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Colectivo artístico CARA LAVADA ambiciona ser a voz dos jovens açorianos e aborda a necessidade de investimento no setor da cultura na Região

O colectivo é formado por Beatriz Lavouras, Daniela Sousa Medeiros, Rui Filipe Sousa e António Nesil. “Sentíamos que haviam muitas pessoas jovens que queriam fazer muitas coisas e que o apoio das estruturas existentes ficava aquém do potencial de quem cá estava ou de cá era” – refere o grupo

Correio dos Açores – Como e quando surge a ideia de criar o colectivo?
CARA LAVADA – O colectivo CARA LAVADA nasceu em 2020, mas foi no Verão de 2019 que, durante a guardaria de uma exposição do festival Walk&Talk, o António Nesil e a Filipa Alves Fonseca se encontraram e discutiram essa possibilidade. No fundo, o coletivo nasce de um sentimento de falta de espaço para as vozes jovens, especialmente nas artes. Sentíamos que haviam muitas pessoas jovens que queriam fazer muitas coisas e que o acolhimento e apoio das estruturas existentes ficava aquém do talento e potencial de quem cá estava ou de cá era. É daí que nasce o CARA LAVADA, e é de uma vontade de criar uma rede sustentável de trabalho com esses artistas que vamos construindo o nosso caminho. Acreditamos que se o futuro também é nosso, a nossa voz deve e tem de ser ouvida.

Quem são os elementos? Quais são as áreas de interesse?
Neste momento, são quatro as pessoas que configuram o coletivo: António Nesil, Beatriz Silva Lavouras, Daniela Sousa Medeiros e Rui Filipe Sousa. Gostamos de pensar os nossos projetos através de uma perspetiva multidisciplinar, onde podemos ir buscar referências e modos de trabalhar às diferentes áreas da arte. Desde as artes do espetáculo à curadoria, passando pela produção, cinema e audiovisual, tudo o que nos permita cruzar domínios, experimentar, aprender ou trabalhar com novas pessoas alicia-nos e é esse diálogo que pretendemos trazer para aquilo que fazemos e apresentamos.

Que influências e inspirações consideram basilares no âmbito do processo de criação artística?
Em primeiro lugar achamos crucial conhecer e perceber o que se faz no Arquipélago dos Açores – desde o tradicional ao mais contemporâneo e quem são as pessoas que estão a levar a cabo esses projetos. Depois, vem o diálogo com os artistas e agentes culturais. Cruzando todo esse material com as nossas próprias referências pessoais, cria-se um espaço fértil de reflexão, onde, de uma forma natural, vamos construindo as nossas constelações criativas. Podemos dizer que o nosso trabalho acaba por assumir uma vertente sensível, humana e muito prática, porque quase todos os nossos processos criativos foram pensados dessa forma e é assim que gostamos de os compor – em proximidade e partilha com quem trabalhamos.

O colectivo teve presença forte nas comemorações do centenário da Natália Correia. Podem contar um pouco sobre a vossa contribuição?
As Comemorações do Centenário de Natália Correia foi um projeto muito rico. Foi pensado através da colaboração entre o CARA LAVADA e o O Colectivo e, em três anos, trabalhamos com mais de cerca de três dezenas de artistas de diferentes gerações e diversas instituições da ilha de São Miguel. Para nós era importante pensarmos para além do “quem foi Natália” e podermos refletir, através do nosso espírito contemporâneo, acerca do seu legado e das possibilidades de liberdade que este continua a equacionar. Como resultado, surgiu um tecido híbrido de obras que foram desde as artes plásticas, como com a exposição “As que Cantavam Deixava-as Fugir”, e arte urbana até à literatura, com a “Venérea – Antologia de Poesia Erótica e Satírica”, e ao cinema, com “Mátria”, que se estreou no IndieLisboa e seguiu viagem para outros países como EUA, Argentina e França, continuando a marcar presença em festivais de cinema portugueses.

Qual é a vossa opinião sobre o atual panorama cultural em São Miguel?
É certo que tem havido movimentos muito interessantes e de imenso potencial no panorama cultural açoriano, mas ainda de uma forma algo isolada. Apesar de já haver alguma consciência para a necessidade de deixarmos de ser ilhas dentro de ilhas e haver, cada vez mais, uma entreajuda bastante positiva, ainda há um longo caminho a percorrer em termos de coesão e coexistência entre os agentes culturais. Neste sentido, achamos que o trabalho que, por exemplo, o MOVA – Movimento pela Cultura Açores está a desenvolver é de extrema pertinência e deve servir como um exemplo a esta e às próximas gerações de agentes culturais. Acresce o importantíssimo fardo da falta de apoios, especialmente aos jovens artistas e programadores, mas desse problema já todos sabemos bem e, com certeza, já o sentimos na pele.

Que trabalhos estão a ser desenvolvidos recentemente? Que objetivos pretendem alcançar em breve?
Acreditamos que o próximo ano vai ser muito rico a nível de projetos. Estamos a ter a oportunidade de mergulhar mais fundo e com mais tempo em algumas questões sobre as quais já queríamos trabalhar há algum tempo. Entra a curadoria e a criação de um projeto original, estamos a explorar campos muito diferentes da arte. Num futuro breve, o CARA LAVADA tornar-se-á, oficialmente, uma associação, o que facilitará a candidatura a bolsas e acessibilidade a apoios. Acreditamos que vêm aí coisas boas!

Por fim, porquê o nome “CARA LAVADA”?
Nós, no CARA LAVADA, temos especial carinho pelas expressões idiomáticas da língua portuguesa e gostamos de refletir sobre o significado das palavras e o quão poéticas, por vezes, podem ser. Quando “cara lavada” foi colocado em cima da mesa, pareceu-nos que traduzia, quase que de uma forma completa, aquilo que pretendíamos fazer com o coletivo, isto é, expressar-nos de uma forma honesta, direta, sem artifícios e sem máscaras, assumindo que somos jovens e que temos muito para aprender, mas também que temos visões diferentes e reformuladas do que gostaríamos de ver e fazer e que queremos ser fiéis ao que acreditamos.

Considerações finais
É essencial um investimento na Cultura e na Arte, nos agentes culturais e nos artistas da Região. A Cultura também pode ser um dos nossos “ex libris” e, por isso, um convite à visita das nossas ilhas. Por último, é essencial firmar-se um futuro sólido para o talento jovem açoriano, sendo que o CARA LAVADA será sempre uma constante na construção desse futuro. JHA

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