O Correio dos Açores esteve à conversa com Pedro Paulo Câmara, Coordenador dos Encontros Literários, iniciativa da Câmara Municipal de Ponta Delgada, cuja III edição decorre até amanhã, dia 12 de Outubro, nesta cidade.
Correio dos Açores – Qual a história dos Encontros Literários de Ponta Delgada?
Pedro Paulo Câmara – Esta é a III edição dos Encontros Literários de Ponta Delgada, iniciativa da Câmara Municipal de Ponta Delgada, sendo que a primeira edição, que decorreu maioritariamente no Campo de São Francisco, sob a protecção de Alice Moderno. Desde então, os moldes dos Encontros têm vindo a sofrer alterações, ajustes e melhorias, que visam potenciar a cultura. A III edição destes Encontros, que decorre de 10 a 12 de Outubro, apresenta uma estrutura renovada, focada num conjunto de painéis, maioritariamente mesas redondas e entrevistas -tertúlia, que promovem o autor e o colocam em estreito contacto com o público.
O que podemos encontrar nesta III edição dos Encontros Literários?
Após a intervenção do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, os trabalhos dos Encontros Literários iniciaram-se com a Conferência inaugural do Professor Carlos Reis, no dia 10, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Ponta Delgada, pelas 18h00, a que se seguiu a entrega do prémio Literário Natália Correia. Já no dia 11, no Centro Natália Correia, Luísa Cavalleri modera um painel dedicado à mulher na produção literária nos Açores, no qual participarão Amélia Sophia, Ana Isabel d’Arruda, Carolina Cordeiro, Malvina Sousa e Sandra Fernandes.
De seguida, realiza-se uma homenagem a um dos rostos da poesia açoriana, Victor de Lima Meireles, sessão liderada por Vera Santos e durante a qual se pode escutar poesia do próprio, declamada por formandas da Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia. Após o almoço, no mesmo espaço, o primeiro painel, moderado por Aníbal Pires, discute as fronteiras existentes entre a ficção e a realidade, na construção das biografias, com os convidados António Pedro Costa, Júlio Oliveira, Luís Bettencourt Reis e João Morgado. De seguida, ocorre o painel dedicado à poesia e à importância da palavra, no qual participam poetas como Luís Filipe Sarmento, Paula de Sousa Lima, Raquel André Machado e Virgílio Vieira, numa conversa liderada por Gabriela Silva. Como não poderia deixar de ser, o grupo Palavras Sentidas, que tem vindo a promover a palavra poética, declama poemas dos ditos autores. O painel de encerramento, liderado por Eleanora Marino Duarte, consistirá numa conversa com o sobejamente conhecido autor Valter Hugo Mãe. Temos, assim, uns Encontros Literários ecléticos e descomprometidos, abertos a todos e capazes de satisfazer vários focos de interesse.
O programa está disponível online e todos os eventos são abertos ao público e de entrada gratuita, sob o mote “Cultura para todos”.
Quais são os principais objectivos dos Encontros Literários de Ponta Delgada?
Compreendendo que Ponta Delgada desempenha um papel cimeiro no fomento da produção e actividade cultural; que constitui um núcleo decisivo na construção do conhecimento científico; e compreendendo que a gestação de animação sociocultural e científica são elementos essenciais à manutenção e solidificação da identidade, temos como objectivos, genericamente, estimular a transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade, entre diversas áreas do saber, na construção do conhecimento; proceder à promoção das manifestações culturais e agentes culturais locais e contribuir para a promoção da leitura, da literatura e da investigação, e dos próprios intervenientes. É fulcral reflectir, a partir dos painéis temáticos e/ das sessões de apresentação de obras, ou das entrevistas-tertúlia, acerca do acto da escrita e dos seus respectivos códigos
Quais são os desafios mais comuns ao organizar os Encontros Literários?
Neste tipo de evento, um dos principais constrangimentos diz respeito ao financiamento. Neste caso em concreto, existindo um orçamento disponível, que é finito, importa gerir os recursos de forma eficiente. Em termos de curadoria e programação, é essencial convidar autores, críticos literários, investigadores e outros profissionais do sector, que sejam do interesse do público, e criar uma programação diversificada; portanto, dinâmica e apelativa. Num evento como este, que obedece a uma condição temporal, temos consciência que existem autores, críticos, investigadores, jornalistas, livreiros, editores que estão em falta e que importaria convidar, mas, para tal, também existem todas as outras edições. Existe uma lista avantajada de figuras, nas áreas referidas, que têm voz e que têm algo para transmitir. Um dos maiores desafios será o de proceder à gestão da agenda e dos horários dos diversos intervenientes e à montagem do horário propriamente dito.
Como vê o futuro dos Encontros Literários de Ponta Delgada?
Cabe-me responder, apenas, como o actual Coordenador Científico dos Encontros Literários, sendo que seria importante, também, auscultar a Câmara Municipal de Ponta Delgada, mentora e responsável pelo projecto. Na minha óptica, eventos literários como estes geralmente dependem do apoio contínuo da comunidade literária local, do interesse do público e do suporte financeiro e logístico, suportados, neste caso, e bem, pela Câmara Municipal de Ponta Delgada. Se há um histórico de sucesso e de participação, estão reunidas as condições para que continuem a ser realizados, talvez, naturalmente, com os ajustes necessários a cada edição e à visão desenvolvida para esta.
António Pedro Costa
