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“Ser-se Tunídeo é fazer parte de algo mais”, afirma Henrique Carreiro

Correio dos Açores – Como é que os Tunídeos nasceram?
Henrique Carreiro/Pedro Pereira/ Tiago Reis (direcção dos Tunídeos) – O Sérgio Ávila e o Zé Carlos, dois dos nossos fundadores, decidiram, no Verão de 1994, fundar uma tuna. Já havia na altura a TAUA, tuna mista, que foi a primeira turno da casa. Eles decidiram fundar essa tuna começaram entre amigos e, em Novembro 25 de Novembro de 94, fundou-se os Tunídeos. Muitos desses membros dos Tunídeos eram do Chumbaperto, um grupo misto que havia na Universidade, que foi se calhar, o primeiro grupo musical da Universidade. Na altura não havia praxe, não havia nada, era algo entre amigos, digamos. Muito se evoluiu desde, não só nos Tunídeos, mas no mundo das tunas.

E porque decidiram criar uma tuna masculina e não mista?
Foi porque não havia nenhuma tuna masculina cá. Eles já tinham o seu grupo. Acho que uns também afundaram a TAUA um ano de antes e como não havia nenhuma masculina e havia essa necessidade então fundaram. O mote principal para fundar os Tunídeos foi a inovação. A gente procura sempre inovar em tudo aquilo que é feito. Quiseram fazer algo diferente, algo inovador, pelo menos cá na Universidade dos Açores.

O que distingue os Tunídeos das outras tunas da Universidade dos Açores?
Se calhar não cingia só às tunas da casa mas sim às tunas todas do país. Desde o início que um dos pilares era de tocar só originais. Foi uma das coisas que logo de início nos caracterizou e depois, e que se mantém. Temos cerca de 50 originais.
Para além dos originais, uma coisa muito forte e muito característica nossa é os sketches que fazemos em palco. Nenhuma tuna fazia-se tipo de apresentações cénicas na situação. Basicamente, foram estas coisas que mais nos diferenciavam das tunas do país de tudo, masculinas, femininas mistas. Hoje em dia já começamos a ver tunas a integrar a apresentação e alguns sketches. Muitas quando vêm ao ‘El Açor’ já fazem isso e nós mesmos temos um prémio para isso que é a parte de melhor adaptação ao tema.
Somos também uma tuna que não se restringe ao básico do que é ser uma tuna, mesmo em cima do palco. Não temos aquela componente que todas as tunas usam que é estarem trajadas a rigor. A gente tem três trajes: os dois trajes de caloiros mais o traje de Atuno e também não usamos o passe de Tuna que é uma componente usada por praticamente todas as tunas que actuam em cima do palco.
Depois fora do palco também temos diversas componentes que nos distinguem das outras tunas. É o nosso convívio diário, é o querer mais e acima de tudo é o preservar de uma história que, desde sempre, foi trazida até nós.

Que naipes existem dentro de uma Tuna?
Começando da direita para a esquerda do palco, temos a parte da percussão, começando com o bombo, se bem que tem sempre os porta-estandartes nas pontas e os pandeiretas, depois temos as cordas, cavaquinhos, guitarras, ali no meio, sempre no meio, os bandolins. Depois temos, novamente, as cordas até fechar com o contrabaixo.
Já nessa disposição consegue-se ver uma diferença para as outras tunas, principalmente as de norte que têm a percussão no meio.

Quantos CDs é que já têm gravados?
Temos actualmente 4.O primeiro foi o ‘Cardume à solta na Fisgadela, gravado ao vivo em 1997. O segundo, em 2002, ‘Ao vivo e enlatado’ O terceiro novamente ao vivo foi lançado em 2004 e foi das edições 3 e 4 do El Açor. E depois, e é o último, que foi gravado há 11 anos, ‘quem peixe procura, peixe acha’, que foi gravado em estúdio.

Já estão a pensar no próximo CD?
A pensar já estamos há bastante tempo, mas ainda não tivemos tempo de o gravar. Já temos novos originais que irão entrar nesse novo CD, mas para já ainda não temos nada delineado, nem data definida.

O que é que torna os Tunídeos uma tuna tão apelativa?
Desde logo o mote da sua criação: a inovação e a irreverência que também sempre foi característica. Nós não somos iguais como já foi mencionado aqui, iguais aos outros grupos. A gente procura sempre inovar, somos irreverentes naquilo que gente faz. Os outros não fazem, nós fazemos. Não estamos a dizer que somos melhores. O que cativa mais é a nossa actuação. Não só, mas o principal contacto ou o primeiro contacto que pessoas têm com isto são as nossas actuações. Complementamos as actuações com sketches, em actuações, digamos, mais casuais, de rua, não para eventos digamos, mais sérios mas mais casuais. Quando uma pessoa entra numa vida nova, que é a vida académica, e vê um grupo que se distingue dos outros porque estão literalmente em todo o lado e sempre com uma energia, com uma boa disposição diferente dos outros, acho que cativa.

