Os cafés, em localidades com populações reduzidas, como os Remédios da Bretanha são pontos de paragem quase obrigatória e de convívio.
Na Freguesia dos Remédios da Bretanha, na estrada regional o Café Beirão é um espaço onde no seu interior poderemos encontrar algumas recordações do passado.
Expostos no seu interior, estão antigos fogareiros, talhões, talhas e, imagine-se uma cabaça. Para quem não sabe, a cabaça era muito cultivada pelo fruto em forma de pêra, de polpa comestível e casca lenhosa.
A cabaça foi, aliás, uma das primeiras plantas cultivadas no mundo, não apenas para uso na alimentação, mas para ser utilizada como um recipiente de água.
Os cafés, em localidades com populações reduzidas, como os Remédios da Bretanha são pontos de paragem quase obrigatória e de convívio. Segundo os censos 2021, os Remédios da Bretanha é uma Freguesia com cerca de 809 habitantes.
Espaço com mais de 40 anos
de existência
Maria, de 60 anos de idade é uma das caras do Café Beirão, que à nossa reportagem disse, que aquele espaço já existe “há mais de 40 anos”. No entanto, há 25 anos, que é proprietária daquele café.
Desde que assumiu as rédeas do negócio, a actividade tem decorrido com altos e baixos. “Este é um negócio, que tem conhecido diferentes fases, umas vezes boas e outras nem por isso”.
Os principais clientes do Café Beirão são, segundo Maria, “a população local”, mas também quem passa pela estrada regional, porque a Freguesia tem uma estrada que liga os Mosteiros a Ponta Delgada e vice-versa. “Muitos turistas param aqui, são muito curiosos e fazem perguntas sobre a Freguesia. Compram, principalmente água, bebem algumas cervejas e sumos, mas também apreciam muito o nosso café”.
Questionada sobre as nacionalidades dos turistas, refere que “este ano foram norte-americanos, alemães, espanhóis, nórdicos, ingleses, franceses e turistas nacionais”.
A família ajuda
O Café Beirão não serve refeições, apenas disponibiliza café, bebidas, aperitivos e bolos. “Não fazemos refeições, porque para isso teríamos de contratar uma colaboradora”.
No entanto, Maria conta com a preciosa ajuda das suas filhas e dos genros, em horário pós-laboral, porque todos eles têm as suas profissões.
O Café Beirão chegou a abrir às 05h00, mas Maria decidiu abrir uma hora mais tarde, às 06h00 e fechar às 20h00, “porque a partir dessa hora já não aparece muita gente por aqui”, relatou.
Maria é natural dos Remédios da Bretanha e diz, que não “há melhor sítio para se viver. Sempre estive aqui e aqui estou, até quando Deus quiser”.
Maria tem nove irmãos, mas porque era a mais velha, ajudava os pais em casa, principal “a lavar roupa”.
“Naquele tempo, as pessoas eram muito mais unidas e as famílias ajudavam-se umas às outras, mas agora é cada um por si e fé em Deus”.
Que o futuro “seja melhor”
A dependência dos telemóveis e as novas tecnologias ajudam a explicar a razão pela qual as pessoas já não interagem como noutros tempos. “A minha infância foi alegre e confraternizava-se mais. Brincávamos às bonecas, às escondidas e às apanhadas, hoje estão todos em casa e já ninguém confraterniza, a não ser quando há festas”.
Em termos de perspectivas para o futuro, Maria só deseja, que “seja melhor do que está e que não venha pior”.
Em termos de reforma, nem sequer quer ouvir falar disso, porque gosta de “estar ocupada”.
Maria tem três filhas, que depois do trabalho vão ali ajudar a mãe, assim como os genros. “Cada um faz o que pode, porque eles têm os seus trabalhos, mas sinto muito orgulho por haver esta união”, finalizou Maria, que também já é avó de dois netos.
Marco Sousa