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Natural de Rabo de Peixe, Paula Medeiros é a nova deputada da Assembleia da República eleita pela Aliança Democrática

A açor-canadiana é deputada pelo círculo Fora da Europa, em regime de substituição.
Paula Medeiros admite ao ‘Correio dos Açores’ que “ambiciona ser a voz da diáspora no campo político nacional. É necessário cativar os portugueses a voltar ou a permanecer no país, é um trabalho que espero ter tempo e que consiga fazer”- afirma.
Paula Medeiros efectua duas a três visitas por ano a Rabo de Peixe, onde tem raízes familiares, sobretudo pelo Natal e em Agosto

Correio dos Açores – Poderia fundamentar este seu ingresso enquanto deputada pelo círculo Fora da Europa?
Paula Medeiros (deputada) – Ingresso na Assembleia da República em regime de substituição ao deputado Flávio Martins, que por diversos motivos teve de suspender o mandato por tempo indeterminado. Ainda não sei se vai regressar ou quando vai regressar, mas até então exercerei funções como deputada pelo círculo Fora da Europa.
Apesar de já ter participado em jornadas parlamentares, inicio oficialmente funções enquanto deputada a partir de hoje (1 de Outubro).

Qual é a sua origem e o seu percurso até à atualidade?
Nasci em Ponta Delgada como toda a gente, mas sim sou de Rabo de Peixe, cresci em Rabo de Peixe e lá estudei até ao 9º ano. Depois fui fazer o secundário para a Ribeira Grande.
Os meus pais são da área agrícola. A minha mãe é de origem beirã e o meu pai é açoriano, também de Rabo de Peixe.
Depois fui para a faculdade, em Lisboa, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Licenciei-me em Política Social, que é uma mistura de medidas políticas e serviço social, uma conjunção das duas licenciaturas.
A partir daí comecei a trabalhar, na Amadora, como assistente social na área da temática da etnia cigana e migrações. Depois regressei aos Açores, por questões familiares, e ingressei na ARRISCA, que é uma associação de reabilitação na área das dependências e reabilitação social de pessoas que foram deportadas dos E.U.A e Canadá, na sua maioria.
Tive sempre vontade de ir para o Canadá. Sou luso-canadiana, tive sempre uma admiração profunda por aquele país, e uma vontade de saber como é viver na qualidade de diáspora. Aos 29 anos deixei o meu trabalho nos Açores e viajei para o Canadá. Supostamente por 4 anos, mas depois acabei por ficar 10 anos. É um país muito interessante a nível profissional e social. Desenvolvemos competências sociais e profissionais realmente impares.
A minha paixão de trabalhar com a diáspora foi sempre aumentando. Fiquei apaixonada pelos luso-canadianos. São pessoas muito generosas, muito dinâmicas, a aculturação pelo país é vivida na positiva e o amor por Portugal é contagiante.
Desde que fui para o Canadá tive a honra de participar no movimento associativo da comunidade portuguesa, fez com que eu tivesse a oportunidade de conhecer muitas pessoas e uma vontade de ingressar no mundo político para começar a trabalhar a nível macro, porque a nível micro já estava a fazer algum trabalho na comunidade.
Também tenho mestrado em Serviço Social pela Universidade de Coimbra e estou a agora no segundo ano de doutoramento em Sociologia

O que a levou em ingressar na carreira política?
Eu tive a oportunidade durante o meu tempo de faculdade de conhecer bem as dinâmicas do socialismo, como também do grupo do PSD. E realmente é necessário um equilíbrio: a área social sem a parte económica não consegue ter estabilidade, é crucial fazer a junção das duas áreas. E aí o Partido Social-Democrata consegue ter uma visão muito mais prática, muito mais eficaz na gestão do país.
Também tem sido a maneira como o partido lida com a diáspora, é um partido muito próximo da mesma, sempre presente no trabalho que a diáspora tem feito e quando vamos verificar as medidas adotadas por vários partidos na Assembleia, podemos ver que realmente é o partido que tem lutado pelos interesses dos nossos emigrantes. Claro que não podia de outra forma selecionar o PSD como partido que iria abraçar e começar a trabalhar, para ser uma voz diferente e conseguir mostrar o que realmente se faz além-fronteiras, e que certifique o quão importante são os nossos embaixadores, que neste caso são os nossos emigrantes.