Como funciona a hierarquia dentro da tuna?
Temos os ovas que podemos dizer que são quase com os aspirantes a caloiro. Os Rascassos e os Petingas são os nossos caloiros. Os Rascassos usam um fato castanho e os Petingas usam o traje académico mas de gravata azul clara. Completando a questão do traje, o Atuno, usa a gravata azul escura da universidade e a rede ao peito, que é o que caracteriza o Atuno. Nem sempre foi assim, mas a partir de certa altura adoptou-se esta característica.
Os rascosos são aqueles que estão ali na base da aprendizagem na base da formação de instrumento, de pessoa. É aquele que se calhar tem de ser moldado ao que é a tuna. Há muitos aqui, e isso ultimamente se calhar tem acontecido mais. Há muitos que adoram os Tunídeos, que estão maravilhosos com a tuna, mas não sabem ser Tunídeo. Há uma grande diferença entre gostar e saber ser.
Como referi, no rascasso moldamos e depois quando a gente vê que eles já estão aptos a passar, reunimos os Atunos para ver se passam a Petinga, através de um ritual. Neste ritual, o Rascasso é atirado a água, em condições favoráveis e em ambiente seguro, e depois, ainda tem mais uma prova, tem que ir vestido de mulher na sua próxima actuação. Este ritual normalmente é feito no pesqueiro.
O Petinga já é aquele caloiro com quem temos mais confiança. As tarefas mais simples são dadas ao Rascasso e as mais complexas aos Petingas, porque eles já sabem como é que funciona tudo e como é que as coisas têm de acontecer para estar tudo ótimo. Somos efectivamente, uma tuna que tem praxe. A praxe é boa para haver essa hierarquia e esse respeito, que tem de imperar sempre. Nós estamos aqui, passamos por tudo o que eles estão a passar. E o respeito que eu tive pelos meus Atunos também quero que os calores que venham tenham esse mesmo respeito. E uma vez Atuno, Atuno sempre.
Na passagem de Petinga para Atunos, a Tuna faz uma serenata a uma donzela. Por norma fazem a alguém da família, pode ser mãe, tia, avó, namorada ou uma amiga mais próxima. E depois disto o Petinga é investido a Tuno pelo magister. E a partir daí já pode usar o traje com a gravata azul escura e uma rede ao peito. E gostava de referir que muita da nossa praxe serve para dar sentido de responsabilidade, que estão a contribuir para o grupo.

Há rivalidades entre as tunas da Universidade dos Açores?
Para nós, vamos ser sinceros não há tanta rivalidade. Já houve alturas mas, hoje em dia, as coisas parecem que estão mais calmas, estamos a fazer o nosso trabalho, estamos a fazer o nosso caminho, como sempre fizemos. Não é aquela coisa de sermos os melhores ou os piores, cada um faz o seu trabalho, como acha que deve fazer. Nós achamos que estamos num bom caminho, senão também não continuámos a fazer o trabalho que fazemos todos os dias. A nossa preocupação nunca foi ser melhor que os outros mas sim ser melhor do que nós próprios. É a tal inovação que foi mencionada no início. E acima de tudo o que a gente quer é entreter o público e deixar a melhor imagem possível. A parte dos prémios, claro que é importante e se trabalhamos e ensaiamos mais em alturas de festival é mesmo para isso. Não há que negar claro que queremos trazer prémios para casa. Podemos adiantar que já estamos a preparar o El Açor do próximo ano, que será em Março, sendo já uma imagem de marca nossa.
Uma coisa que eu queria dizer era, as tunas, aqui as dos Açores, as de lá de fora, a pessoal muito mais velho e aguentam muito mais tempo. Aqui as relações são muito rotativas. Os Tunídeos são feitos das pessoas que estão cá, neste momento. É importante frisar isso porque a gente toma decisões não só com base naquilo que se passa internamente mas, há muita coisa por fora que a gente não controla.
Somos uma Tuna muito intergeracional e por exemplo, vamos levar um membro fundador ao próximo festival. E acolhemos sempre todos os que passaram por cá. Sabendo das dificuldades que haviam na altura e trabalharam muito para que este grupo. É muito importante ouvir o que os mais velhos passaram para depois não cometermos os mesmos erros.

