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Fabiana Godoy apresenta formação “Educação através da música” na ilha de São Miguel

A formadora brasileira Fabiana Godoy apresentou, na ilha de São Miguel, o seu projecto pedagógico “Educação através da música” nos dias 29 e 30 de Novembro, e no dia 2 Dezembro apresentará uma formação direccionada às famílias. “Eu venho para inspirar as pessoas e para transmitir que temos uma ferramenta incrível, maravilhosa e muito poderosa que é a música, e que todos aqueles que têm contacto com crianças precisam de ter essa ferramenta” – afirma a autora e formadora brasileira.

Correio dos Açores – Como tem sido o seu percurso em termos de formação até ao dia de hoje?
Fabiana Godoy (cantora/ pedagoga) – Sou a Fabiana Godoy, brasileira, mãe de quatro filhos. Comecei as pesquisas na área da educação da música na gestação do meu filho – do meu primeiro filho, o Luan – que agora tem 24 anos.
Eu sempre cresci num ambiente muito musical. O meu pai, mesmo não seguindo a profissão, sempre colocou muita música na nossa casa, mas a música para mim era sempre, e como para a maioria das pessoas, vista como algo para entreter, para divertir, para acalmar ouvindo uma música clássica, uma música mais tranquila…, mas não para educar.
Então, fui mergulhando nesse universo no período em que tive o meu filho. Comecei a pesquisar sobre os estímulos musicais, porque na música vê-se muito, como estimula o cérebro, as crianças mais inteligentes. Fui viajando nessas pesquisas e fui entendendo com o meu filho e com as crianças – que eu também já trabalhava com as crianças, com as aulas de musicalização, com as convivências e com as famílias dentro das escolas. Fui vendo que a música também é muito útil para educar e ela pode entrar nesse lugar, porque é como uma linguagem e se comunicarmos com a criança através da música, às vezes fazendo um pedido como “olha, chegou na hora de lavarmos as mãos de guardar os brinquedos” e fazer esse pedido cantando, é muito mais efectivo do que as pessoas somente comunicarem a falar.
Aprofundei-me nessas pesquisas para entender o sentido disto tudo. Surgiu assim o meu livro, “Música – a linguagem das crianças”. Realmente, as crianças compreendem e ficam muito mais envolvidas por uma música do que por uma fala. É muito eficiente para termos essas ferramentas musicais no dia-a-dia, para que possamos educar as crianças e para se comunicar melhor com elas.

E na sua opinião, que importância é que tem que cada vez mais crianças possam ter uma educação melhor e mais saudável?
Eu gosto sempre de voltar um pouco atrás para perceber o que é importante para os bebés que acabaram de chegar a este mundo. Podemos imaginá-los todos confusos, em que são um caos total, eles não conhecem nada, eles não conhecem nada sobre si, não conhecem nada sobre o outro e não conhecem sobre o mundo. E nesse primeiro momento de vida, para eles se conhecerem e se descobrirem, digo que é como se eles fossem conhecer essa nova casa, que é o seu corpo. Eles precisam de muito movimento, eles precisam de espaço para se movimentar, para fortalecer a sua musculatura, para conhecer essa nova casa, e tudo isso ele vai conhecendo através do movimento, através daquilo que pega, através daquilo que toca, através das relações. Ou seja, esse movimento precisa de acontecer, tanto o movimento físico, motor e tudo mais, como também esse movimento da vida, de conhecer esse mundo real, esse mundo tridimensional.
O que se observa hoje em dia, infelizmente são as crianças hipnotizadas e paradas em frente a ecrãs, e isso é um grande mal, porque rouba-se a oportunidade dessa criança, conhecer, movimentar-se, explorar, pesquisar, descobrir-se e descobrir o outro. Quando falo de hipnose em frente de ecrãs, é bem isso mesmo, porque no telemóvel ou na televisão já vem tudo pronto, então o bebé está a assistir a uma criança, ela já tem as cores, a música, a história, as formas e está assim parada, sedentária e não precisa se esforçar para nada. Porém, quando se conta, por exemplo uma história ou se canta uma canção, eles estão lá trabalhando o pensamento, num mundo da fantasia e da imaginação, eles estão imaginando essas personagens, essas histórias. É um exercício desse pensar no futuro que é fundamental e quando abordamos a ideia de um mundo saudável para as crianças e para os bebés, falamos de um mundo verdadeiro, é um mundo onde eles tenham espaço para se movimentar e para se descobrir, num ambiente onde ele vai poder ouvir histórias, músicas, ser afectado com amor, com respeito e, essencialmente, o movimento tem que existir.
Quais são as suas expectativas para a formação que vai acontecer hoje e amanhã? Eu sempre penso: como que eu posso inspirar?
De que modo posso plantar algumas sementinhas para inspirar essas transformações nas pessoas. Daquilo que é realmente importante para a infância e que realmente se está a perder, e quando se fala da música, a verdade é que a música faz parte da nossa essência. Todos nasceram com isso, todos nós já nascemos com musicalidade. O nosso principal instrumento é a nossa voz, o nosso canto, o nosso corpo, e por conta de muitos aparelhos electrónicos, estamos a tirar esta funcionalidade e deixar apenas para o play. Isso é muito mau, porque fica um buraco na humanidade e roubamos às crianças uma oportunidade, que elas têm de levar para o resto da sua vida.
Aqui em Portugal existe aquele ditado que diz “quem canta os seus males espanta”. Eu digo que se possui o alimento físico para o nosso corpo e o alimento para a nossa alma, e a música é esse alimento para a alma, que serve como uma válvula de escape para as emoções, serve para a vida social, serve para relaxar, para entreter.
Eu venho para inspirar as pessoas e para transmitir que temos uma ferramenta incrível, maravilhosa e muito poderosa que é a música, e que todos que têm contacto com crianças precisam de ter essa ferramenta – sem que haja a preocupação de “ser cantor”.

