Gina Lollobrigida ao retirar-se do cinema tornou-se numa
escultura famosa e Anthony Queens num grande pintor.
O que pensaram ser impossível foi possível.
Quando dava aulas dizia aos meus alunos:«não há́ impossíveis». Portanto, nas minhas aulas, esta palavra não se podia pronunciar. Cheguei ao Turismo e aos meus colaboradores, poucos com espírito burocrático, repetia-lhes: não há́ impossíveis. Assim ensinei a dezenas de alunos e repeti, muitas vezes, aos meus colaboradores. Eles sabiam, que cada vez que apresentava um projeto, não me podiam dizer isto “é impossível”. Evidentemente que não vão desejar ter um avião ou um banco, mas sim realizar iniciativas que possam fazer acreditar nas vossas capacidades e talentos. Todos os seres humanos têm-nas.
Naturalmente que os madeirenses não são diferentes dos outros povos e, portanto, podem realizar os seus sonhos. Antes de mais, têm de acreditar em si próprios, que são capazes. Poder-me-ão dizer que isto são teorias, mas a verdade é que em toda a minha vida, pus em prática o que acabo de vos referir e, logo, posso testemunhar das inúmeras capacidades que possuímos, dos talentos que habitam em nós que desconhecemos.
Quando fui ocupar o lugar de diretor de Relações Públicas do Hotel Sheraton, cuja propriedade era do Comendador Manuel Pestana, pai do Dr. Dionisio Pestana, hoje, com grande orgulho para os madeirenses, o maior hoteleiro de Portugal, decidi que as minhas funções não deviam circunscrever, apenas, aos hóspedes, mas também aos empregados, de todos os departamentos. Pensei que, para iniciar o meu projeto de humanização, o melhor seria organizar um grupo folclórico.
E porquê o grupo folclórico? Por que envolvia os hóspedes e aqueles que lhes prestavam os serviços. A admiração dos primeiros e a satisfação dos segundos. Chamei uma das governantes, uma mulher extraordinária, Alice, que não acreditava nas suas capacidades. Expliquei-lhe, em detalhe, as razões do projeto e as vantagens para o pessoal trabalhador. A sua resposta imediata foi: «É impossível. Não sou capaz». Contrariei-a até ao ponto de a convencer. Nasceu o Grupo Folclórico do Sheraton. A Alice revelou-se um elemento importantíssimo nas futuras iniciativas de animação e até na ajuda da criação de um jornal. O projeto que se seguiu, foi o da demonstração dos talentos dos que serviam nas diferentes secções.
Descobrimos verdadeiros artistas: cozinheiros escultores, empregados de mesas pintores, com quadros espetaculares, empregadas de quartos, verdadeiras artistas na arte de bordar e pintar. Com uma quantidade considerável de trabalhos fizemos exposições fascinantes no Ballroom, com visitas diárias dos hóspedes que muito admiravam os trabalhos, com tanta qualidade e, contavam depois com os empregados, estabelecendo com eles uma relação de simpatia, em muitos casos, de amizade.
Outro projeto com sucesso foi o do teatro. Aí́ descobriu-se o talento de alguns empregados. O chefe de sala, Inácio, bem poderia ter seguido uma carreira teatral, tal era o seu talento e segurança no palco.
Quando fui para o Turismo (Governo Regional), chamei para colaborar comigo, nos programas de animação, a governante do Sheraton, Alice, aquela que se julgava incapaz. Foi um elemento fundamental na criação da animação turística.
O que eu queria demostrar, com estes projetos, é que todos eram importantes dentro daquele “pequeno mundo” onde passávamos grande parte dos nossos dias. Fi-los acreditarem nas suas capacidades e coloquei-lhes o orgulho de serem quem eram, no desempenho das diferentes funções.Internacionalmente, dentro de cadeia Sheraton, tornou-se numa unidade original no que se referia às atividades do pessoal.
Vivi num país, o mais rico em arte, aquele que possui 60 por cento do património artístico do mundo: a Itália, onde os impossíveis são sempre possíveis.
Ali, vivi ilhéu, chegado da ilha, com tantos receios, a nadar num mar imenso, ao lado de tantos outros nadadores: escritores, poetas, teólogos, filósofos, artistas de cinema e de teatro, não podia deixar-me naufrago nesse mar, e aí́ os meus impossíveis tornaram-se possíveis.
No restaurante ‘Final do Século’, no meu gabinete, na Secretaria de Turismo e Cultura, decidi retirar todos os quadros, vindos dos museus e pintar alguns quadros. Qualquer coisa que jamais tinha imaginado, que poderia acontecer na minha vida. Intitulei-os: a loucura das cores no fascínio da poesia. Pinturas abstratas que as diferentes entidades, que ali entravam, ponham-se a adivinhar, através dos traços, o conteúdo dos meus discursos. Era um discurso de alegria e esperança, por entrar no novo século. Estava vivo, era o mais importante.
Tudo isto vem a propósito do gesto de um meu amigo, antigo colaborador no Turismo, Carlos Alberto Silva. Foi Diretor de Turismo da Madeira, quando eu era Secretário, reformou-se e em vez de se deixar cair numa preguiça mental, meteu-se a descobrir os seus talentos. Ele dominava já́ o inglês, o francês e um pouco de alemão. Comprou uma gramática de italiano e com a ajuda da internet, passou a falar fluentemente este novo idioma. Não satisfeito, pelo mesmo sistema, aprendeu o sueco. Mas o mais surpreendente é que, em criança, sendo inábil para o desenho, revelou-se um retratista, a lápis, de grande talento.
Esta sexta-feira, de um ano que começa sob o signo de tantas incertezas, telefonou-me e perguntou-me se estava em casa. Respondi-lhe que não, mas que em 10 minutos estaria.
«Esperarei, por si, tenho algo para lhe oferecer.», disse.
Cheguei a casa, lá estava ele com um saco nas mãos. Disse-me:
«Isto é para si, João Carlos. O senhor ensinou-me que não há́ impossíveis na vida».
Tiro do saco um quadro enorme, surpreendido digo:
«Não é possível, mas este sou eu! Perfeito!» Abraço-o comovido.
«Como vê̂, há́ possíveis!»
Pensei com persistência: descobrimos sempre que há́, dentro de cada ser humano, um mundo surpreendente de capacidades e talentos. Ainda a propósito disto, uma das minhas antigas colaboradoras no Turismo, Graça Luís, uma excelente promotora da Madeira, a quem devemos estar gratos pelo seu trabalho, inscreveu-se nas aulas de piano, nunca pretendeu ser pianista, mas sim ocupar saudavelmente o seu tempo, para não cair em depressões, como aconteceu com muitos dos meus amigos que se reformaram e não têm objetivos, por isso, acabam refugiados no silêncio e na droga dos comprimidos.
Queridos leitores, acreditem: Não há́ impossíveis.
Por: João Carlos Abreu