas 3 milímetros e foram muito difíceis de identificar devido à escassez de guias de investigação. «Estes organismos foram recolhidos através de uma rede puxada por uma embarcação, concentrando as amostras de água do mar.
A identificação foi feita tanto visualmente, com ajuda de uma lupa, como através de análises de ADN, o que permitiu registar a presença de larvas de peixes que não estavam ainda referenciadas nas ilhas», como explica Ana Lígia Primo. Entre as espécies analisadas encontram-se o Carapau-Negrão, o Sarrajão, Peixe Galo e o Mero. Para aprofundar mais este projecto, que vai resultar, nomeadamente, numa exposição de fotografias que poderá ser exibida nos Açores, o ‘Correio dos Açores’ falou com o coordenador do projecto, Filipe Martinho.

Correio dos Açores – Com que desafios os investigadores se depararam no decorrer dos dois anos de pesquisa a analisarem as novas espécies de larvas de peixes nos mares dos Açores?
Filipe Martinho (Coordenador do projecto de investigação) – Os desafios foram vários. O primeiro foi obter financiamento e, nesse sentido, elaboramos um projecto para concorrermos à Fundação PADI (Estados Unidos da América). O segundo desafio, prendeu-se com a logística. Como sabe, estamos aqui no Continente, em Coimbra, e conseguirmos preparar uma expedição a quatro ilhas dos Açores (Corvo, Flores, Graciosa e São Jorge) acarreta uma série de desafios e trabalhos, tais como encontrar alojamento e embarcações. Foi, portanto, um mês de trabalho até conseguirmos acertar a parte da logística. A sorte é que temos um membro da nossa equipa que é de São Jorge, e foi o pai dele que fez as saídas connosco, em São Jorge. A logística, foi efectivamente, a parte mais complicada. Conseguimos fazer as campanhas. Outro desafio, é o estado mar que, às vezes, não colabora. Além disso, o momento em que começamos a planear ir à Graciosa e a São Jorge coincidiu com a crise sísmica nesta última ilha.
Também as amostras para o laboratório constituem outro desafio, pois há a dificuldade em identificar as espécies que estão presentes. O que acontecia era que para muitas espécies não havia guias de identificação pelas quais nos pudessem guiar e também não haviam muitos trabalhos que focassem essa questão das larvas de peixes, ainda mais das zonas costeiras das ilhas. Foi portanto, uma série de desafios cumulativos para os quais utilizamos várias áreas técnicas e vários métodos para identificar as espécies que apareciam nas amostras.

Em que medida o projecto “Fishlarvae in theAzoresislands – structure, dynamicsandbiodiversity in NortheastAtlantic UNESCO biosphere reserves” contribuiu para se conhecer melhor a biodiversidade do mar dos Açores?
O nosso objectivo foi mesmo darmos a conhecer mais informação sobre esta fase inicial do ciclo da vida dos peixes, porque é pouco conhecida e pouco estudada e, no caso dos Açores e, principalmente, nessas quatro ilhas (Corvo, Flores, São Jorge e Graciosa), é quase inexistente. E sendo as ilhas que estão classificadas como Reserva da Biosfera e, logo, locais primordiais para a construção da biodiversidade, então o nosso objectivo, que foi contribuir para saber que espécies é que acorrem em território, em torno a essas ilhas. O que interessa é preservar a biodiversidade como um recurso por si.

Tendo em conta que existem poucos estudos, diria que foram pioneiros no aprofundamento neste tipo de pesquisa?
Eu não nos chamaria pioneiros. Não obstante, desde o primeiro momento em que iniciámos a candidatura, reparámos que, de facto, não havia muito conhecimento e informação acerca deste assunto e, nesse sentido, quisemos realmente colmatar essa falta. Até porque, algumas espécies, e acontece muito nos Açores, em Portugal continental e em muitos outros locais, os juvenis, as larvas, os adultos ocorrem em dias e épocas diferentes do ano. Portanto, temos pensado que na próxima amostragem vamos aprofundar quais as espécies que ocorrem naquela altura do ano mesmo junto à costa das ilhas.

Que razões poderão justificar o aparecimento de novas larvas de peixes nos mares da Região?
Estas novas larvas foram espécies que nunca tinham sido identificadas na zona dos Açores. Como disse, há poucos estudos feitos com larvas de peixes. Logo, a novidade da nossa parte é o facto de termos contribuído para se descobrir que existem novas larvas, e logo, ocorrem em torno das várias ilhas. Ou seja, à partida, se temos larvas, temos adultos, isso é indicação que temos animais saudáveis.

O aparecimento de novas larvas poderá estar relacionado com as alterações climáticas ou será apenas um aprofundamento do conhecimento sobre a biodiversidade marinha nos mares da Região?
Não tem a ver com as alterações climáticas, de todo. Não são espécies novas, mas sim espécies cujas larvas nunca tinham sido identificadas nos Açores em termos de registos científicos e técnicos.
Em termos leigos, podemos dizer que são espécies piscícolas cujos ‘bebés’ nunca tinham sido identificados nessas ilhas.

Afirmam que a investigação representa “um avanço significativo no conhecimento das larvas de peixe, mas também na protecção das Reservas da Biosfera nos Açores.” Pode explicar porquê?
Como foi dito, não se conhecia quase nada dessas larvas, sobretudo das zonas costeiras. Nesse sentido, tudo o que seja informação acerca da biodiversidade (espécies que temos ou que não temos) é sempre mais um contributo para colher mais informação.
Depois, há também a questão que está ligada às reservas. Efectivamente, este projecto surgiu quase como um spin-off de um outro projecto maior em que o nosso projecto de investigação estava inserido que é um ligado a todas as reservas de biosferas do país. E nós focamos o nosso nas ilhas dos Açores. Porque as reservas de biosfera são territórios que, além de serem zonas com uma elevada biodiversidade, também são zonas em que temos uma ligação cada vez mais harmoniosa entre as pessoas e a natureza. Logo, nós estamos a contribuir para dar mais informação e suporte sobre como essas zonas são importantes e como devem ser apadroadas para estudo.

Nesta investigação que desenvolveram durante dois anos, como caracterizam os fundos marinhos açorianos nas zonas investigadas?
As recolhas das amostras foram feitas até cerca de 1 milha da costa e as amostragens eram feitas até aos 30 metros de profundidade. Logo, em termos de fundo, não tivemos contacto, foi feito mais à superfície.

Quer acrescentar algo que considere importante no âmbito deste projecto ou outros projectos?
Posso dizer que esta foi uma oportunidade que nós agarramos para conhecer melhor e colher mais informação sobre as larvas de peixes dos Açores. Esperamos ter contribuído com algum conhecimento base que depois pode ser usado no futuro.
Posso revelar, mas não em pormenor, que deste projecto resultou uma exposição de fotografias, feitas por nós, e neste momento, estamos em conversações para a levar para os Açores.
Neuza Almeida

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