“Podemos também inovar através da dermocosmética,”
realça o Director Científico do INOVA
O Director Científico do INOVA, João Carlos Nunes, afirmou ontem no Azores Turism Summit, em Ponta Delgada, que, na Região, “Precisamos passar das palavras aos actos e tornar o termalismo num produto chave do turismo nos Açores.”
João Carlos Nunes falou do potencial hidrotermal e do termalismo nos Açores e apontou algumas pistas para a sua valorização e aproveitamento integral.
O Director Científico do INOVA está convencido que a Região “tem de aproveitar o termalismo” e “dar-lhe outro uso e outra projecção”.
“Precisamos passar das palavras aos actos e tornar o termalismo num produto chave do turismo nos Açores. Porque ele contribui para as quatro premissas: diversificação de oferta turística, diminuição da sazonalidade, aproveitamento dos recursos endógenos e promovemos o uso eficiente dos nossos recursos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e socioeconómica da nossa Região,” afirmou João Carlos Nunes.
Explicou que “há muitas utilizações e podemos ter a noção de que podemos inovar no uso do termalismo. Podemos usar as águas quentes como sistema de aquecimento ambiental e já há vários projectos em cima da mesa há alguns anos como, por exemplo, um para a Ribeira Grande que tem 20 anos. “Também podemos inovar através da dermocosmética. Temos procurado fazer, no INOVA, a nossa parte e fizemos uma produção piloto de produtos de dermocosmética. O potencial existe, temos é de trabalhá-lo. E o futuro do termalismo nos Açores é infinito,” realçou.
Termalismo em cinco ilhas
João Carlos Nunes entende que “todo o tipo de águas minerais, em particular da água termal, pode, deve e deveria ser usada em aproveitamento de infra-estruturas termais nos Açores.”
Estamos numa Região vulcânica e fruto da nossa contingência geológica, possuímos uma grande diversidade de recursos termais num sentido mais lato. Esses recursos termais existem em cinco ilhas dos Açores: São Miguel, Terceira, Graciosa, Faial e Flores, especificou.
Segundo João Carlos Nunes, este recurso “é utilizado há séculos e são inúmeras as referências, praticamente desde o povoamento, que estas águas eram utilizadas primeiro num contexto de balneologia, ou de banhos, mas também num contexto de banhoterapia, ou seja, de cura ou melhoria do estado de saúde das pessoas. Pelo menos desde o século XVIII, que temos infra-estruturas como o balneário termal do Carapacho que visava esse objectivo: o de tratamento da doença.”
As águas termais, segundo o Director Científico do INOVA, estão, essencialmente, concentradas, em termos de quantidade e diversidade na ilha de São Miguel, em particular nas Furnas. Por isso, referiu, “usamos o termo de hidrópole das Furnas. Numa área muito pequena temos várias divergências e com características muito distintas, por vezes, em 10 metros. A diversidade é que torna as Furnas num local único nos Açores, mas é bom lembrar que para além das Furnas temos outras zonas na ilha de São Miguel e outras ilhas que têm um reconhecido potencial de aproveitamento que ainda não está devidamente regularizado.”
O termalismo, segundo João Carlos Nunes, “encaixa como uma luva na quebra de sazonalidade e diversidade de oferta turística” nos Açores. “Resta saber porque esta luva não tem sido usada mais vezes e há mais tempo,” realçou.
No seu entender, “o termalismo é mais apetecível fora da época alta e apesar de estar circunscrito a cinco das nove ilhas, nessas cinco tem um potencial grande, sobretudo onde a oferta não existe. Poderíamos melhorar a nossa oferta turística recorrendo a este recurso.”
Águas quentes nas Flores
João Carlos Nunes desvendou o mistério, para muitos, da existência de águas quentes na ilha das Flores. Em particular” a nascente do Lagedo, que tem uma temperatura de cerca de 45 graus e que, neste momento, “está a correr para a ribeira”. Segundo o investigador, este “é um potencial que existe e poderia, eventualmente, ser utilizado, porque falta fazer tudo. Não sabemos qual o caudal e precisávamos de fazer o enquadramento em termos de segurança do local e depois usar e colocar o recurso onde pudesse ser utilizado pela população e pelos nossos visitantes.”
Segundo João Carlos Nunes, o problema reside na dimensão da ilha, do mercado turístico e dos custos de investimento. Muitas vezes há a vontade mas não há o retorno no período desejável e aí o Governo tem de se chegar à frente.”
Faial: termas do Varadouro
É conhecido o pólo termal do Varadouro, ao qual eu gosto de chamar Varadouro-Capelo, porque próximo das termas do Varadouro, fechadas à vários anos e sem recuperação à vista, a cerca de 2,5 quilometros existe um furo que tem 43 graus centigrados de temperatura. É uma água excelente e foi um furo feito, inicialmente, para captar água para a Câmara. Será que vamos, em 2025, aproveitar esta água?”
“Numa reabilitação do termalismo no Faial, no entender de João Carlos Nunes, “é fundamental essa abordagem conjunta, quer das infra-estruturas que existem junto ao balneário do Varadouro, quer deste furo, seja feita em conjunto. Isto vai valorizar a abordagem que se vai fazer e potenciar outros negócios que se possam perspectivar na envolvente nesta zona, que é conhecida pela sua beleza paisagística,” disse.