Na Segunda-feira, como referiu, irá haver também formação para as famílias. Que diferenças é que existem entre essas duas formações e depois que importância é que também tem esta formação para as próprias famílias?
Na verdade, a essência é a mesma: essa primeira formação de sexta e sábado para os educadores, para a focarmo-nos mais numa rotina escolar, digamos, no colectivo. Que no colectivo ocorrem determinadas situações e em casa são outras. Por exemplo, no colectivo às vezes tempos crianças que mordem, que são demasiado agitadas e não se consegue harmonizar esse grupo. Já em casa podem existir outras circunstâncias diferentes às do colectivo, mas a essência é a mesma: primeiro vem de uma estrutura de uma rotina- que é fundamental, pois uma criança sem rotina é uma criança sem chão; depois, vêm as músicas. Como falei, tem músicas de brincadeiras, músicas para alegrar, músicas que falam de instrumentos, músicas que falam de sentimentos – por exemplo, a cantiga “calma respira, escuta o seu coração”.
As músicas são muito agitadas, mas a base são as músicas de rotina. São essas músicas que ajudam a estruturar essa rotina e são músicas muito curtas e muito simples, que qualquer um pode cantar. Então, assim, se pensarmos numa família, quando a criança acorda, depois vai lavar as mãos, vai escovar os dentes, vai comer, vai guardar os brinquedos, vai trocar as fraldas… temos de pensar que eles são pequenos, e são essas músicas que entram sempre no mesmo momento do dia e que depois ajudam a criança a se localizar no tempo. Eu comecei por dizer que a criança é confusa, não sabe o é daqui a pouco, o que foi ontem e o que é amanhã, então quando se trabalha com essas canções e quando estas marcam a criança, elas começam a ter previsibilidade de que momento é que está do dia e essa previsibilidade traz uma segurança, traz um conforto, traz uma paz. Ela vai conseguindo ter uma melhor compreensão das coisas e se localizar nesse tempo, o que ajuda muito na auto-regulação emocional, pois às vezes a criança faz muita birra porque ela está sem rotina, ela não sabe nada acerca do mundo e não tem onde se apoiar.
As canções vêm para ajudar. Tenho vindo a observar resultados por cá, como também através dos resultados dos meus alunos do Brasil. Tudo isso traz segurança e calma, que ajuda tudo a fluir melhor e queremos que as crianças estejam bem para fazer o trabalho delas, que é brincar.
É importante haver novas formas de ensinar, neste caso através da música, também para que as crianças possam entender melhor o que se passa entre elas, porque nem todas as crianças entendem o mundo da mesma maneira.
Por isso é que eu falo do “brincar” como o principal trabalho da criança. Temos que nos lembrar que somos seres que pensam, que sentem e que tem um corpo físico. Temos de ter em conta essas três forças, não adianta só desejarmos estimular o pensamento da criança, o cognitivo, e esquecer que é uma criança que sente, que tem um corpo, que precisa também de saúde, precisa ser trabalhada. O que eu vejo na educação hoje em dia é que as pessoas estão muito concentradas e focadas só no cognitivo, porque a criança tem de ser inteligente, porque tem que passar de ano, sempre pensando no que está por vir e esquecendo dessas outras forças.
Então, quando se fala de um ambiente para uma criança saudável é em que a mesma tenha espaço para brincar livremente, estando assim a trabalhar essas três forças. A criança trabalha a sua autoconfiança, do que ela pode e do que ela é capaz de fazer.
Podemos estudar muito, mas não sabemos as particularidades de cada criança, porque cada um é um ser individual. Quando se dá um espaço num ambiente saudável, com móveis, brinquedos, com que ela possa subir, descer, escorregar. Com adultos respeitosos e amorosos, ela vai ter a liberdade nesse brincar livre, nessa motricidade livre. Às vezes a criança está lá a correr, a subir e a descer porque ela precisa de trabalhar esse corpo e o acto de brincar é uma espécie de terapia. Não sabemos exactamente que tipo de terapia é que aquela criança precisa de fazer e nesse sentido confiamos na natureza.
A natureza é muito rica em sentidos diferentes. Por exemplo, se a criança está a brincar na areia, ela está ao sol, a areia está quente e está mais fininha, portanto ela não irá conseguir fazer castelos de areia. A partir daí ela vai aprendendo sobre o mundo, sobre as coisas e sobre as relações passando pelo corpo, para depois ela entender porque que isso funciona.
Fala-se desse protagonismo, desse sentido do “eu posso, eu sou capaz, eu vou fazer o trabalho que eu tenho que fazer, eu confio em mim, eu não sou dependente do outro”. Essa criança que está a tentar subir num tronco e esse equilíbrio que ela está trabalhando para isso, é um equilíbrio emocional que ela procura também, porque as coisas estão conectadas. Ao meter um pé depois do outro quando sobe um tronco, a criança está a trabalhar esse raciocínio.
O que vemos hoje em são as crianças paradas, crianças sentadas, crianças quietas. Temos que construir a criatividade, a autonomia, porque aí a criança vai crescendo e entende que precisa sempre da ajuda do outro e que ela não é capaz de fazer as coisas por si.
Depois num futuro surge sempre um desencaixe das coisas, e pergunta-se ao jovem “o que queres ser”, “o que queres estudar”, “quem és tu”, e a resposta do jovem é “eu não sei”, eu não sei porque eu não tive espaço para me conhecer e para me perceber”.

