O Lions Clube de São Miguel, presidido por Eduardo Gaudêncio, assinalaram ontem os 45 anos de vida com um jantar de confraternização no restaurante ‘Q’é Nosso’, na Lagoa. Durante uma cerimónia que decorreu durante o evento, foram homenageados dois dos 30 Lions fundadores Lions Clube de São Miguel ainda vivos, Américo Natalino de Viveiros e Vasco Garçia além de se proceder à investidura de um novo Lion. Em entrevista ao ‘Correio dos Açores, Eduardo Gaudêncio quis dismistificar que os ‘Lions “não são um grupo de amigos de fato e gravata” mas, antes, um grupo de amigos (ricos ou pobres) que se dedica à causa solidária.
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Como surge o Lions Clube de São Miguel?
O Lions Clube de São Miguel surgiu numa altura difícil em que as sociedades necessitavam de apoio solidário. O João Gago da Câmara foi o nosso primeiro presidente e juntou 30 personalidades açorianas, pessoas de bem que, obedecendo às regras dos Lions Internacionais, criaram o Lions Clube de São Miguel.
João Gago da Câmara teve a ideia de criar estatutos próprios e com regras próprias, obedecendo aos critérios internacionais.
Qual foi a primeira missão dos Lions de São Miguel?
A primeira missão foi de apoio às pessoas afectadas pelo sismo de 1980. O clube foi formalizado a 8 de Outubro de 1997 e o sismo acontece a 1 de Janeiro de 1980, dois meses após a fundação.
E o que fez o Lions?
Nós pagamos cotas mensais que, depois, são enviadas para o Lions Internacional. Quando há catástrofes, eles entregam-nos fundos que, depois de termos feito orçamentos, entendemos importante para determinado fim.
E no caso do sismo?
Não lhe posso garantir o valor ao certo. Mas solicitamos verbas financeiras para apoio a instituições. Também quando houve a pandemia pedimos apoio para famílias carenciadas e fizemos cabazes para entregar a pessoas carenciadas. Nós desenvolvemos actividades para angariar fundos que se destinam quer a instituições quer a pessoas carenciadas. São camas articuladas, cadeiras de rodas, cabazes, tudo isto são dos fundos que angariamos dos nossos eventos.
Quando são verbas avultadas, solicitamos ao Lions Internacional que nos envia as verbas com determinado fim.
Um dos nossos objectivos é dar apoio à ACAPO, porque uma das grandes missões do nosso fundador, Melvim Jones, foi a visão. E o nosso Past-Governador, Edmundo Lima, na altura fundou e apoiou a ACAPO em São Miguel. E este investimento foi feito com fundos que vieram dos Lions internacionais.
Antes da pandemia, fazíamos as sopas do Espírito Santo e a iniciativa representava à volta de 3000 mil euros de fundos. Como conseguíamos? A carne era oferecida pela Associação Agrícola, que é nosso parceiro; tínhamos a massa oferecida pela padaria de Rabo de Peixe. Os parceiros contribuíam com alguma verba, os custos eram zero e o objectivo do lucro era destinado para arranjarmos uma incubadora para o Hospital. Participamos na aquisição de uma incubadora para neo-natais.
Fazemos pelo Natal recolha de alimentos pelas superfícies comerciais e depois canalizamos estes bens para uma lista de pessoas que tínhamos e onde esta distribuição era feita em função do agregado familiar.
Continuam a fazer estes apoios?
A pandemia trouxe-nos um problema. Até há pandemia fazíamos essa recolha e todos os meses fazíamos cabazes. Após a pandemia, compramos alimentos para as famílias carenciadas. Elas estão identificadas e temos parceria com juntas de freguesia que se encarregam de entregar a estas famílias.
Quais são as acções que vão assinalar o 45º aniversário do Lions Clube de São Miguel?
Fazemos uma actividade mensal. Comparticipamos, além das cotas de cada associado, com alguns fundos que têm como destino um determinado objectivo. Recentemente, foi-nos pedido apoio para enviar material escolar para Cabo Verde, e cada um deu o que queria em termos de material escolar ou dinheiro.Comparticipamos na ajuda do contentor de mantimentos para Timor. Foi-nos pedido ajuda e o Lions comparticipou.
Sempre que alguma entidade nos pede apoio, nós angariamos fundos, independentemente das nossas cotas mensais, para fazer solidariedade dentro da nossa comunidade. Os Lions são um movimento de proximidade com as suas comunidades.
O número de pessoas envolvidas no Lions Clube de São Miguel tem vindo a diminuir?
O Lions Clube de São Miguel foi fundado por 30 pessoas. A partir daí, foram angariando outras e chegaram a 66 ou 67 pessoas. O Clube foi envelhecendo e não teve o cuidado de rejuvenescer. Falta-nos mão-de-obra. Neste momento, é um clube com uma certa idade, que não deixam de pagar as suas cotas, mas para as nossas actividades, uma vez que precisamos de angariar fundos, temos de ter mão-de-obra, e estas pessoas não estão disponíveis, até pela sua idade.
