Depois de um momento de introspecção, Mariana Pavão decidiu criar, a um mês do seu aniversário o ‘Gratidão Club’ como forma de poder retribuir o que a vida lhe deu. Deste modo, e através de várias actividades relacionadas com desporto e não só, consegue “criar memórias” com as crianças do Lar da Mãe de Deus. Ao ‘Correio dos Açores’, Mariana Pavão explica o que a levou a criar este clube, que actividades realiza, com que instituições colabora, afirmando “que o efeito gratidão é incrível”.
Correio dos Açores – Como tem sido o seu percurso e o que a levou a criar o ‘Gratidão Club’?
Mariana Pavão (fundadora do Gratidão Club) – Tenho 27 anos e sempre vivi na ilha de São Miguel. Estudei Relações Públicas e Comunicação e tirei um mestrado em Gestão de Turismo Internacional. De momento, trabalho como marketing product owner em duas agências de viagens: Azores Getaways e Portugal Getaways. Trabalho na parte do marketing e comunicação.
O ‘Gratidão Club’ surge de um breve momento de introspecção no dia 10 de Novembro do ano passado, quando faltava exactamente um mês para o meu aniversário – 10 de Dezembro. A minha irmã perguntou o que é que eu queria fazer no meu aniversário e eu comecei a pensar, comecei a fazer uma retrospectiva do ano e percebi que tinha passado muito tempo focada na minha vida, nos meus próprios objectivos e, portanto, gostaria de fazer alguma coisa para retribuir tudo aquilo que a vida já me tinha dado.
Então, pensei em falar com os meus amigos e organizarmos uma recolha, onde cada um dava uma roupa ou bens alimentares e íamos entregar ao Lar da Mãe de Deus. E porquê ao Lar da Mãe de Deus? Precisamente por causa das minhas memórias de infância com a minha irmã: quando eramos pequenas nós íamos com a minha mãe entregar os nossos brinquedos e até ficávamos lá a brincar com as crianças.
Ainda nesse momento de introspecção, rapidamente apercebi-me que eu tinha todos os meios para ir um bocadinho mais além e organizar algumas actividades que levassem as minhas comunidades para dentro do lar. A ideia da organização das actividades sociais teve sempre como ponto de partida as minhas comunidades e, portanto, queria levar as oportunidades que eu tenho no dia-a-dia até estas crianças e jovens. E foi assim: falei com duas, três pessoas do meu dia-a-dia e rapidamente tudo tomou uma proporção que eu não imaginava.
E que tipo de actividades é que o ‘Gratidão Club’ já desenvolveu neste ano de existência?
As actividades são muito centradas no desporto, no bem-estar e na natureza e nos animais. Nós organizamos tudo, desde treinos de artes marciais, passeios a quintas de animais, visitas a observatórios de Santana, passeios turísticos na Lagarta e também já tivemos uma demonstração canina com a PSP. Vamos ver diversos jogos do Santa Clara, jogos de voleibol, aulas de yoga solidárias, workshops de maquilhagem, entre muitas outras coisas.
Costuma contribuir só com o Lar da Mãe de Deus ou contribuiu com outras instituições?
Isto agora é o efeito gratidão que é incrível. O meu foco e o foco do Gratidão Club sempre foi o Lar da Mãe de Deus, onde tudo começou, mas felizmente a ajuda tem sido tanta que tem sido possível trabalhar com outras instituições. Também trabalho com a Casa do Gaiato e com o Patronato de São Miguel.
As actividades de que falou são destinadas a estas três instituições?
Não. Até agora as actividades têm sido apenas para as crianças e os jovens do Lar da Mãe Deus. Em relação às outras instituições, também faço entrega de doações e no Natal também tento suprir alguma necessidade de algum bem de valor superior, como frigorífico computador, desumidificador, etc.
Falando um bocadinho do Natal que é uma época sempre marcante, especialmente para as crianças que estão no lar, para si o que é que faz mais falta às crianças nesta altura do ano?