Que ideias gostaria que fossem implementadas ou discutidas em Parlamento?
O primeiro eixo é exactamente a questão de melhorar os serviços consulares que nós temos. Graças ao atual Secretário de Estado das Comunidades, com a sua política visionária, voltou a implementar as presenças consulares que estavam paradas.
As presenças consulares são uma mais-valia para todos, visto que é o serviço que vai ter com as pessoas, principalmente em países como o Canadá que a nível territorial é o segundo maior do mundo. Tendo isso em conta, o deslocamento ao serviço consular muitas das vezes implica grandes sacrifícios para os portugueses, sacrifícios em termos de distância, monetários, até mesmo com impacto profissional.
Neste momento as presenças consulares já se estão a realizar, agora é continuar a mantê-las; o número dois é de que os serviços consulares estavam numa situação muito deficitária a nível de recursos humanos. Estamos a fazer agora o recrutamento enquanto Aliança Democrática, sendo importante continuar a analisar a situação dos consulados. Um dos meus objetivos é criar essa política de proximidade, entender quais são as suas problemáticas, quais são as suas necessidades e tentar melhorar.
Um outro eixo é a questão da língua portuguesa, com a importância da língua. Cada vez mais, a aprendizagem de um idioma é uma mais-valia para todos. O português é uma das línguas mais faladas a nível mundial, e para além da ligação à pátria, não deixa de ser em termos profissionais fundamental para a nossa diáspora. Há algum défice no ensino do português no estrangeiro, e é uma das áreas que vou trabalhar para que haja uma melhoria.
Um outro eixo é a vertente administrativa, que se possa melhorar as questões da cidadania. Há pessoas a aguardar por muito tempo, e eu sei que é muito complicado para o nosso Governo conseguir ajudar num período de tempo muito curto. Foram 8 anos de socialismo, em que não se cuidou dos Registos Centrais. Esta entidade trata de dar respostas a quem faz pedidos de cidadania e sabemos que há um atraso que dura já há algum tempo. Vamos ver como podemos diminuir este tempo de resposta, não sendo fácil porque o recrutamento na administração pública é moroso. As pessoas, ao ingressarem numa função administrativa, têm que ter formação, isso tudo leva tempo e vai sempre, de certa forma, atrasando as respostas. Contudo, se não começarmos, jamais existirá um final feliz.
A outra parte tem a ver com a questão de levar para a terceira geração uma imagem do nosso Portugal atual. O nosso país continua a perder muita da sua população: tivemos quase 30% dos nossos jovens a sair de Portugal, muitos deles à procura de outras condições de vida, nem somente com o intuito de enriquecer, mas também com a vontade de procurar garantir novas competências. Temos de tentar com que as pessoas possam olhar para Portugal de outra maneira e possam ponderar vir residir para cá novamente. E quiçá, trazer a segunda ou a terceira geração para Portugal através de programas que dêem vantagem a quem exerça um emprego através de trabalho remoto, tentar fazer acordos bilaterais com o objetivo da dupla tributação, e investir em Portugal, porque somos um país virado para o turismo. Estamos a precisar que voltem para a pátria que invistam. Também precisamos de imigração, são muito bem-vindos. O Alentejo e o Algarve sem imigrantes não teriam qualquer desenvolvimento económico.
É necessário cativar os portugueses a voltar ou a permanecer no país, é um trabalho que espero ter tempo e que consiga fazer. Uma coisa é o que nós queremos, outra coisa é o que as pessoas precisam e querem, no meu caso dando privilégio para a diáspora.

José Henrique Andrade
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