O Cine-Clube da Ilha Terceira é uma associação cultural, sem fins lucrativos, que oferece o melhor do cinema mundial à comunidade terceirense. Criado em 1977, enfrentou um longo período de recessão, voltando à sua actividade em 2013. O CCIT tem a sua sede no célebre Recreio dos Artistas, levando a este espaço programação diversificada ao longo de todo o ano. Jorge Bruno, Presidente da Direcção do Cine-Clube da Ilha Terceira, afirma que “estamos a manter e a crescer apreciavelmente o número de pessoas que assistem com regularidade às sessões de cinema”.
Correio dos Açores – Como foi o ano de 2024 para o Cine-Clube da Ilha Terceira em termos de adesão e dinamização? A Terceira tem uma boa comunidade de cinéfilos?
Jorge Bruno (Presidente da Direcção do CCIT) – O Cine-Clube da Ilha Terceira (CCIT) é uma associação cultural, sem fins lucrativos, fundada em 1977. Vivenciou uma época de grande actividade nos anos seguintes à sua fundação, após atravessar um longo período de recessão da sua actividade ao ponto de encerrá-la. Em 2013, um grupo de cinéfilos, essencialmente de outra geração, decidiu reactivar o CCIT. É este cine-clube, renovado nos seus associados e com objectivos actuais, que hoje se encontra a dinamizar um projecto cultural no âmbito do cinema na Ilha Terceira. O ano de 2024 continuou a ser mais um ano de consolidação do seu projecto, que tem vindo, ano a ano, a captar o interesse de um maior número de público, tendo em conta fundamentalmente a continuidade das suas actividades. Estamos a manter e a crescer apreciavelmente o número de pessoas que assistem com regularidade às sessões de cinema, o que nos satisfaz e nos permite concluir pela validade dos projectos que oferecemos ao público.
Que projectos desenvolveram ao longo do ano passado?
O projecto cultural, no âmbito do cinema que o Cine-Clube da Ilha Terceira tem implementado , orienta-se pelo objectivo da criação de uma nova literacia cinematográfica e de novos públicos, com especial enfoque nas camadas mais jovens, desde logo concedendo entrada livre nas suas sessões a todos os menores de 18 anos (inclusive), como medida de estimular as camadas juvenis para o cinema de qualidade.
Anunciaram a primeira programação do “O Cinema da Minha Vida” para 2025. Pode explicar o conceito deste programa?
Este é um projecto que pretende oferecer ao público a exibição mensalmente de três filmes de carácter alternativo, que não se encontram no circuito comercial das principais salas de cinema. São filmes geralmente premiados em festivais internacionais, a maioria de produção europeia ou asiática, alguns deles de realizadores emergentes e das mais diversas partes do mundo. Este projecto, iniciado em 2016, tem vindo a fidelizar um número significativo de espectadores que se interessam por filmes alternativos. Ao longo de cada mês, à excepção dos meses de Junho, Julho e Agosto, por serem meses em que concluímos que o público não adere, em virtude das tardes longas e das festas de Verão, que não apelam para ver cinema numa sala.
Deste modo, temos duas temporadas, a 1ª de Janeiro a Maio e a segunda de Setembro a Dezembro.
Este projecto é realizado em parceria com a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, que pretende ter uma oferta cultural no concelho em todos os fins-de-semana ao longo do ano e o CCIT contribuiu para esse objectivo com a exibição destes filmes.
Quais são os objectivos para 2025? O que podemos esperar do Cine-Clube da Ilha Terceira?
Para além do projecto de “O Cinema da Minha Vida”, o CCIT, em 2025 dará continuidade a um outro projecto que designámos “Cine Atlântico”. Este projecto tem como objectivo a realização de uma mostra de cinema português contemporâneo, levada a efeito no último trimestre de cada ano. Iniciado em 2016, este projecto tem permitido contrariar a ideia negativa que ainda pende sobre o Cinema Português e destacar a sua valorização no contexto do cinema europeu, onde frequentemente é galardoado.
Daremos também continuidade à realização da extensão do Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela – Cine’Eco, no primeiro semestre, com a exibição de uma selecção dos documentários premiados e coordenando a sua extensão a todas as ilhas dos Açores, em associação com a Câmara Municipal de Seia e com a colaboração de parceiros locais.
Desenvolveremos, em continuidade dos anos anteriores, o projecto da “Lanterna Mágica”, que consiste na implementação de uma videoteca no espaço da Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro, baseado no programa do Plano Nacional de Cinema, com o objectivo de facilitar o acesso dos mais novos a uma cultura cinematográfica que, habitualmente, não lhes é oferecida, apresentando às crianças diferentes narrativas, assim como fomentando o hábito da ida ao cinema, eventualmente, através da criação de um clube de cinema.
Acresce ainda a disponibilização aos associados da possibilidade de requererem a exibição privada de filmes que constem da filmoteca do CCIT, mediante o pagamento apenas do custo inerente ao serviço de projecção e a possibilidade de requisitarem esses filmes para visualização doméstica. Recentemente lançámos uma biblioteca especializada em cinema, cujos livros passaram a estar disponíveis para empréstimo aos associados. Neste momento, esta biblioteca ainda tem poucos títulos, mas o CCIT está a procurar incrementar aquisições consoante as solicitações dos associados.
Qual é a importância do Cine-Clube da Ilha Terceira e da Recreio dos Artistas para a ilha e Região?
O Cine-Clube da Ilha Terceira representa, quer na Ilha Terceira, quer nos Açores em geral, uma associação de carácter cultural, declarada instituição de Utilidade Pública, com uma actividade regular nos últimos dez anos e uma presença reconhecida na sociedade onde se insere. Em consequência, na área do cinema e na literacia cinematográfica ocupa um lugar de importância e destaque ao nível da Região Autónoma dos Açores, desde logo com actividade em todas as ilhas através da extensão do Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela – Cine’Eco.
A actividade do CCIT é indissociável da Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio dos Artistas, onde é uma instituição residente. Significa isto que o CCIT tem a sua sede nas instalações desta instituição, em Angra do Heroísmo, e é na sua sala de cinema que são exibidos os seus filmes. Esta é uma parceria estratégica para ambas as instituições, porque sem ela o CCIT não teria sala onde pudesse exibir os filmes e a Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio dos Artistas não teria, no âmbito das actividades nas suas instalações, a exibição de cinema, actividade que estava desactivada há anos, mas que permanece na memória de várias gerações (daí o título do projecto “O Cinema da Minha Vida”), tendo sido recuperada através desta importante parceria.
José Henrique Andrade
