Correio dos Açores – Tem quatro produtos. Quer explicar um bocadinho deles?
Márcio Nóbrega (enólogo) – Tenho as sidras naturais, que é esta sidra, que é a base da nossa sidra. Depois faço as sidras fumando pelo método clássico que é como se faz o champanhe, tal e qual.
Qual a diferenciação das minhas sidras para o resto? Enquanto na Europa se fazem sidras pela via cervejeira, ou seja, faz-se a fermentação, mete-se-lhe gás e açúcar, os tradicionais Somersby, essas coisas que são mais comerciais, eu faço uma sidra pela via enológica: as nossas sidras são muito próximas dos vinhos, todas as aromas, naturalmente que é feita de maçã, mas em termos de estrutura em termos do processo de fabrico, é tudo pela via enológica. Fazemos os nossos premiums, que têm ganho imensos prémios que são as sidras fortificadas, que era isto o vinho da Madeira falso.
Em 1964 o Governo percebeu do que se andava a fazer e proibiu a fortificação de sidra. O que é que eu fiz? Fiz esta sidra de uma forma ilegal, é a verdade, e fui ao pé do Governo e mostrei-lhes que tinha um produto que era possível fazer com maçã sem uvas, enquanto se fazia antes com uvas e maçã.Então, a lei foi alterada na Assembleia em 2023. A grandeza deste projecto é que eu criei uma nova gama de produto na lista de bebidas do mundo, onde existe a categoria dos whiskeys, do rum…e agora existe uma coisa que se chama sidra fortificada.
Já recebeu vários prémios pela sua sidra. Isso é algo que o motiva a continuar nesta produção?
Claro que sim. O consumo de sidra na Europa está a aumentar 15% ao ano depois do Covid. Há uma mudança geracional, no meu entender, que agora quer coisas menos calóricas e menos alcoólicas. O que é que as nossas sidras têm? As sidras são probióticas todas, são boas para o organismo, têm baixo teoralcoólico:enquanto que um vinho branco tem 13 graus de teor alcoólico, uma sidra tem 8 graus; um copo de vinho tem à volta de 150 calorias, um copo de sidra tem 30 calorias. Só por aí, só pelo aumento do consumo, já vale a pena investir neste projecto.
Também pelo reconhecimento que estamos a ter. Em dois anos ganhamos 14 medalhas nos campeonatos do mundo, muitas delas de ouro outras de prata. A terceira razão principal é que eu estou a recuperar uma identidade que é muito interessante com a nossa cultura madeirense e cultura portuguesa também
Porquê é escolheu os Açores para fazer esta amostra de sidra?
Porque os Açores não têm o hábito e estamos numa altura de novos mercados, eu quero mostrar o meu produto. Quando comecei a fazer a sidra, há dois anos, eu tive que dar metade da nossa produção para as pessoas provarem, porque as pessoas não gostavam de sidra e quando se falava em sidras naturais diziam que “são muito ácidas”, sempre a apontar muitos defeitos. Então tive que dar para mostrar.
Esta parceria com a Wine Concept começa agora e eu preciso lhe mostrar o meu produto. Sei que não há essa cultura aqui nos Açores, mas isso é como tudo. Eu preciso mostrar para que as pessoas gostem… e a sidra está na moda.
E quais são as suas expectativas para logo à noite?
Já estamos com a casa cheia, as pessoas demonstraram interesse pelo produto, mesmo desconhecendo. A capacidade do espaço são 30 pessoas, parece, como dá para ver, que já está cheio.
Não tenho muita expectativa, porque primeiro estou nesta fase em quese estranha e depois preciso de algum tempo para entranhar. Há um ditado antigo que dizia que “one Apple a day keeps the doctor away”. Neste caso é um copo de sidra por dia, mantem o médico à distância.
Frederico Figueiredo