Em termos de adesão, espera que as formações estejam completamente cheias ou ainda há espaço para inscrições?
Ainda há espaço para as inscrições com as famílias. Essa questão da música com as famílias é muito interessante, porque tem um fortalecimento de vínculo muito forte, que é a base do desenvolvimento saudável. Hoje em dia, os adultos trabalham muito, não é como antigamente em que as mães ficavam mais em casa. A verdade é que andamos todos com a cabeça noutro lugar, correndo atrás de uma coisa que não sabemos bem o quê, e essas crianças estão ali perdidas no meio, e claro, educadas muitas vezes pelas tecnologias. Cria-se um distanciamento de conexão, que é a base.
A criança vai crescer de uma forma segura se ela estiver segura emocionalmente. Se ela estiver confiante de que tem lá um adulto que a ama. Então, quando cantamos para uma criança, é como se ela estivesse recebendo um presente. É muito rico para as famílias e vejo que as famílias que aderem a isso. Elas têm resultados incríveis, porque uma criança que tem essa rotina estruturada com música é uma criança que come melhor, é uma criança mais tranquila, que dorme melhor, que brinca melhor, que se sente mais segura. Em suma, ela desenvolve-se melhor.

Que mensagem gostaria de transmitir a quem estiver ler a entrevista?
Ah, cante! Cante para a criança, porque elas vão se sentir muito bem com isso e é algo que se pode fazer, que não se precisa de comprar, não se precisa de pagar, é algo que faz parte da nossa natureza e da nossa essência.
Não é preciso ter uma voz linda e maravilhosa. Apenas precisamos de estar abertos para isso, é como uma avó que cantava uma cantiga de embalar sem se preocupar com a estética.
Os benefícios são muito…. Então, cante!
Frederico Figueiredo

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