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A nossa população vive muito à base da pesca e da agricultura e conseguimos ter um bom nível de vida mas os jovens vão e não voltam”

David Areia é o Presidente da Junta de Freguesia da Piedade, do concelho das Lajes do Pico, desde 2021, cumprindo o seu primeiro mandato. Trabalha como Assistente Operacional nos Serviços Florestais do Pico. Nesta entrevista, o autarca refere os motivos da população da freguesia ficar cada vez mais idosa e da diminuição do número de residentes; a importância da pesca e da agricultura na freguesia; e a existência de uma comunidade estrangeira que vive na Piedade. O Presidente da Junta de Freguesia afirma que a freguesia tem muitas “paisagens maravilhosas”, mas acaba por ficar prejudicada por estar localizada numa zona longe do centro do concelho.

Correio dos Açores – Qual a sua experiência enquanto Presidente da Junta de Freguesia da Piedade?
David Areia (Presidente da Junta de Freguesia da Piedade) – Tem sido uma experiência desafiante, porque encontrei a Junta de Freguesia num estado um bocado mau, principalmente a nível financeiro. Apesar de o desafio ter sido grande, felizmente estamos a conseguir. Como é o meu primeiro mandato, lembro-me como a nossa equipa chegou, com a ideia sempre de fazer mais, mas na realidade acabamos por perceber que não íamos conseguir fazer tudo o que planeamos. Tirando isso, tem sido tudo muito positivo.

Quais são os principais desafios, necessidades e dificuldades que a freguesia enfrenta?
Temos várias dificuldades a nível de população, visto que no concelho da Lajes do Pico – onde a minha freguesia está incluída – tem uma percentagem de população com idade mais elevada. Além disso, a freguesia fica localizada numa ponta da ilha, ou seja, não está perto dos centros dos concelhos da ilha do Pico. Acaba por ser desafiante, mas tem sido mais positivo.
Antigamente, a freguesia tinha três bancos a funcionar, mas agora não há um que seja. Os mais jovens não sentem muito essa dificuldade devido às novas tecnologias, mas é mais complicado para as pessoas com mais idade. Estamos com dois multibancos.

Há alguma infra-estrutura em falta na freguesia da Piedade?
De momento, não. A Junta realizou uma grande obra que tinha sido feita há anos: a sede da Filarmónica, que foi reaberta este ano. Esta infra-estrutura traz muitas mais valias à freguesia, não só à Filarmónica como a todas as actividades. Foi um aspecto muito positivo, porque era a nossa dor ver aquele edifício novo fechado, mas felizmente está resolvido.

Quais são as dificuldades inerentes à dupla insularidade?
A nossa população vive muito à base da agricultura e da pesca. Nós aprendemos a viver assim já há muitos anos e conseguimos ter um bom nível de vida na nossa freguesia.

A freguesia da Piedade vive muito à base do sector primário. Qual é a dimensão da freguesia da Piedade neste sector na ilha do Pico?
Não somos os maiores produtores de carne nem de leite, mas estamos muito bem qualificados nisso. No sector do leite temos poucas vacas, mas são muito boas, inclusive trazemos vários primeiros prémios a nível de leite nas feiras. Em relação às carnes, temos evoluído muito e com uma qualidade de carne elevada – e com alguns prémios conquistados.
A nível da pesca, temos dois Portos de pesca na freguesia. Os nossos pescadores têm muita qualidade. A zona da ponta da ilha é uma zona muito boa para pesca. Além dos nossos pescados, também os pescadores de São Miguel e da Terceira vêm cá.

Qual tem sido o crescimento do turismo nos últimos anos? A freguesia tem alojamentos locais para que os turistas passem pequenas temporadas na Piedade?
Temos muitos alojamentos que, felizmente, têm tido muita afluência e estão praticamente cheios. Mesmo durante a época do Inverno, há muitos turistas que visitam a nossa freguesia.
Quando se falava no desenvolvimento do turismo no princípio, dizia-se que vinham poucos turistas, mas com muito dinheiro. Agora, o turismo já não é tão rentável como era. Ou seja, há mais turismo, mas não é tão rentável.
Neste momento, a freguesia da Piedade tem mais de 12 alojamentos locais.
Temos ainda algumas moradias que estão abandonadas. Temos conseguido recuperar algumas destas casas. Ainda temos muitos espaços para fazer moradias.

