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Os preços das casas em São Miguel está a levar os compradores estrangeiros a investir nas outras ilhas

O mercado imobiliário nos Açores tem vindo a destacar-se pela forte procura internacional, que supera, em alguns casos, os valores nacionais. Segundo os mais recentes dados publicados pelo idealista/data, no trimestre terminado em Outubro de 2024, a ilha de Santa Maria registou uma procura internacional de 58,8%, tornando-se um dos destinos mais procurados pelos estrangeiros que querem comprar casa em Portugal. Este fenómeno reflecte uma tendência que se estende a outras ilhas do arquipélago, impulsionada pela localização privilegiada dos Açores, entre a Europa e os EUA, aliada à percepção de segurança, qualidade de vida e preços de mercado ainda competitivos face a outros destinos, como confirmaram representantes de imobiliárias locais.
O nosso jornal conversou com representantes de três agências imobiliárias nos Açores: Hugo Rego, director da UNU; Miguel Tavares, director da RE/MAX Ilha; e Ricardo Moura, director da ERA Ponta Delgada, que confirmaram esta dinâmica e explicaram os seus impactos no mercado e na população local.
De acordo com Hugo Rego, os Açores beneficiam da sua posição estratégica entre a Europa e os EUA, bem como da percepção de segurança e qualidade de vida. Como afirma, “Acredito que seja por uma questão geográfica, uma vez que estamos entre os EUA e a Europa, aliando a isto o facto de poderem sentir maior segurança e qualidade de vida.” Neste âmbito, Miguel Tavares explica que, apesar da subida dos preços da habitação que acabam por ser muito elevados para os locais, “o valor das casas para os estrangeiros ainda é bastante acessível e penso que é neste sentido que a procura continua a aumentar dentro do mercado estrangeiro,” afirma.
Ricardo Moura, por sua vez, reforça que “os Açores representam a todos os níveis aquilo que a maior parte das pessoas procura num local para viver”, destacando a segurança, a beleza natural e as infra-estruturas criadas na Região. Para além disso, “os preços ainda são acessíveis em comparação com outras cidades europeias e até mesmo americanas, tornando a Região muito apelativa.”
Sobre os impactos da procura internacional para os compradores locais, Hugo Rego destaca que o aumento da procura por parte dos estrangeiros tem “um alto impacto nos preços dos imóveis, pois, da nossa parte, o tipo de cliente estrangeiro que temos apanhado é na sua maioria um cliente com elevada capacidade financeira, o que faz com que os vendedores (proprietários) inflacionem os preços.”
Miguel Tavares acrescenta que, embora os locais ainda mantenham “algum interesse” no mercado, acabam por pagar “um pouco mais” e por procurar “outras localizações – um pouco mais afastadas das zonas centrais – para conseguir algo mais acessível.” Já Ricardo Moura não considera que a procura internacional seja um factor determinante para as dificuldades dos residentes no acesso à habitação: “Apesar de termos mais estrangeiros a comprar casa na Região, elas procuram produtos muito específicos, sobretudo na primeira linha de mar ou em zonas rodeadas de natureza, muitas vezes com valores muito significativos”, afirma.
Quanto ao seu país de origem, os compradores estrangeiros chegam sobretudo dos EUA e Canadá, mas também de países como França e Alemanha, com transacções pontuais envolvendo clientes asiáticos que “procuram sobretudo qualidade de vida e segurança”, como observa Hugo Rego. Miguel Tavares salienta que a maioria dos compradores são reformados ou pessoas de mais idade. E embora ainda não se note uma procura significativa por parte de jovens famílias de estrangeiros, o director da RE/MAX Ilha nota a presença de alguns jovens que compram imóveis para desenvolver projectos turísticos, como alojamentos locais. Ricardo Moura destaca que os Açores atraem clientes de todas as idades, desde recém-licenciados até reformados: “Os Açores são magníficos para diferentes fases da vida, tanto para casais jovens que querem educar os filhos num ambiente seguro como para reformados que procuram desfrutar de uma vida tranquila com um clima ameno”, disse.
Hugo Rego afirma que os estrangeiros “gostam de zonas nos arredores das cidades, apesar de nos últimos meses termos vendido vários imóveis no centro da Vila Franca do Campo, a sua maioria procura em Nordeste, Ginetes, Candelária, Ponta Garça, etc.,” afirma. Ricardo Moura observa que os estrangeiros procuram muito a primeira linha de mar, sejam terrenos, moradias ou apartamentos; e, embora com menos frequência, também existe alguma procura por imóveis no centro histórico,
Miguel Tavares aponta ainda que muitas pessoas que queriam investir em São Miguel começaram a divergir para outras ilhas devido à subida dos preços. No caso específico de Santa Maria, onde a procura superou a média nacional, Miguel Tavares aponta que factores como a dimensão da ilha e a proximidade a São Miguel contribuíram para este fenómeno. “A ilha é pequena, e bastam mais algumas transacções para que note uma subida. Além disso, muitas pessoas que queriam investir em São Miguel verificaram que os preços já são mais elevados e começaram a colocar outras ilhas como hipótese”, explica. Esta tendência também se reflecte noutras ilhas, como o Pico, que viu um aumento expressivo nos preços. “As pessoas já tentam procurar noutros locais, como São Jorge ou Graciosa, o que começa a desenvolver o mercado noutras ilhas”, acrescenta.
Quanto ao futuro deste ramo na Região, Miguel Tavares espera que a procura continue a crescer, especialmente com a manutenção de políticas que incentivem o turismo, como a liberalização do espaço aéreo. Por outro lado, alerta para a necessidade de investimento em habitação social e de custos controlados, algo que considera essencial para equilibrar o mercado.
Ricardo Moura reforça esta perspectiva, sublinhando que uma maior oferta de habitação, disponibilizada de forma significativa e rápida, poderia reduzir a pressão sobre os preços e ajudar a estabilizar o mercado. Considera ainda que o mercado internacional é “uma mais-valia para a Região” pois traz pessoas que “se estabelecem, que contribuem para a economia local e não acredito que seja isso que dificulta a compra de casa,” reforça o director da ERA/ Ponta Delgada. E acrescenta: “Aquilo que é necessário é que, ao abrigo dos PRR, haja uma política de habitação direccionada para a solução desse problema, disponibilizando de uma vez só um elevado número de fracções, nomeadamente em habitação colectiva, por exemplo, apartamentos, disponibilizados em simultâneo em algumas centenas.” Caso contrário, alerta, o mercado continuará a ser marcado por um desequilíbrio entre a oferta e a procura, com mais compradores do que imóveis disponíveis, perpetuando a pressão sobre os preços.
D.C.

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