Neste momento, somos 18 membros do Clube com um que tomou posse ontem. Vamos tentar angariar novos membros, inclusive membros que já pertenceram ao Clube e gente jovem que se identifique com a doutrina do Clube. O Lionismo é servir e não servir-se do clube. Não é virem para o Clube e servirem-se da imagem do Clube. É para dar de si e servir. É essa a função do Lionismo, servir a comunidade onde estamos inseridos.
É fácil recrutar jovens para servir?
Nós não queremos número, queremos pessoas que se identifiquem. É evidente que a sociedade está a mudar, mas é preciso que consigamos o tipo de pessoas que se identifique com a causa pública, com o Lionismo.
No Lionismo também existem os Leos, que são os jovens filhos de membros. Trazê-los para o clube para que se identifiquem com esta causa, para servir a comunidade. Os jovens estão muito ocupados com as novas tecnologias mas é possível chamar jovens para o nosso clube.
Como surgiu no Lions de São Miguel?
O meu Lionismo, sou eu próprio. Quando entrei para o Lions, não me inscrevi logo. Fui convidado a uma das assembleias deles. Sei que existe um ritual Lionistico. À primeira eu não fui mas, depois, a minha esposa identificou-se porque participou em actividades de solidariedade. Foi Lion primeiro do que eu e foi até minha madrinha. E eu comecei a gostar também deste tipo de solidariedade. Dou de mim, a minha força de trabalho, aquilo que sou capaz e estou pronto a servir a comunidade, não financeiramente.
A ideia que o Lions é um grupo de amigos que se junta, uma vez por mês, num hotel todos de gravata é para desmistificar. Nós, para além de Lions, somos um grupo de amigos que fazemos solidariedade, ou seja, servimos a nossa comunidade. Sempre que somos solicitados, estamos aqui para servir.
Temos cadeiras de rodas, camas articuladas que podemos emprestar. Nós não compramos, as pessoas é que nos entregam para fazermos solidariedade.
Como se chama a sua madrinha?
A minha madrinha e minha esposa chama-se Emília Andrade Benevides. Temos um padrinho que é quem angaria o membro. E o padrinho compromete-se a educar o membro. Para entrar no clube, a pessoa tem que se identificar com a doutrina do Lionismo e, enquanto padrinho, eu sou responsável por essa pessoa cumprir com as regras do Lionismo.
Quem é o Eduardo Gaudêncio?
Nasci numa freguesia em Santa Barbara de Santo António. Estudei até à quarta classe em Santa Barbara e depois vim para Ponta Delgada.
A minha história é engraçada porque quando fiz o exame da quarta classe fui seleccionado para uma instituição que era a Casa de São José que era uma instituição que acolhia bons alunos que não tinham possibilidades de estudar. E quem não tinha aproveitamento e não queria estudar ia para a rua. A Casa de São José era na rua João do Rego, depois passou para o canto em baixo da Rua do Beco e foi ali o meu primeiro ano de escola. A Escola Industrial estava em construção.
Fiquei lá um ano e depois fui para o Ciclo Preparatório, onde é hoje a Escola Roberto Ivens. De seguida fui para a Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. Tirei o 7º ano, arranjei trabalho e, a partir dai, prossegui a minha vida normal.
Onde começou a trabalhar?
Comecei na área da informática, na empresa JH Ornelas, depois fui para a banca, para a Caixa Económica da Ribeira Grande, de seguida para a Caixa Económica Açoriana, depois Montepio Geral. Fui trabalhar para Lisboa, porque era o responsável da área da informática da Caixa Económica Açoriana, e como acabou fui pelo Montepio. Quando tinha 54 anos pedi a reforma e consegui reformar-me.
Dediquei-me então à causa pública que é o Lionismo. Não parei. Deixei foi de exercer a actividade bancária e dediquei-me à causa pública.
Qual era a profissão dos seus pais em Santo António?
O meu pai era encarregado, trabalhava na Câmara Municipal e a minha mãe era doméstica. E a minha esposa trabalhava na EDA. Também se reformou muito nova, com 40 anos.
Fez o seu percurso na Banca…
Sim, na área de informática. Na banca vai-se subindo na hierarquia consoante o mérito, ao contrário da função pública que tem a ver com anos de serviço. Á medida que se sobe, ganhasse mais. Eu era chefe de divisão. Esta era a minha função.
Confia que o movimento Lionistico tem pernas para andar no futuro?
O movimento Lionistico abrandou um pouco depois da pandemia, porque as pessoas adquiriram alguns vícios da comunidade. O trabalho em casa, as compras irem para casa e tudo isso. Está neste momento a rejuvenescer. Existem 6 Clubes de Lions em São Miguel. O Lions Clube São Miguel é como se fosse o ‘Lions Clube Ponta Delgada’ e, depois, existe o da Lagoa, Vila Franca, Rabo de Peixe, Maia e Nordeste. Esses clubes fazem o movimento solidário na sua comunidade. São autónomos, existem regras internacionais e têm de obedecer a um padrão. Dentro do clube, cada um gere da forma que quer. Têm de fazer as assembleias e pagar as cotas.
