O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas congratula-se por mais um ano repleto de actividades e dinâmicas culturais. Porém, o decorrer de um procedimento concursal para uma nova Direcção – que foi iniciado em 2023 – , como também uma série de constrangimentos que levaram à diminuição do número de visitantes, fazem com que 2024 fique na memória como um ano desafiante para a instituição. Para 2025, Ricardo Esperanço, actual Director do Arquipélago, destaca o acolhimento de 4 projectos da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea e a aposta numa programação de carácter musical “para atrair público que habitualmente não se desloca a este espaço”.
Correio dos Açores – Que balanço faz de 2024? Que momentos destaca em termos de programação cultural?
Ricardo Esperanço (Director do Arquipélago) – O ano de 2024, como qualquer novo ano de programação para uma instituição como o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, foi repleto de desafios para a equipa e particular por estar a decorrer um procedimento concursal para a nova Direcção sem que tenha sido ainda concluído. Exigiu um trabalho de equipa e de confiança em cada um de nós para podermos levar a bom porto aquilo que foi construído colectivamente.
Em termos de actividades destaco as exposições “A Work in Progress, Portugal 1973- 2023” do fotógrafo Alfredo Cunha, e o que significou para o Arquipélago naquele momento; “Medeiros Cabral – A Chuva Padrão” pela possibilidade de repensarmos este artista micaelense falecido em 1979 e a oportunidade de acolhermos “Fertile Futures: Laboratório em Itinerância”, a representação oficial de Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza em 2023 (e que ainda se encontra patente até 2 de Março). Destaco estas por serem significativas para o Arquipélago, mas não posso deixar de lado as performances, as actividades em parceria com agentes culturais locais, e que moldaram também o ano 2024.
É desse trabalho conjunto e em parceria que muito se faz e, de facto, o ano anterior foi pródigo em manter projectos de continuidade, como o caso do “Fuso Insular”, promover outros que surgiram destas sinergias, como o “Pluralidades” em conjunto com o Estúdio 13, e produzir um espectáculo, “A História da História”, com a Rodopio d’Ideias Associação.
Quantos visitantes recebeu o Centro de Artes Contemporâneas em 2024? Superou os números de 2023?
Gosto sempre de frisar, quando me questionam sobre números, que a quantidade não revela o esforço que se coloca nas acções nem a qualidade que as actividades têm, mas evidentemente sofremos uma redução por não acolhermos o Festival Tremor (que traz tanta gente a São Miguel e, em particular, à Ribeira Grande), devidos às condições de segurança e de logística do próprio edifício.
Poderá ser estranho mencionar a falta de chuva como factor, mas, de facto, existe um fenómeno observável e pragmático: quando há dias de chuva, todos os espaços fechados, incluindo o Arquipélago, enchem-se de visitantes para escapar à intempérie e ter uma alternativa ao que estava programado.
Creio que não podemos ter medo de falar em números, mas há que planear o futuro e desenhar estratégias para atrair visitantes. Poderá passar por haver uma parceria com a Associação de Guias de Informação Turística dos Açores e a continuar a inscrever o Arquipélago no circuito turístico da Região. Acabam por ser os turistas estrangeiros a visitar em maior número o Centro de Artes e não tanto os turistas nacionais, embora se note, com o passar dos anos, o recrudescimento do número de nacionais que já incluem o Arquipélago como espaço a visitar.
Foi noticiada a ausência de um director artístico e que esse mesmo cargo “está a ser assumido pelo responsável de comunicação”. Poderia contextualizar esta situação? Qual seria a solução para a respectiva problemática?
Não existe um director artístico, propriamente dito, no Arquipélago. Existe um director que simultaneamente agrega a função de director artístico e de gestão. No final de 2023, o anterior Director cessou funções e abriu um procedimento concursal para o substituir. Como é difícil ter uma instituição sem alguém a geri-la e tomar decisões, durante o período do procedimento, houve necessidade de se nomear um director em suplência de entre a equipa do Arquipélago. O cargo recaiu sobre mim por questões meramente formais. À data era uma das pessoas da equipa de comunicação, mas responsável pela mesma, já que a minha colega estava em licença de maternidade. De momento, ainda se aguarda o final deste procedimento concursal.
Que projectos podemos esperar para o presente ano? Quais são os grandes objectivos para 2025?
Este ano traz um novo desafio: o acolhimento de quatro projectos da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, da qual fazemos parte desde 2023. Nesse ano, abriram candidaturas a apoios e concorremos com outras entidades parceiras. Durante 2025 e meados de 2026, é a fase de implementação e execução desses projectos que incluem residências artísticas, exposições temporárias itinerantes, performances, palestras, dias abertos à comunidade. Este ano marca igualmente a década de existência do Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas e a programação reflecte essa tentativa de celebrar e comemorar assim como a necessidade de continuar a abrir este espaço à comunidade. Teremos mais programação relacionada com a música, numa aposta ecléctica e para atrair público que habitualmente não se desloca ao Arquipélago, e estamos a potenciar mais residências artísticas, procurando que estas proporcionem momentos com a comunidade local e se evidencie o trabalho/projecto que está a ser desenvolvido pelo artista.
A missão do Arquipélago passa também por acolher artistas para essas residências de pensamento, trabalho e possível apresentação, e não podemos descurar essa acção. São objectivos maiores, para este ano, comemorar o 10º aniversário do Arquipélago e tornar possível os quatro projectos da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea: “Semeadores”, “Desaguar”, “Lourdes Castro: como uma ilha sobre o mar” e “Isto não é um cubo”.
Como pretende atrair um público maior e mais diversificado ao Arquipélago?
Creio que as respostas anteriores, de alguma maneira, reflectem não só a intenção de atrair público, abrindo o espaço à comunidade com outros eventos a ela direccionados (por convite à comunidade escolar ou um momento aberto à comunidade em geral), mas de diversificar a nossa oferta com programação diferenciada e que possa promover e atrair pessoas que não estão familiarizadas com a arte contemporânea, mas que, por determinada actividade, entram, participam e conhecem o espaço e o trabalho aqui desenvolvido.
Às vezes quando se fala em atracção de público, esquecemo-nos que parte do trabalho tem de ser feito pelo público. Estamos muito habituados a ter informação à mão e de imediato. A participação deve ser activa: a vontade de participar e visitar tem de partir do público à oferta que é dada, mesmo que aparentemente possa parecer uma actividade que seja difícil de compreender à partida. Essa é também uma das tarefas do Arquipélago e concretamente do seu Serviço de Mediação: desconstruir linguagens e aproximar as pessoas da arte contemporânea.
José Henrique Andrade