De acordo com os últimos CENSOS, a freguesia viu o seu número de habitantes a diminuir nos últimos anos. Em 1960 tinha 2.096 habitantes. Neste momento, encontra-se com 757 habitantes. Está a ficar com menos jovens e a população idosa está a aumentar. Em sua opinião, a que se deve este facto?
A diminuição da população deve-se à época elevada da emigração, com muitos residentes da Piedade a emigrarem para os Estados Unidos da América e o Canadá, e agora, ultimamente, temos o problema da falta de emprego jovem. Este último problema acontece porque muitos jovens não querem ir para agricultura ou pesca e, normalmente, não voltam. Tirando as pessoas com mais idade, são muito poucos aqueles que voltam. Estes são os dois motivos que levaram à diminuição da população da nossa freguesia.

As verbas são suficientes para gerir a freguesia ao longo do ano? Há alguma infra-estrutura em falta?
As verbas são sempre poucas e reduzidas, mas nós temos conseguido angariar algum dinheiro, por exemplo, temos um posto do CTT na Junta de Freguesia e estamos em vias de trazer a RIAC – estes rendimentos vão dar para fazer mais actividades.
Nós já conseguimos obter uma rampa para as pessoas com uma maior dificuldade de mobilidade. Somos um organismo culto e temos que dar o exemplo. Acredito que há uma falta de investimento neste tipo de infra-estruturas e temos apostado nisto.

Quais são as acções culturais que a freguesia promove?
A Junta de Freguesia faz, mensalmente, um mercadinho tradicional, onde há todos os tipos de produtos que se faz na freguesia da Piedade, desde o artesanato às frutas. Este projecto foi implementado por nós. Além disso, temos a nossa Semana Cultural, que curiosamente aconteceu esta semana. Não se fez durante algum tempo, regressou, entretanto, e tem sido muito interessante e positivo. Esta festa é feita na época baixa por causa da Festa da Candelária e para manter as pessoas ocupadas com actividades. Temos cá a Chamarrita do Pico e um salão que abre todas às Quintas-feiras à noite para ensinar às pessoas como se baila nas chamarritas.

A freguesia tem potencial para se desenvolver em que sectores?
O grande potencial da freguesia da Piedade é o turismo. Temos uma vista maravilhosa para as ilhas da Graciosa e Terceira – poucas freguesias têm uma paisagem destas – piscinas naturais lindíssimas e trilhos incríveis. Temos tanta coisa que as pessoas de cá não dão o devido valor por ser aquelas coisas que fazemos todos os dias. Na nossa freguesia temos uma comunidade de estrangeiros – alemães e franceses – que vive cá. Por algum motivo mudam-se para a nossa freguesia. Temos mesmo muito potencial.
Temos muitos artesãos a viver na Piedade que participem em várias feiras em São Miguel e na Terceira. Muitos deles têm uma estrutura própria em que as pessoas podem visitar.

Quais são os projectos para o futuro?
Temos ainda um projecto pendente que é a construção de um parque infantil. Queremos concretizar este projecto até Setembro do próximo ano.
Neste mandato, fizemos a requalificação das piscinas e implementamos muitas actividades a nível cultural.

Que retrato faz da freguesia da Piedade?
A nossa população é muito acolhedora – temos esta fama há alguns anos – para quem nos visita. A nossa grande imagem será sempre a simpatia de acolher. Temos as nossas belas paisagens, com os miradouros. As nossas zonas balneares são de excelência, inclusive uma delas já é pequena devido à grande afluência.
Temos zonas que são pouco conhecidas e divulgadas, como a zona do Céu de Abraão. Só mesmo quem vê consegue dar valor.

  Filipe Torres 
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