O movimento tem possibilidades de crescer porque nós vamos ter de fazer um esforço e angariar mais jovens.
Os Lions não são uma organização fechada?
Não. Esta era uma ideia que existia e que tem de ser desmistificada. Eu como Lion comprometo-me a levar uma pessoa que se identifique com a causa pública. E eu é que sei se esta pessoa tem ou não condições para ser Lion. Não é qualquer pessoa que bate à porta e quer ser Lion. O Lionismo é: eu sei que esta pessoa tem condições para ser Lion.
E as condições não é ser rico?
Não, não é ser rico ou pobre.
Quais são as condições para se ser Lion?
A pessoa tem de estar disponível para fazer solidariedade. Para estar disponível, na sua vida, para contribuir. O Lionismo não é eu preciso de dinheiro. Angariamos fundos através das nossas actividades.
A solidariedade tem a ver com a actividade que possa desenvolver para uma determinada causa
A título de exemplo, no dia 12 de Outubro, o Lions de Vila Franca vai fazer uma grande festa no Açor Arena, que é a festa das vindimas. Os membros do Lions Clube de Vila Franca e familiares, confeccionam comidas, há entidades que oferecem bebidas e todos que vão lá, pagam. Toda a verba angariada é receita que se destina às actividades lionisticas do ano deles como comprar alimentos para famílias carenciadas, algumas cadeiras de rodas. No fundo, isto é que é Lionismo. Eles vão fazer eventos para angariar fundos, cujos fundos destinam-se a uma causa.
O Lionismo não é fechado. As pessoas têm de se identificar e existe um compromisso. A pessoa quando toma posse lê uma série de regras a cumprir no clube. Regras essas que são regras normais: participar nas assembleias, pagar as cotas. Enviamos as cotas para o Lions Inernacional e a solidariedade é feita com a angariação de fundos internamente.
João Paz
Lion Emília Andrade andava
pelas escolas de P. Delgada
a dar visão a crianças pobres
Um tema que despertou interesse foi o de os Lions não serem pessoas de fato e gravata que promovem almoços e jantares. Quer desmistificar esta ideia?
Nós não somos maçons. A ideia que se criou é a de que somos um grupo restrito de pessoas e que para entrar neste grupo é muito difícil. As 30 personalidades que fundaram os Lions em São Miguel eram pessoas influentes na sociedade. A minha esposa tinha uma função que era ir às escolas com uns cartazes com umas letras para saber da dificuldade de visão das crianças. O nosso lema sempre foi a visão. A minha esposa identificava famílias carenciadas, com dificuldades de visão, que obedeciam a critérios de remuneração e depois íamos buscar a criança e levávamos ao oculista. Tínhamos uma parceria com o médico Gil Resendes, que ou levava um valor simbólico ou fazia gratuitamente a consulta. Depois, tínhamos uma outra parceria com a MultiOpticas e a Alberto Oculista que faziam até um determinado valor pelas armações. Não podiam ser topo de gama, também recolhemos armações que já não se vendiam e enviávamos para o Lions Internacional pois podiam servir para outros países mais carenciados.
No caso de Ponta Delgada, a criança quando ia à escola, a determinada altura e data, a minha esposa ia lá. Ela levava os cartazes e identificava a criança e o grau de visão que tinha. Identificava também o rendimento familiar, depois levava ao médico e o Lions levavam os óculos oferecidos
E isto acontecia muita vez?
Acontecia, dependendo da nossa disponibilidade. Dentro da nossa comunidade, de Ponta Delgada. Ela foi aos Arrifes, às Capelas... e ela identificou muitas crianças a quem oferecemos óculos.
Neste momento, temos um mail que recebemos de uma pessoa em São Roque que precisa de um computador. Vamos analisar, porque dos eventos que fazemos, como almoço ou jantar, em que cada evento custa 15 euros.
Damos 25 euros e esta diferença vai para o nosso tesoureiro. Se decidirmos comprar o computador iremos fazer um jantar de angariação de fundos para este fim.
Convenção Nacional vai
reunir 800 Lions do país
na Lagoa em Maio
“Vai haver um evento muito importante nos Açores que é a Convenção Nacional dos Lions na Lagoa em Maio de 2025. Nesta Convenção Nacional, todos os clubes do país que vêm à Lagoa.
Terá de haver muitas parcerias, a Câmara Municipal da Lagoa, os hotéis, as entidades. Vamos ter muita gente de fora. Vamos ter na Lagoa 800 pessoas. Só dos Açores são à volta de 200.
Ao longo da convenção Neste momento a solidariedade restringisse aos clubes. Na convenção irá ser discutida a níveal vão ser discutidos assuntos de interesse para o Lionismo e não ser discutidas estratégias de comunicação.
Vão ser discutidas estratégias de comunicação. Temos dois governadores, centro sul e do Norte.”
Pagamos para entrar na convenço, pagamos a inscrição, e quem vier paga tudo do seu bolso. Não há financiamentos para participar na convenção. Esta Convenção Nacional chama-se ‘Lagoa 25’.”
