Correio dos Açores – Como foi o seu percurso até ser Presidente do Vitória Clube do Pico da Pedra?
Ricardo Estrela (Presidente do Vitória Clube Pico da Pedra) – Comecei como a maioria dos dirigentes desportivos começa: como director do meu filho. O meu filho começou a competir no Vitória aos sete anos e o treinador depois viu que ficava a ver o treino e convidou-me para ser director dele. Fui director durante dois anos no Vitória e entretanto o Clube Desportivo São Roque contratou o treinador para ir treinar para lá. Como é habitual nestas coisas, quando vai um treinador, vão mais quatro ou cinco crianças e eu acompanhei o treinador nesta mudança. Fui desempenhar as funções de director e cheguei a Vice-presidente da direcção com o Artur como Presidente. Mas, o bichinho do Vitória estava sempre lá, porque o Vitória é um clube diferente. Eu sabia que eles iam ficar sem presidente e lançaram-me o repto para liderar uma equipa e eu não hesitei.
Durante estes oito anos as suas expectativas têm sido cumpridas?
Nunca estou satisfeito com o que temos conseguido para o Vitória. O clube cresceu muito nos últimos anos. Em parte tem alguma influência minha, já que sou o líder, mas sem uma grande equipa atrás de mim, com pessoal presente e que caminha na mesma direcção que eu, não seria possível.
Acho que estamos acima das expectativas de toda a gente. Das minhas não, acho que ainda temos muito para evoluir.
Quais são as suas expectativas?
Começando pelos masculinos, visto que descemos o ano passado do campeonato dos Açores de forma injusta, arrastados, é o sistema que existe e infelizmente não irá mudar. Voltamos ao campeonato de São Miguel e o objectivo é voltar ao campeonato dos Açores. Nós somos candidatos a vencer o campeonato de São Miguel. Vai ser muito difícil, o União Micaelense, o Benfica Águia, o Santo António, o Vale Formoso e todas as outras equipas dificultarão o nosso objectivo. Vai ser um campeonato muito difícil mas queremos ir para o campeonato dos Açores.
Relativamente aos seniores femininos, temos dois planteis. Inicialmente iríamos só ter um, a competir na terceira divisão. Sabíamos que a manutenção seria difícil, visto que irá haver uma reestruturação grande no futebol feminino e a terceira divisão, que contem cerca de 80 clubes, vai passar a ter 12. Os restantes clubes passarão para uma quarta divisão, que irá abrir. Se tivéssemos as jogadoras todas desde inicio, iríamos lutar para estar nas 12 equipas que irão ficar. Como tivemos vários problemas com atestado médico de sobre-classificação e que fez com que nos três primeiros jogos não pudéssemos ter essas atletas, irá ser difícil ficar no primeiro lugar do grupo.
As expectativas são que as atletas cresçam a jogar na terceira divisão e a nossa equipa B ser campeã de São Miguel, de modo a termos mérito desportivo e aí sim, podermos ter apoio governamental nas deslocações.
É difícil arranjar apoios?
É muito difícil para qualquer clube arranjar apoios de entidades privadas. Obviamente que para o Vitória já foi mais difícil, em especial quando éramos mais pequenos e tínhamos menos equipas e menos visibilidade. Agora já é um bocadinho mais fácil mas não é, de longe, o suficiente para que a agente consiga apostar mais um bocadinho no clube. Para isto contribui muito as nossas redes sociais. Somos o segundo clube, dos Açores, com mais seguidores, apenas atrás do Santa Clara e excluindo o Clube Futebol Pauleta, visto que é uma escola de formação. Isto ajuda a conseguir alguns patrocínios.
Existem clubes que se queixam da falta de atletas na formação. É algo que acontece no Vitória Clube Pico da Pedra?
Não concordo com isso. Todos os dias recebemos mensagens de pais e atletas que querem vir para o Vitória. Estamos com os planteis todos fechados, apenas conseguem entrar crianças para os petizes e traquinas até ao final de Novembro, para dar estabilidade ao treino.
Há muitas crianças, especialmente meninas, que querem jogar futebol e nós já não conseguimos aceitar mais. Onde é que está o problema dos clubes não terem crianças e nós já tivemos esse problema também há alguns anos atrás. O problema tem a ver com a qualidade do clube e dos treinadores, principalmente esta última. Se o clube tem bons treinadores não vai ter dificuldades em arranjar crianças. E para se ter bons treinadores é preciso pagar e pagar atempadamente.
O Vitória é um clube atractivo?
Tive um mister, o Cansado, que nos disse, no programa que costumamos fazer chamado ‘Mais Vitória’ na TV Vitória, na sua entrevista que achava que o Vitória era o clube da moda. Acho que as crianças gostam de vir, não por ter equipas campeãs visto que nunca fomos campeões no futebol de 11, a não ser nas meninas que fomos o ano passado, mas porque temos boas infra-estruturas, bons treinadores, bons equipamentos, boas carrinhas novas e isso tudo faz com que as crianças e os pais queiram vir.
Até onde pode chegar o Vitória?
