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“É urgente atrair empresas que possam empregar mão-de-obra qualificada, para mantermos os nossos jovens na ilha”

André Silveira, Presidente da Junta de Freguesia da Urzelina, na ilha de São Jorge, desde 2021, destaca a necessidade urgente de atrair empresas que ofereçam emprego qualificado, como forma de combater o envelhecimento populacional e fixar os jovens na freguesia. O autarca sublinha também as dificuldades provocadas pela falta de habitação acessível e pela ausência de serviços de saúde especializados, situação que obriga os residentes a deslocarem-se para outras ilhas. Apesar dos desafios, o autarca aponta sinais de desenvolvimento positivo, como o crescimento do turismo, a recuperação do Trilho Ecológico da Urzelina, a participação do FC Urzelinense na Liga Açores e a crescente valorização do artesanato local, com a Cooperativa de Artesanato que teve uma peça apresentada na Moda Lisboa.

Correio dos Açores – Que retrato nos faz da freguesia da Urzelina?
André Filipe dos Santos Silveira (Presidente da Junta de Freguesia da Urzelina) – Iniciei o meu mandato como Presidente da Junta de Freguesia da Urzelina em Outubro de 2021. Desde então, tenho trabalhado com dedicação para servir a comunidade local. Um dos meus principais objectivos é melhorar as condições da freguesia, tanto para quem cá vive como para aqueles que nos visitam, e felizmente, temos assistido a um aumento constante de visitantes ano após ano.
Costumo descrever a Urzelina como um “paraíso à beira-mar”, uma freguesia com uma ligação profunda ao mar e à terra, marcada pela produção agrícola, sobretudo vinhas e laranjeiras. Além disso, a nossa história foi profundamente impactada pela erupção vulcânica de 1808, que nos deixou a Torre da Urzelina, o único remanescente da antiga igreja. Essa torre, que resistiu ao poder devastador da lava, tornou-se um símbolo da força e resiliência da nossa população e é, hoje, um marco turístico de grande importância.
Além da Torre, há outros elementos que tornam a Urzelina um destino turístico de eleição. Temos os nossos moinhos de vento, infra-estruturas para lazer, como o parque de campismo, a piscina e as zonas balneares, muito procuradas tanto pelos turistas como pelos jorgenses. A nossa localização central na Ilha de São Jorge, o clima ameno e a crescente oferta de serviços fazem da Urzelina um local cada vez mais atractivo, também para quem procura habitação permanente. Cidadãos de diversas nacionalidades, como americanos, franceses, alemães e holandeses, têm-se interessado por fixar-se aqui, algo que, sem dúvida, nos enche de orgulho. No entanto, e apesar deste panorama positivo, enfrentamos desafios consideráveis.

Quais são os principais desafios, necessidades e dificuldades que a freguesia enfrenta? Quais são as dificuldades inerentes à dupla insularidade?
A procura crescente por habitação tem gerado desafios. Com o aumento do turismo, muitos proprietários optam pelo arrendamento de curta duração (Alojamento Local – AL) em vez de longa duração, o que dificulta a fixação de jovens casais. Esta é uma questão que nos preocupa.
Para além disso, outro grande desafio que a freguesia enfrenta está ligado à dupla insularidade, que afecta não só a Urzelina, mas toda a Ilha de São Jorge. A falta de serviços de saúde especializados obriga os nossos residentes a deslocarem-se para outras ilhas, o que, além de ser desgastante, é agravado pelas condições atmosféricas, que por vezes impossibilitam as viagens, sobretudo no Inverno.
Na área da educação, sentimos outra dificuldade. Como não existem instituições de ensino superior na ilha, os nossos jovens são obrigados a sair para prosseguir os seus estudos. Embora esta seja uma oportunidade de crescimento, é igualmente preocupante, porque muitos acabam por não regressar, devido à falta de emprego qualificado em São Jorge. É urgente criar ou atrair empresas que possam empregar mão de obra qualificada, para mantermos os nossos jovens na ilha.

