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A estratégia de Montenegro começa a florir

Uma pequena nota introdutória: passaram oito horas desde o anúncio de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, e à hora a que revejo estas linhas, o gabinete do primeiro-ministro israelita anuncia o adiamento da decisão. Não são boas notícias para a paz, para o mundo, para a Faixa de Gaza e para os reféns que foram levados a 7 de outubro de 2023. A tomada de posse de Trump pode estar a protelar um desfecho positivo para um conflito que tem dizimado crianças, mulheres e homens maioritariamente inocentes, dos dois lados da barricada.
Passemos agora às coisas menos importantes. O debate político continua a fazer-se pelo país fora, dentro e fora dos parlamentos. Na região, as manhãs dedicadas à apresentação de votos continuam a entreter os vários grupos parlamentares, normalmente votados por unanimidade, e enviados para as entidades implicadas como se estas as considerassem grandes teses a ter em conta, para emoldurar e colocar na parede mais nobre. Não, senhores deputados, na maior parte dos casos as vossas intervenções servem apenas para o elevar da vossa autoestima, e as resmas de louvores que distribuem têm, maioritariamente, o caixote do lixo como destino. Não sou o primeiro a fazer este alerta, mas qualquer açoriano que olhe para o tempo que passam nesse passatempo de louvar e congratular os outros, fica com a clara sensação de que, afinal de contas, se estão a louvar a si mesmos. Enquanto isso, não se faz política, nem se criam as condições legislativas necessárias para executar políticas.
Já no parlamento nacional, as questões ligadas à segurança mantêm-se na ordem do dia. Depois de uma ação policial que serviu como mote, a realização de duas manifestações com propósitos opostos e uma posterior rixa entre imigrantes no mesmo espaço, azedou ainda mais a postura dos litigantes de rua. Com os representantes dos partidos que integram a solução governativa longe das duas manifestações, e quase todos os outros partidos representados numa ou noutra marcha – tenho ideia que a Iniciativa Liberal não participou na contenda – ficaram mais ou menos claras as intenções de cada um. O conflito que teve depois lugar entre estrangeiros naquele reduto, acabou por esticar um pouco mais o debate: o Chega anunciou que estava ali a prova de que muitos imigrantes são sinónimo de aumento da criminalidade. Já o Bloco de Esquerda e os restantes peticionistas, reforçaram que a referida ação das autoridades foi um enorme erro, já que se mantinham exemplos de violência, de que aquela desordem era o exemplo. Nada como torcer argumentos, de forma que eles encaixem nas nossas pretensões.
E entre uns e outros, Luís Montenegro posicionou-se como moderado. Quando corre para um ano de mandato, a estratégia do primeiro-ministro e líder do maior partido de centro-direita, começa a dar os primeiros frutos. Mantendo-se longe das posições do partido de André Ventura, e tentando juntar Pedro Nuno Santos e o seu partido às forças que o apoiaram nos últimos oito anos, o «rural de Espinho» como tão mal etiquetou o presidente da República, começa a ter alguns ganhos de causa nessa tomada de posição. A fragilidade do seu executivo, pela escassa maioria parlamentar existente, tem sabido ser utilizada para aprovar os documentos necessários à execução das políticas públicas – como o são os orçamentos –, reabilitar as funções sociais do Estado deixadas na penumbra, aproveitar os fundos comunitários, que são um enorme empurrão na sua estratégia de mudar o país, abrindo-o mais à iniciativa privada, e retirando o Estado de onde ele não é necessário. Para além da subida nas sondagens que a AD regista, e a consequente diminuição da votação nos socialistas, uma outra quebra é o exemplo do sucesso de Luís Montenegro: o Chega também começa a diminuir a sua atratividade. Isso são boas notícias não apenas para o executivo, mas para o país.
Existem outros sinais que demonstram o alcance das opções do primeiro-ministro. No recente debate quinzenal, o líder da oposição viu-se obrigado a louvar a estratégia económica de Cavaco Silva, nos anos noventa, quando este se debruçou sobre áreas como o têxtil, o calçado, o mobiliário, o vinho ou a cortiça. Admito que estranhei, vindo desta área política, uma menção tão calorosa a elogiar o trabalho do antigo responsável. Este facto político, não deixa, ainda assim, de ser uma demonstração clara da posição de fraqueza com que Pedro Nuno Santos se apresentou ao debate. Querer contrapor às políticas atuais do PSD, o exemplo positivo de quem tem sido violentamente atacado, em todas as circunstâncias possíveis, por parte dos socialistas, parece ter sido um mero aproveitamento político que apenas desqualifica quem o fez.
Duas notas finais sobre a região. Quando o novo diretor regional do Desporto, pessoa honesta, trabalhadora e competente, segundo os que o conhecem, toma posse, ficamos a saber que o seu homónimo da Habitação, Daniel Pavão, «é responsável pelas infrações resultantes dos procedimentos de ajuste direto das empreitadas» em várias freguesias, segundo o TdContas. A coisa não parece boa.

Por: Fernando Marta

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