O vitória nesse momento, já está, em número de atletas, senão nos derem mais um campo, porque queremos mais um campo e este ano já pedimos à Câmara para treinar no Campo da Ribeira Grande, algo que não nos foi permitido, estamos à espera de eleições camarárias para ver se lançamos o desafio ao novo candidato para ao lado do nosso campo se possa construir um campo de futebol de sete, porque, neste momento, estamos acima das nossas capacidades. E quem está a pagar um pouco com isso são os atletas que, se calhar, treinam menos do que o que deviam. Se nos derem mais um campo, ainda temos capacidade para crescer a nível de atletas, se não nos derem, crescer a nível de atletas não vai ser possível, inclusive vamos ter de diminuir. No próximo ano se só tivermos o nosso campo, José da Silva Calisto, vamos ter de diminuir o número de atletas.
Crescer o Vitória, queremos muito que a Ribeira Grande seja a capital do futebol feminino. Queremos no próximo ano ir para a quarta divisão e começar a subir. O meu objectivo é estarmos na primeira divisão do futebol feminino, dentro de quatro anos. Para já este é o meu principal objectivo. Temos muito mais possibilidades de ter sucesso no futebol masculino do que no feminino, pois no masculino existem milhares de equipas e no feminino não é assim. Demos um passo diferente dos outros clubes e estamos à frente de todos os outros clubes, a não ser que venha o Santa Clara no próximo ano, com todo o seu poderio, e nos leve a equipa toda. Se isso acontecer acaba o futebol feminino no Vitória. É possível e legitimo que aconteça, e não vou criticar, é a realidade. Neste momento não dá para dois clubes a terem sucesso nos Açores.
No futebol masculino queremos ir, rapidamente, para a Série Açores e dentro de dois anos começar a apostar para ir para o Campeonato de Portugal. Temos estrutura para estar, em breve, numa terceira liga.
O que levou o Vitória a apostar no futebol feminino em detrimento dos outros clubes?
É uma visão real e foi a conjectura. Começamos a apostar na formação não pensando nesse nível. Apostamos na formação porque havia muitas meninas a querer jogar e nós apostamos. Depois a conjectura levou a que aproveitássemos a qualidade das nossas atletas que pudéssemos dar um palco diferente a elas.
O Vitória tem muitos adeptos?
Temos cerca de 350 atletas inscritos na formação. Se contarmos com os pais, são mais 700. O nosso staff é composto por cerca de 80 pessoas, com as respectivas famílias, Se fizermos as contas, estamos a falar à volta de 150 pessoas. Só isso, na conjectura actual dos clubes, já é algo de significativo. Fora isso, adeptos que gostam e acompanham o Vitória, picopedrenses, são poucos. Diria que são entre 50 a 60 pessoas, extra staff. O Pico da Pedra é uma freguesia que não acompanha muito o Vitória, mas já foi menos. Os atletas que vão saindo do Vitória vão se tornando sócios e adeptos. Acredito que dentro de quatro ou cinco anos acredito que em vez de sermos 1500 do clube mais 50 adeptos, continuaremos com os 1500 mas teremos 800 ou 900 pessoas a seguir o clube. Isso já será significativo comparando com a maioria dos clubes. Com isso, quando vamos aos outros campos já somos a maioria e o nosso objectivo também é crescer a nível de adeptos.
Está nos planos abrir outras modalidades?
Já tivemos futsal feminino, mas devido à distância não deu certo. Treinávamos na Ribeira Grande e jogávamos, às vezes, em Rabo de Peixe. Depois foi com um conjunto de atletas que já eram seniores e não sentiam muito o clube.
Já fizemos ver à Câmara da Ribeira Grande que, quando criar um pavilhão perto do clube, e está projectado um pavilhão perto do clube, vamos para as modalidades de pavilhão.
O pavilhão está projectado para ser ao lado do Campo José Silva Calisto, à semelhança do projecto que temos para o campo de futebol de 7. São projectos de quatro anos, de um mandato. Quando tivermos pavilhão, e quando falarmos com o Presidente da Câmara informamos que quando tivermos pavilhão iremos abrir modalidades, principalmente para as mulheres.
É um projecto nosso que as mulheres pratiquem desporto, pois praticam muito menos desporto quando comparados com os homens. Pensamos no Volei e agora com o futebol feminino vamos ter de repensar. Mas as modalidades de pavilhão estão no nosso horizonte.
Tem alguma mensagem que gostasse de deixar no âmbito dessa entrevista?
O Vitória do Pico da Pedra foi criado pelo nosso saudoso Roberto Calisto, que faleceu o ano passado. Ele sempre imprimiu uma mensagem de que o Vitória é um clube familiar. A família está muito grande, mas essa é a verdadeira chancela do Vitória. É um clube familiar e onde nos sentimos bem. É uma segunda família.
A mensagem que deixo é para várias pessoas. Ao meu staff, treinadores e atletas, que continuem a acreditar no projecto do Vitória. Que o Vitória é o que é graças a eles todos e a essa aposta deles todos. E, para finalizar, uma palavra para a minha esposa que é o alicerce de todo esse projecto. Sem ela não teria tempo para me dedicar ao Vitória. FF