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A estratégia da oposição e as dores de cabeça municipais

Talvez aproveitando esta época natalícia, Pedro Nuno Santos decidiu dar mais uma prenda a Luís Montenegro. O exercício é simples e é muito difícil fugir-lhe: o grupo parlamentar do Chega na Assembleia Legislativa da Madeira, apresentou uma moção de censura ao executivo formado pelos sociais-democratas e democratas-cristãos, e o grupo parlamentar dos socialistas votou a favor. Com eles, toda a restante oposição: o deputado liberal, a representante do PAN, os nove representantes do JPP e, naturalmente, os quatro proponentes do partido de André Ventura. Foram públicas as divergências de opinião entre o posicionamento do líder socialista nacional, e a tomada de posição de Paulo Cafôfo, o responsável regional do PS. Vingou a autonomia regional, mas foi aberta uma ferida difícil de cicatrizar.
O maior argumento para que os madeirenses se apresentem novamente a eleições, é o facto de existir um conjunto de membros do executivo, implicados em processos judiciais. Foi esta a principal razão para a apresentação da moção de censura pela direita radical, e foi esse o argumento mais válido que Paulo Cafôfo encontrou para votar ao lado dessa mesma direita que tem fama de ser mal frequentada. Vejamos se esta posição é, de facto, de princípio ou não, ou se é apenas um fundamento circunstancial para promover a queda do executivo, e a realização de novas eleições, depois de em maio «o povo da Madeira», tão bem caracterizado por Alberto João Jardim, ter dado nova maioria, desta vez relativa, ao PSD e a Albuquerque. E tudo leva a crer que a intenção é, apenas, a concretização de novo escrutínio, para conjuntamente com outras forças da oposição, se venha a conhecer outro elenco governativo, com os socialistas a encabeçarem esse movimento. Um pouco como Cafôfo chegou a fazer na autarquia do Funchal.
Esta tomada de posição, derrubando o governo regional saído das eleições de maio, votando ao lado do Chega, parece circunstancial pois o próprio líder regional socialista é arguido. Em resposta à Lusa, cita o Diário de Notícias, «a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirma “a existência de inquérito, dirigido pelo Ministério Público do Departamento de Investigação e Ação Penal Regional de Lisboa e no qual se investigam eventuais crimes de participação económica em negócio, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influências e abuso de poder relacionados com autarquias da Região Autónoma da Madeira”». O líder regional socialista era, na altura, secretário de Estado das Comunidades. Em 2019 já tinha sido constituído arguido no caso da queda da árvore que matou treze pessoas na festa do Monte.
E aqui está um bom argumento de campanha para as eleições que se avizinham, mas para Miguel Albuquerque, ou para outro candidato social-democrata que se apresente. Se a ideia era manter uma cerca sanitária à volta do Chega, como pode o PS outorgar uma moção de censura sua? Ainda mais, derrubando um executivo com poucos meses, democraticamente eleito? Depois do «não é não» de Montenegro, que verdade seja dita não está a ter a sua repercussão nas sondagens, este alinhamento tácito entre o Chega e o PS é uma dor de cabeça para Pedro Nuno Santos difícil, de ignorar. E a fragilidade da razão para a queda do executivo, poderia facilmente ter sido ultrapassada se estivéssemos mais atentos ao percurso de Isaltino. Devíamos ter aprendido mais com Isaltino Morais e com a sua relação com a justiça e a política.
As eleições autárquicas estão aí à porta. Já falta menos de um ano, e há decisões difíceis para tomar. O PCP terá de mudar doze dos seus presidentes de câmara, nas dezanove autarquias que ainda lidera. Poderá, naturalmente, promover a troca de alguns, criando mais paraquedistas ao abrigo da limitação de mandatos. Mas a experiência não tem sido positiva. E o PS, nos Açores, vai ter a repetição do ocaso de há quatro anos, na Praia da Vitória. A agora dissidente Sónia Nicolau irá encabeçar uma lista aos órgãos camarários, sendo certa a permanência de mais quatro anos na oposição, para Francisco César. Com a possibilidade, se achar que tudo isto é música, ficar em terceiro. O poder herdado sabe bem, mas tem tendência a acabar mal. Boas festas!

Por: Fernando Marta

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