Eu costumo dizer que os bens materiais não são a parte mais importante do projecto e não são. A parte mais engraçada e mais marcante é, efectivamente, a das actividades, que é onde nós passamos tempo juntos, nos divertimos e criamos memórias. Esta parte do ‘Natal com Gratidão’ é sim o que faz o Natal das crianças.
E que actividades é que têm planeadas para o Natal?
Felizmente, este ano no Gratidão Club nós fomos capazes de organizar algumas actividades recorrentes durante todo o ano, mas agora para o ‘Natal com Gratidão’, e a iniciar já hoje temos o workshop de maquilhagem. Depois também vamos assistir aos jogos do Santa Clara, à gala do Arrifes Kickboxing Club. Temos ainda uma visita à Quinta de Burros ‘Blue Donkey Farm’, ao Parque de Aventura ‘Azul Street-top Park’, uma aula de Muay Thai e uma sessão de cinema.
E que tipo de parcerias é que conseguiu desenvolver de modo a que consiga realizar estas actividades todas?
Felizmente acredito que tenho todas as competências necessárias ao nível do digital e da comunicação para fazer isso acontecer. E acho que é precisamente esta perícia minha que tem permitido que tenhamos alcançado isso tudo porque eu vou simplesmente contactar as pessoas e as empresas. Não há nenhuma fórmula mágica, é mesmo o meu contacto. E claro que, com o crescimento do projecto, acabaram por haver pessoas e entidades que começaram a contactar o Gratidão a oferecer a sua ajuda e a dar sugestões de actividades e tem sido tudo assim feito.
O ‘Gratidão Club’ é composto por quem?
O Gratidão Club sou eu e todos os que me ajudam. Sou só eu, mas felizmente tenho bastante ajuda e este ano posso estar mais descansada.
O Gratidão Club tem um espaço físico?
Não, não tem um espaço físico. E o ‘Gratidão Club’ acontece no meu tempo livre, porque eu tenho o meu trabalho e até tenho um estilo de vida bastante activo. Trabalho, treino, tenho aulas de Muay Thai e faço isso no tempo que tenho livre.
É difícil conciliar o Gratidão Club com o seu trabalho e a sua vida pessoal?
É bastante difícil e também é bastante desafiante. Mas tudo se faz. Felizmente tenho ajuda e também conto com o envolvimento da minha família. É um projecto que acaba por tomar conta da minha vida toda também devido a essa vertente do envolvimento de todas as pessoas que fazem parte da minha vida e, se não fosse assim, não seria possível.
O nome tem alguma razão específica de ser?
Nunca houve qualquer outra opção de nome porque na primeira semana, no ano passado – em que comecei a dar os primeiros passos do projecto e comecei a contactar as pessoas e as entidades – eu fui simplesmente invadida por um sentimento de gratidão. E, portanto, nunca houve outra opção de nome. Foi imediatamente Gratidão Club.
E como é que as pessoas a podem contactar caso queiram fazer algum tipo de doação?
Podem contactar-nos através das nossas redes sociais, o Instagram e o Facebook, essencialmente – é a forma mais fácil que as pessoas têm de nos contactar. Temos também diversos pontos de recolha espalhados pela ilha, mas se as pessoas não se puderem dirigir ou se tiverem algum bem de maior de dimensão, como temos pessoas com algumas caixas, eu organizo-me com os meus ajudantes para irmos ao encontro das pessoas e assim facilitar todo o processo.
Quer deixar alguma mensagem no dia mundial do voluntariado?
Gostaria de agradecer todos os que se têm aliado à causa do ‘Gatidão Club’, que é um projecto solidário que só é possível com o envolvimento de todos. E realmente tem sido um gosto poder encurtar a distância entre as instituições de solidariedade social e, sobretudo, a camada mais jovem da nossa sociedade.
Frederico Figueiredo