Se tivessem que escolher cinco marcos históricos, quais seriam?
O primeiro CD, ‘Cardume à solta na fisgadela’. Segundo marco o ‘El Açor’, em 2000, que foi o culminar de muito tempo preparação para um festival que, se não me engano, nunca tinha acontecido cá, pelo menos festival de cenas masculinas. Depois temos as viagens que fizemos ao México e aos Estados Unidos. São duas viagens internacionais a Depois temos costumes que se calhar são importantes, que são os irmanações com outras tunas. Em 2002, irmanamos com o Transmuntuna, de Trás-os-Montes, e depois em 2016 com a Desertuna, da Beira Interior. Isso como um quarto marco Irmã Nação. Como um quinto marco o lançamento do CD ‘quem peixe procura, peixe acha’. Quem estava cá dentro decidiu e decidiu muito bem a melhor estratégia de marketing. E essa estratégia foi falada em aulas de marketing aqui na universidade. Foi exemplo em aulas de marketing. Acho que são 5 bons marcos aí para referir. Embora tenhamos 23 marcos importantíssimos, que são cada uma das edições do nosso festival.

O que significa ser-se Tunídeo?
Tiago Reis – É espírito de união. Eu estou fora dos outros grupos, mas não vejo isso em mais nenhum outro grupo, pelo menos que eu tenha experienciado. Eu já estive em outros grupos, escolares, futebol… Sei que, por exemplo, daqui a 10, 20, 30 anos, há pessoas que vão saber quem é que eu sou aqui na tuna, e se calhar o pessoal que esteve no grupo quando eu estava na altura vai procurar saber como é que eu estou, se estou bem, se não estou. Para mim é o espírito de união e de entreajuda. E espírito de equipa. Os Tunídeos, apesar de terem feito 30 anos, sentem-se como se estivessem jovens e actuais, procurando sempre inovar naquilo que fazem e naquilo que se comprometem fazer. Eles estão vivos e recomendam-se.
Henrique Carreiro – É fazer parte de algo mais. No meu primeiro ano de tuna tive muita primeira vez. Estive ali numa viagem de Santa Maria, fui à América, depois fui a Braga. Quanto mais te envolves, mais gostas. Nós assumimos enquanto direcção em Maio passado e é 24 horas a pensar na tuna. Ser Tunídeo é uma pele que se veste. Tens a tua família de casa, verdade, sem dúvida mas tu aqui, sem que te apercebas, tu formas outra que tu não estavas à espera. Tu passas na rua trajado, o pessoal aborda-te o pessoal olha para ti e ri-se. Sabem o que estás a representar, a imagem que tu estás a dar é boa para as pessoas. O Lázaro diz uma coisa que é muito verdade: que é há aquele que passou por Tunídeo e há aquele que é Tunídeo. O que passou também é, não deixa de ser, isso sem dúvida, mas há aqueles que vivem isso de forma tão intensa. No ‘El Açor’, chega ali à altura dos aplausos, dá vontade de chorar, fico emocionado. O público todo a aplaudir. É o pertencer a algo que está acima de muita coisa e a Tuna está acima de qualquer um que passe por aqui. Acima de tudo, tu tens experiências que tu não ias ter em lado nenhum. podem-me dizer o que quiserem, mas tu passas por coisas aqui que muitas, pode-se dizer, muitas outras não se pode dizer mas tu passas por coisas indescritíveis.
Pedro Pereira – Ser Tunídeo é uma panóplia de emoções momentos, histórias. É o cúmulo, é o chegar ao ponto de lá está, pôr tuna em cima de qualquer coisa. É o ter orgulho em estar aqui, é o ter orgulho em usar qualquer um dos trajes que a gente tem. E é o envolver-se em tudo. Tanto a nível de música, como a nível de sketch, como a nível de estar na rua, como a nível de estar com pessoas, como a nível de querer animar as pessoas que passam pela nossa universidade e pela nossa cidade e é ser o amigo do amigo, é o querer o bem ao próximo. Embora a hierarquia que haja aqui é o querer que os mais novos cheguem aqui, é o querer ensinar e o querer que eles sejam tão felizes quanto a gente. Hoje somos nós a cara desta tuna, amanhã vão ser eles e a gente quer que sejam eles porque quer que esta tuna exista por muito mais anos. Que estes 30 se repitam infinitamente porque é isso, o ser tunídeo é o querer o bem da tuna e é o querer Que a Tuna fique bem por todos os lados em que passa e que o nome da Tuna seja o melhor nome que haja.

Frederico Figueiredo

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