Terceira: O furo do Posto Santo
Na Terceira “existe um furo de água com 39 graus, similar à Dona Beija ou no Terra Nostra. O furo do Posto Santo está a cerca de três quilómetros da cidade de Angra do Heroísmo. O INOVA tem feito um esforço grande no sentido de valorizar e potenciar a utilização deste furo. Neste momento é propriedade da Câmara Municipal de Angra e temos a intenção de prosseguir com este estudo e detalhar o aquífero. Temos de ver onde podemos fazer um furo para não se desperdiçar dinheiro. Este trabalho está a ser feito há cerca de 9 anos e queremos intensificá-lo de modo a oferecer uma nova oferta turística para a ilha Terceira”, referiu João Carlos Nunes.
Reforçou que a ilha Terceira “não tem termalismo e poderia ter com o furo do Posto Santo que é uma área potencial da utilização deste recurso.”
Além disso, têm sido recorrentes os pedidos de avaliação de utilização dos afluentes da Central Eléctrica do Pico Alto, que entrou em funcionamento há pouco tempo. O uso dos afluentes das centrais tem um problema na sua utilização directa. Será muito difícil termos nos Açores um Blue Lagoon: pegar na água da central e meter num reservatório para tomar banho. Isto acontece porque as nossas águas têm excesso de arsénio e removê-lo, apesar de não ser impossível, é muito difícil. Mas podemos usar o calor dos afluentes para gerar uma série de ofertas turísticas próximas das centrais geotérmicas. Na Terceira seria mais problemático, uma vez que é na zona central da ilha, distâncias e clima, mas nada que não se possa avaliar, “ referiu.
Graciosa e o Carapacho
Graciosa, segundo João Carlos Nunes, “é a segunda ilha mais importante em termos de recursos termais. Além do pólo do Carapacho, existe uma zona de Guadalupe onde existe um foco termal. Existem furos e está reconhecida a presença de águas termais.”
Como explica, no Carapacho “temos uma grande dificuldade, similar ás Flores: baixa densidade populacional e número de residentes. É um mercado ainda baixo a nível de turismo.”
“Além de todos os usos tradicionais, a água do Carapacho está qualificada, tem cura de doença reconhecida. Perante esse potencial, poderíamos implementar a chamada Talassoterapia, canalizando, para a zona balnear vizinha do Carapacho, um furo que tem uma água superior a 40 graus e fazer algo parecido com a Ferraria, uma mistura de água do mar e água termal”, explicou.
São Miguel não é só Furnas
Cerca de metade das emergências de aproveitamento de águas termais na ilha de São Miguel ocorre na hidropole das Furnas, mas o termalismo na ilha “é mais do que as Furnas.” “Há também pólos termais na Ribeira Grande e nas Sete Cidades. Muitos desses recursos foram usados há décadas e há séculos.”
No Vulcão das Sete Cidades existe um pólo “muito importante” que é a Ferraria.
A Ferraria, no entender do Director Científico do INOVA, “tem uma mais-valia incrível que é um balnear termal que foi sede de tratamentos médicos. Infelizmente, aquela água ainda não está qualificada, do ponto de vista legal, apesar das tentativas que foram feitas. Era muito importante porque a qualificação como água mineral legal, que cura, ajuda na doença é uma mais-valia para essas águas. Não excluiu o uso em Well Being mas acrescenta valor.”
“Esta será uma das maneiras de acrescentar valor à água da Ferraria para além de melhorar os serviços existentes. Tem excesso de tráfego e de pessoas, em época alta, e já houve vários planos para resolver isso: desde o acesso condicionado ou serviço de shuttle bus em época alta. Como foi dito, não temos excesso de visitantes, temos visitantes a mais em alguns locais e em alguns dias do ano. Isto tem de ficar claro.”
O pólo termal da Ribeira Grande
No pólo termal da Ribeira Grande, o potencial “é imenso.” A título de exemplo, João Carlos Nunes deixou quatro áreas seleccionadas onde o recurso já é utilizado ou onde poderia ser utilizado. Temos a Caldeira Velha e as Caldeiras da Ribeira Grande”.
João Carlos Nunes surpreendeu muitos dos presentes quando afirmou que na zona da fábrica da BEL, há um furo que chega a ter 50 graus de temperatura. Aquela água poderia, cumpridos os requisitos legais, ser utilizada para balneologia ou o calor da água poderia ser usado no aquecimento ambiental e de águas quentes sanitárias. O recurso está lá, é preciso avançar,” afirmou.
Para além desta área, existe outra onde está a Central Geotérmica do Pico Vermelho. “Nesta área, tem havido processos de aproveitamento, mas a água tem excesso de arsénio provocando uma dificuldade acrescida para uso directo. Podemos usar a, como já foi feito há uns anos, na reactivação do complexo de estufas que é propriedade do INOVA”.
Na zona das Furnas há duas áreas muito conhecidas. Na zona da Dona Beija, afirmou João Carlos Nunes, “existem outras emergências que poderão ser utilizadas quer em contexto de balneologia quer em termos de banhoterapia.”
Na zona da Serra do Trigo, “quem passa vê logo a existência de fumarolas o que prova que o recurso está lá. Temos de trabalhar naquela área para fazer o aproveitamento. Nessa zona falta muito trabalho de base geológica.”
As Furnas, segundo afirmou, “têm excesso de carga e uma necessidade de diversificar a sua oferta e não concentrar as pessoas nas zonas termais, que são poucas. Também é preciso resolver a questão do ordenamento do trânsito. A questão resolve-se com a criação de parques de estacionamento, uma vez que nas Furnas tudo está a uma distância relativamente curta a pé.”
Frederico Figueiredo