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“É preciso não confundir o `pão por Deus´ e o halloween”, refere o professor de EMRC padre Vítor Medeiros

No próximo dia 1 de Novembro, dia de Todos-os-Santos, não serão muitas as crianças que andarão nas ruas a pedir o Pão por Deus´ , pelo menos se compararmos com as que sairão na noite anterior, mascaradas de bruxas e fantasmas a pedir guloseimas debaixo do slogan doçuras ou travessuras. “Gostaria que as duas coisas fossem vividas de forma a que não houvesse confusão entre o halloween e o Pão por Deus. São coisas distintas e embora uma festa não tenha que anular a outra, a verdade é que não se devem misturar também” refere ao sítio Igreja Açores o padre Vítor Medeiros, professor de Educação Moral e Religiosa Católica, na Escola Secundária da Ribeira Grande. “Cada coisa deve estar no seu lugar e não podemos esquecer o sentido de cada uma destas manifestações” refere o sacerdote sublinhando que enquanto o Halloween “celebra a morte, o medo, as travessuras e a questão da noite”, oPão por Deus´ celebra a vida, a partilha, a ajuda, a celebração da vida e da luz que acreditamos ser Cristo Jesus e olharmos uns para os outros, com a questão da amizade e da caridade”.
“Bem sabemos que, se calhar é mais fácil promover a animação do Halloween quem não gosta de se fantasiar- mas é bom também que possamos manter a tradição, valorizando outros valores”.
“Tenho pena de que às vezes pareça que há uma vergonha em ensinar a tradição”, lamenta frisando que as “duas festas podem existir, mas não se misturando”, mesmo que “a fantasia cative e entusiasme mais que a tradição”.
O Pão por Deus nos Açores, que se assinala na próxima Sexta-feira, dia 1 de Novembro, é uma tradição muito viva, impulsionada pelas escolas católicas e que está a ser recuperada como uma tradição cultural pelas escolas do ensino público regional, sobretudo as do ensino básico.
A tradição do Pão Por Deus remonta a 1756, um ano depois do sismo que devastou Lisboa. A pobreza que atingia a capital agravou-se com a destruição provocada pelo abalo de terra e um ano depois os lisboetas saíram à rua para pedirem Pão por Deus para “matar” a fome.
Nas décadas de 60 e 70, por imposição da ditadura do Estado Novo, o Pão Por Deus só podia ser pedido por crianças, menores de 10 anos e, apenas, até ao meio dia.
Pão, frutos secos e agora guloseimas é o que costuma ser pedido pelos mais novos que, inclusivamente, se arranjam com sacos bem decorados para irem para a rua pedir.
Hoje, o Pão por Deus mistura-se um pouco com uma outra tradição pagã, o halloween, importada dos países anglo saxónicos e introduzida no país pelos professores de inglês.
“No Colégio sinalizamos a Importância do dia de Todos os Santos, falamos sobre exemplos de modelo de vida cristã e sobretudo de valores como a partilha e as crianças aderem” refere, por seu lado, a Irmã Domingas Lisboa, directora do Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, o único colégio católico da ilha de São Miguel, que tem alunos desde a cresce ao segundo ciclo.
“Na quinta feira, crianças do pré-escolar fazem a visita aos vários sectores do Colégio, recitando quadras onde farão o seu pedido de Pão por Deus. As salas dos 4 e cinco anos trazem algo de casa para partilhar com os colegas, mas não deixamos de falar no Halloween de forma pedagógica, lembrando até como na antiguidade as bruxas eram usadas para espantar os males”, refere a religiosa de São José de Cluny.
“É uma festa de partilha e de simplicidade porque o `Pão por Deus´ é isso justamente: estarmos atentos às necessidades dos outros”.
O Pão por Deus, juntamente com as romarias aos cemitérios para depositar flores (crisântemos) nas campas, é um dos hábitos do primeiro de Novembro, dia em que a Igreja Católica celebra Todos-os-Santos.
Nesta solenidade litúrgica, lembram-se conjuntamente “os eleitos que se encontram na glória de Deus”, tenham ou não sido canonizados oficialmente, como refere a Enciclopédia Católica Popular
As Igrejas do Oriente foram as primeiras (século IV) a promover uma celebração conjunta de todos os santos quer no contexto feliz do tempo pascal, quer na semana a seguir.
No Ocidente, foi o Papa Bonifácio IV a introduzir uma celebração semelhante em 13 de Maio de 610, quando dedicou à Santíssima Virgem e a todos os mártires o Panteão de Roma, dedicação que passou a ser comemorada todos os anos.
A data de 1 de Novembro foi adoptada em primeiro lugar na Inglaterra do século VIII acabando por se generalizar progressivamente no império de Carlos Magno, tornando-se obrigatória no reino dos Francos no tempo de Luís, o Pio (835), provavelmente a pedido do Papa Gregório IV (790-844).
I.A.

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