Qual a percentagem de idosos sobre a percentagem de jovens?
A nossa população está a envelhecer. Na Urzelina, temos cerca de 15 idosos para cada 10 jovens, numa freguesia com aproximadamente 900 habitantes. No entanto, conseguimos manter-nos relativamente estáveis em termos populacionais, devido à procura que a freguesia continua a ter, tanto pelo turismo como pela sua localização privilegiada. Ainda assim, posso afirmar que enfrentamos um problema demográfico que é transversal a toda a Região, mas que tem tendência a agravar-se numa ilha como a nossa que sente a dupla insularidade.

Qual a dimensão do turismo na freguesia?
O turismo tem crescido significativamente nos últimos anos, especialmente durante os meses de Verão. A Urzelina oferece um ambiente calmo e acolhedor, com cerca de 15 alojamentos locais, entre hostels, turismo em espaço rural e o parque de campismo, para além de três restaurantes que servem tanto os nossos residentes como os visitantes. Este crescimento tem gerado novas oportunidades de negócio e contribuído para a economia local.

As verbas são suficientes para gerir a freguesia ao longo do ano? Têm falta de algum serviço ou infra-estrutura essencial?
Gerir uma freguesia com um orçamento limitado é sempre um desafio, mas, graças à colaboração com o Governo Regional e a Câmara Municipal de Velas, conseguimos nos últimos anos concretizar várias melhorias. Entre elas, destaco a recuperação do Centro de Exposição Rural da Urzelina, a requalificação da zona de lazer nos Portinhos, a construção do Parque Multiusos e do Trilho Ecológico da Urzelina (Caminho do TEU), processos iniciados no anterior mandato na presidência de Jorge Silveira, membro do actual executivo. Considero que estas obras vêm promover o contacto com a natureza e a prática desportiva.
Acredito que ainda há muito por fazer no que toca à promoção de hábitos de vida saudáveis. Apesar do bom trabalho desenvolvido pelo nosso clube de futebol, que tem alcançado resultados positivos nomeadamente com a recente participação na Série Açores, e da criação do Trilho Ecológico da Urzelina, ainda sentimos a necessidade de aumentar a oferta desportiva. Neste sentido, estamos a trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal de Velas na instalação de um campo de Padel na freguesia, desporto que tem aumentado o seu número de participantes de todas as faixas etárias, promovendo ainda uma boa dinâmica social.
Outro projecto que gostaria de ver recuperado seria a produção do antigo Vinho dos Casteletes. Há um esforço conjunto para revitalizar essa actividade e acredito que seria de grande valor para a freguesia e para a ilha no seu todo.

Quais têm sido a acções de promoção cultural na freguesia?
Na área cultural, a Junta tem apoiado actividades para preservar as nossas tradições. Recentemente, organizámos um workshop de bordados, uma arte tradicional da nossa terra, e planeamos expandir essa oferta com workshops de macramé e tecelagem. A tecelagem, em particular, tem sido muito valorizada, com a Cooperativa de Artesanato da Nossa Senhora da Encarnação a ganhar destaque, inclusive com uma peça criada em colaboração com uma designer de moda, apresentada na Moda Lisboa.

A freguesia da Urzelina tem potencial para se desenvolver mais? Que balanço faz do trabalho realizado até agora?
É fundamental dizer que, ao longo de todo este trabalho, o meu principal objectivo passa sempre o bem-estar da freguesia e das pessoas. No entanto, reconheço que nem sempre é fácil agradar a todos. Há sempre quem não compreende o trabalho desenvolvido, surgindo por vezes, situações de algum descontentamento. Faz parte da responsabilidade de liderar, lidar com diferentes perspectivas e tentar, da melhor forma, conciliar as necessidades de todos. Isso é um dos maiores desafios na gestão da freguesia, neste cargo de Presidente de Junta que considero dos mais nobres e sem dúvida o mais próximo das pessoas. Algo que faço com dedicação, mas acima de tudo com ética procurando gerir os destinos da freguesia da forma mais correcta em prol do bem de todos e da freguesia.
Sinto um enorme orgulho na Urzelina e no trabalho que temos vindo a realizar para melhorar as suas condições. É uma freguesia com uma história rica, uma localização privilegiada e um potencial enorme. No entanto, acredito que só com o esforço contínuo e sobretudo colaborativo de toda a comunidade e das instituições locais conseguiremos garantir um futuro promissor para a nossa terra.
Daniela Canha

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